terça-feira, 25 de agosto de 2015

Por que a direita saiu do armário?

Essas manifestações são a prova mais eloquente que os governos do PT não amaciaram a luta de classes, mas a acirraram.

por Emir Sader em 23/08/2015 às 07:46


Quando se usa essa expressão, não se está querendo dizer que ela estivesse escondida até recentemente. A direita, na era neoliberal, no Brasil, é representada pelos tucanos e seus aliados e sempre esteve ocupando o campo político como alternativa aos governos do PT.
 
O que há de novo é a consolidação de um setor de extrema direita na classe média, que teria colocado recentemente as manguinhas pra fora, constituindo-se no fator novo no cenário politico nacional. E que parece que veio para ficar.
 
Sem discutir a tese da Marilena Chauí – que esse setor insiste em confirmar – de que a classe média seria fascista, é inegável que pelo menos um setor dela assume teses fascistas e o faz da maneira mais escancarada, quase como um clichê, pelos slogans que exibe, pela atitude agressiva e discriminatória, pelo racismo, pelo antiesquerdismo, pelo anticomunismo.
 
Mas por que agora, há 12 anos do começo dos governos do PT, essa ultra direita sai do armário? Onde estava ela? Por que resolveu sair agora do armário?
 
Essas manifestações são a prova mais eloquente que os governos do PT não amaciaram a luta de classes, mas a acirraram. Caso os governos do PT fossem apenas uma variante do neoliberalismo – como algumas atitudes sectárias, que não conhecem o país e não sabem das profundas transformações operadas no Brasil desde 2003 – a direita só poderia estar satisfeita, teria que estar comemorando a cooptação de um PT tão expressivo do campo popular – o mais importante de toda a trajetória da esquerda brasileira -, para o seu campo. Menos ainda teria por que se empenhar com todas suas forças para tirar o PT do governo e tentar desqualificar o Lula, para inviabilizar seu retorno à presidência.
 
Só mesmo porque sentiram que seus interesses estavam sendo afetados, que já não dispunham do governo a seu bel prazer e correm o risco de ver este período se estender muito mais, com uma eventual volta do Lula à presidência, é que a direita saiu do armário e passou a exibir sua cara de ultra direita. 
 
De que forma esses interesses foram afetados? Em primeiro lugar, na prioridade das políticas sociais e na extensão do mercado interno de consumo de massas, com a distribuição de renda que acompanhou a retomada do desenvolvimento econômico. Se interrompeu a política econômica implantada por Collor e continuada por FHC. Seu fracasso abriu os espaços para governos que romperam com eixos fundamentais do neoliberalismo, em primeiro lugar, a prioridade dos ajustes fiscais e a centralidade do mercado.
 
Em segundo lugar, pela ruptura com o projeto da Área de Livre Comércio das Américas – ALCA -, levado a cabo pelos EUA, em complacência com o governo de FHC, que deu lugar ao fortalecimento dos processos de integração regional, do Mercosul à Celac, passando pela Unasul. Um processo que inclui os estratégicos projetos dos Brics, em que o Brasil tem papel chave, e que desenha um mundo multipolar na contramão dos projetos norteamericanos.
 
Em terceiro lugar, porque a centralidade do mercado deu lugar a espaços para a recuperação da capacidade de ação do Estado, tanto como indutor do crescimento econômico, como da afirmação dos direitos sociais e como ator nos processos de soberania externa.
 
A já clássica frase de que “os aeroportos estão virando rodoviárias” segue sendo a mais significativa da reação de setores da classe média à ascensão de amplos setores populares. Afora exacerbada, desde a Copa do Mundo, em que a vaia à Dilma foi como que a abertura da porteira da falta de qualquer respeito por parte de setores da direita.
 
