Publicado no Vá de Bike.
Muito nos entristece que tanta gente, até mesmo em veículos de imprensa de grande influência, veja as ciclovias da capital paulista como propaganda do PT, o partido do atual prefeito da cidade, ou diga que as ciclovias são “de Haddad”, em vez de serem de São Paulo ou dos paulistanos. E isso já tem aumentado as agressões a ciclistas dentro e fora das ciclovias, como já havíamos comentado aqui no Vá de Bike em dezembro do ano passado.
Os relatos de amigos e leitores só aumentam – em frequência e agressividade. Nesse fim de semana, em pleno Dia Internacional da Mulher, a amiga Mariana Boff foi atropelada por um ônibus, que passou perto o suficiente para bater em seu guidão e arrastar a bicicleta com as rodas do veículo, que pesa toneladas. Por sorte, muita sorte, ela não teve o mesmo destino da bicicleta, mas se machucou muito com a queda, a ponto de sofrer um corte grande nas costas. As fotos dos ferimentos foram postadas em sua página no Facebook. A placa do ônibus foi fotografada por outra ciclista que estava no local e Mariana tomará providências legais.
Recentemente, a leitora Carla Moraes relatou que uma motorista que estava com o carro sobre a ciclovia, esperando o sinal abrir, tentou atropelar propositalmente ela e outra garota ao sair, acelerando contra elas. Por sorte, ambas estão bem. Com diversas testemunhas para apoiá-la, Carla fez Boletim de Ocorrência e já descobriu o nome da motorista, dando início aos procedimentos legais.
Outra leitora, Dani Gracia, relatou na última sexta-feira que um motorista jogou o carro para cima dela, que se desequilibrou, caiu e teve vários ferimentos. Ela tinha acabado de levar a filha para a escola, na cadeirinha da bicicleta, e por sorte a criança não estava mais com ela. “Pede para o prefeito pintar a rua de vermelho”, justificou o homem que dirigia o carro. E que foi embora rindo, sem ajudá-la. Infelizmente, Dani não conseguiu anotar a placa e esse motorista ficará impune, até que seus atos tenham consequências piores.
E o empresário Marco Gomes publicou na semana passada um vídeo em que um motorista o prensa propositalmente contra outro carro, pouco depois de fechá-lo, quase causando um acidente grave por duas vezes seguidas. O vídeo você vê no final deste texto.
Vidas em jogo
As ciclovias são construídas para proteger a vida das pessoas que se deslocam de bicicleta, ou que pretendem fazê-lo mas ainda não se sentem seguras. E elas atendem a uma demanda histórica dos ciclistas paulistanos, principalmente no caso da Avenida Paulista.
Se seguem um modelo adequado de implantação ou se há falhas, isso pode e deve ser discutido, mas resumir a questão a uma disputa partidária, ainda que em tom de desabafo, leva todos nós a perder. Principalmente com as agressões que os ciclistas já têm sofrido nas ruas, por conta de motoristas que acreditam que usar a bicicleta é apoiar o partido do prefeito e que isso, por si só, justificaria uma punição em forma de fechada, fina, ameaça de atropelamento ou até derrubar o ciclista de fato, sem se importar com as consequências. Porque, afinal, ele estava merecendo mesmo.
Menos, gente! Por favor. Pessoas em bicicletas são só isso: pessoas. Com amigos, pais, maridos, esposas, filhos e amores esperando para revê-los e, pasmem: com preferências políticas variadas! Entrar nesse discurso de que as ciclovias são um mal para a cidade ou que são pura propaganda política inflama as pessoas de má índole, que passam a ver cada bicicleta na rua como um insulto, uma provocação, quase um crime, fazendo com que se sintam justos e vingadores ao cometer essas agressões – que podem, inclusive, causar mortes ou sequelas para o resto da vida.
Pense nisso.
Texto original: DCM
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