A campanha eleitoral do ano passado foi um aquecimento em relação ao que se vive agora. Tanto Aécio quanto a mídia, exacerbaram sua linguagem e suas formas de atacar o governo, gerando a ideia de que tudo tinha se tornada insuportável, não apenas a situação das classes privilegiadas, mas o próprio país, pela corrupção e pela suposta incompetência do governo. Pela primeira vez na história do país um candidato a presidente triunfou nas eleições contra praticamente a totalidade do grande empresariado – confirmando como estes consideram que seus interesses fundamentais são afetados profundamente pelos govenos do PT.
 
Para os que nunca aceitaram que os governos do PT tenham sido qualitativamente diferentes dos governos neoliberais, tudo isso é incompreensível. Na sua incapacidade de apreender a realidade concreta, tem que culpar o PT por tudo. Até pela direita ter saído do armário, usado por alguns para atribuir também aí a culpa ao PT.
 
Por isso a ultra esquerda não conseguiu, ao longo destes 12 anos – nem no Brasil, nem nos países com governos posneoliberais na América Latina -, construir uma alternativa e esta está sempre situada à direita dos governos do PT. Porque acredita que o os governos do PT são neoliberais, a ultra esquerda não compreende a realidade do Brasil hoje e não consegue construir raízes no seio do povo.
 
O PT é responsável pela saída da direita – e da ultra direita – do armário, porque afetou profundamente os seus interesses.


Texto original: CARTA MAIOR



quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Manifestações contra o golpe


A MANIFESTAÇÃO QUE A TV SERGIPE E TV ATALAIA NÃO VIRAM E NÃO NOTICIARAM!!!!!!
Posted by Carlos Geografia on Quinta, 20 de agosto de 2015

AFAGANDO CÉRBERO - A OPOSIÇÃO E O IMPONDERÁVEL.


(Jornal do Brasil ) - Talvez influenciado pelo fato de estar sendo entrevistado por uma publicação estrangeira - em certos países e organismos multilaterais se conhece bem os avanços alcançados pelo Brasil nos últimos anos - o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, para a revista alemã Kapital, que a Presidente Dilma Roussef é "honrada", e que o ex-presidente Lula é um líder "popular" cuja prisão, caso viesse a acontecer, poderia dividir o país. 

Foi o que bastou para que fosse imediatamente execrado pela parcela da opinião pública que ocupa, destilando bílis, os sites e portais mais reacionários - para dizer o mínimo - da internet brasileira. 

O que importa, não é saber - embora torçamos para que isso tenha ocorrido - se FHC foi sincero em suas considerações sobre a Presidente Dilma, e, sim, prestar atenção à verdadeira avalanche de estupidez que suscitaram suas palavras.

"Doido", "senil", "demente", "gagá", "caduco", "bipolar" - odioso, preconceituoso e covarde, o fascismo despreza e confunde a idade com fraqueza e costuma ser particularmente impiedoso com os mais velhos, as mulheres e as crianças - "doente de Alzheimer", e o já tradicional apelo do "morre de uma vez" (como fez o "sutil" internauta que atende por Paulo Votan, acima, no print que precede este texto) foram alguns dos epítetos lançados pela malta nos grandes portais da internet, contra o ex-presidente da República. 

Outros o acusaram de "pateta", "traidor", "idiota", "maconheiro", "THC"- lembrando sua defesa da descriminalização da Cannabis - e de "cara de pau", "sem-vergonha", e ladrão - acusando-o de estar "roubando também", ou de já ter se encontrado secretamente com Lula para conchavos.

E os mais "espertos", a serviço da nefasta "via alternativa", que espreita, como hiena, nos meandros da história, os países que se rendem aos que fomentam o caos e a cizânia, preferiram, como sempre, aproveitar a oportunidade para intensificar os ataques contra a democracia - "político é tudo lixo", "farinha do mesmo saco"; defender a violência: "é preciso amarrar a boca do saco", "matar todo mundo a paulada" e "jogar o saco no rio"; e propagar a teoria - esse é "esquerda caviar", "comunista enrustido" - da conspiração, segundo a qual PT e PSDB representariam, na verdade, duas faces da mesma moeda, da "tática da tesoura stalinista", de disfarçar parte da esquerda como direita; tomariam parte da estratégia de conquista da hegemonia, por meios pacíficos e "gramscianos", do poder, e atuariam seguindo os padrões do "marxismo cultural", como fantasiam, e pregam certas correntes da imbecilidade neo-direitista antinacional. Tudo isso coroado pelos pedidos de instalação no país de nova ditadura - agora com caráter "policial-jurídico-militar" - e os indefectíveis slogans da campanha - que já está no ar há muito tempo - de BOLSONARO 2018 para a Presidência da República.

Na página do ex-capitão do Exército, no Facebook, por exemplo - que, significativamente, já tem mais de 3 vezes o número de curtidas (1.5 milhão contra 450.000) que a página oficial de FHC, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso aparece como defensor das drogas ao lado do ex-presidente uruguaio José Mujica, em contraponto ao próprio Deputado Bolsonaro, que se destaca, convenientemente, à direita, ao lado da figura do Presidente da Indonésia - país que pune o tráfico com a pena de morte - Joko Vidodo (que é, na verdade, um fabricante e exportador de móveis) em uniforme militar. 

Em outras páginas - e cabeças - aparecem, como se fosse normal, propostas de que urnas eletrônicas passem a emitir recibo; de leis antiterroristas - para se emular gringos - de que se apresente o CPF antes de entrar na internet; de se identificar e eliminar, no nascimento, no futuro, bebês que tenham propensão criminosa; de se substituir o povo por "Deus" no parágrafo único do Artigo Primeiro, que define a fonte do poder do Estado no texto constitucional; de se punir com até 3 meses de prisão professores que abordem assuntos políticos na sala de aula; de se submeter as decisões do Supremo Tribunal Federal a igrejas, depois de já se ter aprovado a isenção de impostos para "repasses" a pastores, como se, em pleno século XXI, tivéssemos entrado em uma máquina que nos teletransportasse para um hospício, ou, de volta, no tempo, para mais ou menos 100 anos atrás.

Enquanto o setor de óleo e gás - de alta tecnologia - corre o risco de desmantelamento, a indústria naval é destruída, com o fechamento de vários estaleiros, a indústria de defesa se desarticula, com seus principais projetos sendo ameaçados, e as maiores empresas do Brasil são arrebentadas, milhares de seus fornecedores quebram, e se pretende impor a elas multas absurdas de bilhões de reais - para que não sobre pedra sobre pedra - eliminando-se milhares de empregos, brasileiros que fazem questão de ignorar que ainda somos - apesar de tudo - a oitava economia do mundo e o terceiro maior credor individual externo dos Estados Unidos, e que o nosso desemprego é de um terço de países como a Espanha, e nossa inflação a metade do que era há pouco mais que uma década, comemoram em grupos como o Direitas Já, Direita Brasil, Direita Conservadora, Direita Realista, Direita Política, Tradutores de Direita, Direita Forte, Rede da Direita Nacional, Canal de Direita, Professores de Direita, Direita Atual, Direita Ocidental, Extrema Direita Nacionalista Brasileira, Linhas Direitas, Jovens de Direita, Militantes de Direita, Garotas Direitas, Sou de Direita, Extrema-Direita, Direita Unida, Direita Única, Direita Blindada, Direita Conservadora, Direita Brasil, Rua Direita, Direita Nacional Brasileira, Vem pra Direita Brasil, Skins Direitista (sic) e dezenas de outras comunidades menores, os problemas do país, torcendo, muitas vezes abertamente, pela derrocada da Nação, a quebra do Estado de Direito e a inviabilização da economia e da governabilidade. 

É principalmente quado o tufão se aproxima, que é preciso escutar a voz da razão. 

A reação - nos dois sentidos - contra as declarações de Fernando Henrique Cardoso na internet é apenas a ponta do iceberg de um quadro claro, para o qual os setores mais influentes da sociedade brasileira ainda não acordaram - ou só estão começando - talvez tardiamente - a atentar. 


O PSDB corre grandes riscos se não souber corrigir o rumo de sua nau em meio à tempestade que ele mesmo ajudou a conjurar, e mesmo com o risco de perder o mandato, já existe quem esteja, como a Senadora Lúcia Vânia, de Goiás, tomando a decisão de abandonar esse barco no meio do caminho, alegando não acreditar em uma "oposição movida a ódio", e fazendo apelo a mais "equilíbrio e sensatez", diante da gravíssima situação política que está sendo enfrentada pelo país.

Ao embarcar na "direitização" da classe média, e endossar, de forma atravessada, indireta, e, eventualmente, interesseira, o discurso da exageração da crise, da criminalização dos políticos, da judicialização da política, e da repetição da irresponsável e continua multiplicação, à estratosfera, de cifras (da ordem de dezenas, centenas, de bilhões de reais) em pseudo prejuízos da corrupção que não correspondem aos fatos nem às provas efetivamente, inequivocamente, colhidas até agora, o PSDB - deixando-se seduzir pelas perspectivas do caos - está brincando de afagar as cabeças de Cérbero - o cão mitológico que guarda a saída - e a entrada de Hades - na ante-sala do inferno.
Mais importante do que se haverá ou não impeachment, do ponto de vista histórico, é o Brasil que ficará desse processo. 

A História avança em ciclos, e entre eles há aqueles que, depois de iniciados, dificilmente são detidos, e que cobram pesados tributos em atraso e em sangue, antes de que venham a se encerrar. 
É preciso que as lideranças do PSDB percebam - e há outras personalidades na legenda que foram lembradas - e muitas vezes virulentamente criticadas - nos ataques contra FHC na semana passada - que o imponderável é - por sua própria natureza - incontrolável e voraz. E que, ao abrir a porta para o desconhecido, o PSDB poderá não voltar ao poder em 2018. 

Pelo contrário. 

Existe uma grande chance de que venha a entregar o país - ou boa parte dele - ao fascismo. E de que venha a ser vitimado, mais cedo do que tarde, pelo fascismo, como ocorre com o PT.

Texto original: MAURO SANTAYANA

terça-feira, 18 de agosto de 2015

A micareta deprimida do impeachment

Por Cláudio Gonzalez

Seria normal, em uma democracia, que a presença de centenas de milhares de pessoas nas ruas pedindo o impeachment de um presidente da República gerasse, no dia seguinte, rumores sobre a iminente queda do governo e comemorações efusivas dos líderes das jornadas de protesto sobre o “sucesso” da mobilização. Mas não é isso que estamos vendo neste 17 de agosto de 2015. Pelo contrário: nas entrelinhas dos editoriais da grande imprensa e na média da opinião dos comentaristas de política existe uma clara percepção de que o movimento pelo impeachment, apesar de ainda ser grande e barulhento, perdeu o viço, desmilinguiu-se, gerando uma situação aparentemente contraditória: o alvo dos protestos parece estar menos incomodado com o resultado das manifestações do que aqueles que convocaram as pessoas às ruas.

A seguir, arrisco alguns palpites sobre as razões para este suposto contrassenso:

Perda do poder de contágio

As manifestações deste último domingo, 16 de agosto, mostraram que ao invés de ganhar adesão de setores populares descontentes com o governo, o movimento Fora Dilma sofreu uma debandada. Ainda que as redes sociais já sinalizassem o que estaria na avenida, manifestantes menos engajados ou aqueles com algum histórico de ativismo na esquerda ficaram assustados com as cenas explícitas de elitismo, agressividade, conservadorismo e mesmo de maluquice e ignorância da primeira manifestação. Pularam fora e passaram a acompanhar o Fla-Flu político à distância. 

De março para cá, mesmo com a corrosão da popularidade do governo, nenhum novo movimento social relevante aderiu às marchas pelo impeachment. Apenas a oposição de direita resolveu escancarar sua adesão aos protestos, gerando um efeito contrário ao pretendido: agora, além de direitista, o movimento também recebe a pecha de partidário, afastando os descontentes com o governo que são refratários a políticos e partidos. Tanto nas redes quanto nas ruas ficou nítido que os protestos de ontem ficaram restritos a um perfil muito específico de manifestante.

Perfil elitista e discurso de ódio

Ao analisar o perfil médio das 135 mil pessoas que ocuparam ontem a Avenida Paulista, o Datafolha transformou em dados estatísticos o que já se via a olho nu: homens, brancos de classe média-alta e ideologicamente identificados com a direita compõem o modelito básico dos manifestantes. Mas o Datafolha traz uma novidade: 70% deles tem mais de 36 anos, sendo que 40% já passaram dos 50 anos. Não é preciso ser estatístico ou sociólogo para saber que a esmagadora maioria da população brasileira não se encaixa nem se identifica com este perfil. 

Some-se a isso as cenas repugnantes de gente pedindo a morte dos comunistas e hostilizando com violência física quem pensa diferente; declamando ignorância política e desconhecimento histórico; vociferando machismo e preconceitos de todo tipo; menosprezando os mais pobres; glorificando torturadores e figuras execráveis de extrema-direita; gesticulando saudações nazistas e apoiando uma intervenção militar. Tudo isso e mais um pouco forma um retrato bastante perturbador do que passa pela cabeça desta gente. E é justamente este perfil que torna quase impossível a adesão de setores populares às manifestações de rua pelo impeachment.

Ausência de bandeiras populares

Não é só o perfil dos manifestantes que restringe o alcance do movimento. A completa ausência de bandeiras que acenem para a melhoria das condições de vida dos brasileiros também conspira contra a neodireita que agora ocupa as ruas. Em 2013, as grandes jornadas de protestos tiveram como pano de fundo reivindicações por mais e melhores serviços públicos e, com isso, angariaram o apoio de amplas massas, sobretudo entre a juventude. 

Já o movimento Fora Dilma convoca o povo às ruas tremulando uma única bandeira: a do antipetismo e, com base nela, pedem o impeachment, agora transfigurado (talvez por reconhecimento da correlação de forças desfavorável) em um patético e risível clamor pela renúncia da presidente. Educação, saúde, transporte, cultura, direitos trabalhistas, respeito à diversidade? Nenhuma dessas pautas comparece nas manifestações. Mesmo o discurso contra a corrupção oferecido à imprensa mostra-se falso, como veremos adiante.

Pauta sem futuro 

Além de não ter outra pauta que não seja o antipetismo, o movimento Fora Dilma, por sua própria contradição interna, também não oferece perspectivas de futuro na arena política. Ainda que a ampla maioria dos manifestantes se declare eleitores de Aécio Neves, nem mesmo a entrega do poder aos tucanos surge como alternativa para os líderes do movimento. O que fazer se Dilma deixar o governo? Qual agenda de mudanças deve ser defendida? Quem deve compor o eventual novo governo? 

São perguntas para as quais a maioria dos manifestantes não tem resposta. Assim, sem oferecer pistas sobre o futuro, o movimento Fora Dilma perde-se num imediatismo inconsequente, irresponsável e sem propósito. E, mais uma vez, afasta para longe das ruas a turma que pensa e usa o bom senso, mesmo estando de mal com o governo. 

Conluio com políticos corruptos 

Quem acompanha a imprensa internacional pode ficar com a impressão que as manifestações de março, abril e agosto são uma demonstração cabal do “saco cheio” dos brasileiros com a corrupção. Mas como explicar para quem vê a coisa de fora que esta mesma turma que grita nas ruas e nas redes contra a corrupção apoia o financiamento privado de campanhas eleitorais –considerado por dez entre dez analistas como a raiz da corrupção política no Brasil – e escale como principal aliado o presidente da Câmara dos Deputados, denunciado no processo da Lava Jato por receber US$ 5 milhões de propina e que é visto e sabido nos meios políticos como um corrupto notório? 

A comunhão com outras figuras tão nebulosas e enroscadas em escândalos quanto Eduardo Cunha, como os senadores Ronaldo Caiado, Agripino Maia, Aloysio Nunes e Aécio Neves, escancara a indignação seletiva dos manifestantes e torna ridículo o discurso pela “ética” que as lideranças do movimento oferecem para a plateia. Na prática, estão dizendo que corrupção é tolerável desde que seja praticada por quem os apoia.

Ridicularização dos protestos pelas redes sociais 

Apesar da cumplicidade da grande mídia, esse lodaçal de contradições e excrecências não escapa do olhar arguto de uma parte muito influente da sociedade: os internautas e ativistas de redes sociais. Os três principais grupos à frente das manifestações (Vem Pra Rua, Revoltados Online e Movimento Brasil Livre) nasceram e cresceram na internet. Sua influência nas redes sociais ainda é muito forte, mas o extremismo de suas ideias e o paradoxo de seus atos estão os deixando isolados. 

O fato da hashtag #CarnaCoxinha (usada para desqualificar e ridicularizar as manifestações de ontem) ter alcançado o primeiro lugar entre as palavras mais comentadas no Twitter no Brasil e o segundo lugar no mundo - enquanto nenhuma tag contra Dilma apareceu sequer entre as dez mais - revela que a direita está perdendo o controle da narrativa sobre os protestos antigoverno. Muitos analistas políticos afirmam que a consolidação de um discurso no ambiente virtual tende a se refletir no mundo real a médio prazo. 

Eis mais um motivo que ajuda a entender o enfraquecimento gradativo do movimento Fora Dilma. Alguns colegas jornalistas que estiveram nas ruas ontem por dever de ofício relatam que não apenas o número de pessoas nas ruas caiu, mas também o ânimo dos manifestantes está baixo. Não se viu nos protestos de ontem a mesma empolgação dos atos anteriores. Apesar do caráter carnavalesco do protesto - reforçado por dancinhas, fantasias, bonecões e trios elétricos - a micareta direitista apresentava muitos foliões visivelmente cabisbaixos e incomodados. 

Isso se deve em boa parte à ridicularização e péssima repercussão das manifestações nas redes sociais. Ninguém se sente motivado a ir para as ruas se este gesto não for reconhecido como algo a favor do país e da sociedade. Não se deve duvidar que boa parte, talvez a maioria dos manifestantes anti-Dilma, carrega, ainda que por vias tortas, um sentimento genuíno de estar fazendo algo bom. Mas uma boa parte deles, sobretudo suas lideranças, joga deliberadamente no time do quanto pior melhor, de forma dissimulada, irresponsável e perigosa. Já que a mídia empresarial, envolvida ela também com o golpe, não cumpre seu papel de denunciar o discurso de ódio e os excessos e descaminhos antidemocráticos da manifestação, os ativistas das redes sociais estão assumindo esta tarefa.

O governo reagiu timidamente, mas reagiu 

Por fim, é preciso registrar que se as manifestações não conseguiram colocar o governo nas cordas - e a de ontem configurou-se, no máximo, num embate chocho - a explicação não está apenas na pouca força demonstrada pelo desafiante à direita, de calção verde-amarelo. O governo também soube se esquivar. Tropeçou, tomou alguns cruzados constrangedores de direita, sangrou, perdeu uma das luvas, o calção vermelho rasgou, o sparring foi ameaçado, mas o pugilista conseguiu ficar de pé. 

Ao buscar diálogo e apoio em setores menos incendiários da arena política, sair da toca, mostrar-se disposta a ouvir críticas à esquerda e também (para o bem e para o mal) curvar-se a interesses empresariais, a presidenta Dilma evitou ser nocauteada por mais uma jornada de protestos. Resta saber se ela terá apoio, disposição e esperteza política suficiente para aguentar firme até o último round. O gongo final está programado para soar apenas em dezembro de 2018. Até lá, como dizem por aí, há muita luta pela frente. E ela deve ser travada sem menosprezar o adversário mas também sem subestimar nossa vontade e capacidade de vencê-lo.

* Cláudio Gonzalez é jornalista, editor-executivo da revista Princípios.

Texto original: BLOG DO MIRO

sábado, 8 de agosto de 2015

Brasil é o terceiro país mais atrativo para investimentos estrangeiros

Executivos ouvidos em pesquisa afirmam que atual cenário econômico é passageiro e apostam na solidez das instituições brasileiras


Rede Brasil Atual

São Paulo – O Brasil é um dos três países mais atrativos para investimentos, ficando atrás apenas da China e da Índia, segundo pesquisa realizada com 300 executivos norte-americanos e europeus e asiáticos. O levantamento foi feito pela KPMG, uma rede global de firmas independentes que prestam serviços de auditoria, com atuação em mais de 150 países.

De acordo com Augusto Salles, sócio da KPMG, os investidores estrangeiros olham o momento atual da economia brasileira como passageiro e consideram as instituições nacionais fortes, na comparação com outros países emergentes, que também enfrentam desafios domésticos.

Confira a reportagem do Seu Jornal, da TVT:


Texto original:CARTA MAIOR

Resultado da Petrobrás é superior ao da BP, Chevron e Exxon

Mesmo em um cenário de instabilidade, a estatal brasileira conseguiu elevar sua produção de petróleo e gás natural em 9%.


FUP.org.br

A Petrobrás divulgou na noite desta quinta-feira, 06, os resultados operacionais e financeiros do segundo trimestre, registrando um lucro líquido de R$ 531 milhões e R$ 9,5 bilhões de lucro operacional. Levando em conta todo o primeiro semestre de 2015, a estatal alcançou um lucro líquido de R$ 5,8 bilhões e um lucro operacional de R$ 22,8 bilhões.

Apesar do lucro líquido da Petrobrás neste semestre ter sido 43% inferior ao do mesmo período de 2014, se comparado com outras grandes empresas petrolíferas, ainda assim, a estatal brasileira ficou à frente da britânica BP, cujo lucro despencou em 144%, e das norte-americanas Chevron e Exxon Mobil, que apresentaram redução de 69% e 49%, respectivamente.
A queda acentuada dos preços do barril de petróleo tem sido um dos principais fatores da grave crise que afeta a indústria mundial de petróleo. No caso da Petrobrás, soma-se a isso a variação cambial. No entanto, mesmo neste cenário de instabilidade, a estatal brasileira conseguiu elevar sua produção de petróleo e gás natural em 9%, chegando à marca de 2,784 milhões de barris por dia. Somente no pré-sal, a produção atingiu em junho o recorde de 747 mil barris por dia.
Integração é o grande trunfo da Petrobrás
Os resultados operacionais, que há décadas vêm impactando positivamente os números da Petrobrás, reforçam a importância de se preservar a companhia como uma empresa integrada de energia. Além de ter elevado a produção de petróleo e gás, a estatal manteve sua produção de derivados em cerca de 2 milhões de barris por dia, aumentou a geração de energia elétrica em 15% e continua sendo a líder do mercado nacional de distribuição de derivados, através da BR.
O fato da Petrobrás atuar em diferentes segmentos do setor energético foi fundamental para reduzir os efeitos perversos da crise que atinge a indústria de petróleo em todo o mundo e também para continuar cumprindo o seu papel de uma empresa comprometida com a soberania energética do país. A integração, portanto, é um grande trunfo não só para a empresa, mas, principalmente, para o povo brasileiro, cujas conquistas sociais estão diretamente relacionadas aos investimentos e empregos impulsionados pela estatal nos últimos anos.
Preservar a Petrobrás como uma empresa integrada de energia deve ser compromisso de todos os trabalhadores. A FUP e seus sindicatos continuarão na luta para barrar a venda de ativos e manter a estatal como operadora única do pré-sal.

Texto original: CARTA MAIOR

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Merval, a bomba e a bolinha de papel


Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br/
De uma coisa Merval Pereira, apaniguado dos Marinhos, não pode ser acusado: coerência.

No infame episódio do Atentado da Bolinha de Papel, ele publicou imediatamente um artigo em que chamava a atenção para a gravidade do episódio.

A bolinha de papel, no texto de Merval, era um “artefato”.

Isso foi na campanha de 2010. Serra, no desespero por estar atrás nas pesquisas, levou uma bolinha de papel na cabeça e tentou transformar o episódio num atentado.

A mídia amiga ajudou-o na farsa, e Merval deu sua contribuição milionária.

Vejamos agora como Merval enxerga o atentado contra o Instituto Lula.

Não é nada, é claro.

“O buraquinho na porta de metal da garagem do prédio é tão ridículo que, se não soubéssemos que foi provocado por uma bomba, poderíamos achar que um motorista desastrado causou a mossa ao realizar uma manobra de marcha à ré.”

É um trecho do artigo deste domingo de Merval no Globo.

Viralizou, na internet, como símbolo de um tipo de jornalismo vergonhoso, patronal e canalha.

A indignação com Merval não se restringe a petistas. Qualquer pessoa com algum discernimento – me incluo aí – tem vontade de vomitar lendo Merval, ainda mais se confrontar a bolinha de papel de 2010 com a bomba de 2015.

Que marcas o “artefato” deixou em Serra? Chegou a ser engraçado ver Serra, depois de alguns minutos andando normalmente em seguida ao “atentado”, simular dor e levar mãos à cabeça.

A simulação veio depois de um telefonema. A hipótese mais provável é que a turma de marketing de Serra recomendou-lhe a farsa.

A mídia amplificaria o episódio e, se colasse, colou.

Merval fez sua parte. A TV Globo também. Um perito amigo chegou a ser convocado pela Globo para comprovar que era um “artefato”.

E sejamos justos. Se era um “buraquinho” na porta do instituto, na cabeça de Serra não era rigorosamente nada.

Não havia marca nenhuma. E em alguém desprovido de cabelos como Serra, não é preciso muita coisa para deixar alguma impressão.

A opinião de Merval não seria um grande problema não fossem duas coisas.

Primeiro, ela reflete a opinião dos Marinhos. Você quer saber o que os Marinhos pensam a respeito de qualquer assunto? É só ler Merval.

Participei por dois anos e meio do Conselho Editorial da Globo, e nas reuniões semanais me impressionava ver Merval e Ali Kamel duelarem pelo posto de quem concordava mais como João Roberto Marinho.

Segundo, a voz de Merval se espalha por diversas mídias, beneficiada pela falta de uma legislação que regule a imprensa e impeça monopólio, concentração e concorrência desleal.

Merval – e os Marinhos através dele – tem à disposição jornal, rádio, tevê aberta, tevê fechada e internet.

Merval espalhou por todas essas mídias suas considerações sobre a gravidade do “artefato” contra Serra.

E agora ele faz o mesmo para reduzir a nada o artefato de verdade.

A internet vai acabar com a Globo como a conhecemos, felizmente. Já está acabando, aliás, como se vê nos índices de audiência da tevê.

Mas o ritmo do declínio certamente será mais rápido por causa da conduta repulsiva da Globo, tão bem representada por Merval agora, em 2010 – e sempre.


Replicado de : BLOG DO ALTAMIRO BORGES