CIbele Buoro
Créditos da foto: Consórcio PCJ
Texto original: CARTA MAIOR
Desde o início do ano, as ações da Sabesp já despencaram mais de 26%, uma das maiores baixas. "Se o PT vencer em São Paulo será desastroso para a Sabesp", diz o analista da Lopes Filho & Associados, Consultores de Investimentos, situada no Rio de Janeiro, Alexandre Montes.
As explicações para a resistência à decretação do racionamento pelo governo do Estado e a opção pelo uso do volume morto residem justamente na estratégia política para garantir a permanência de Alckmin frente ao governo do Estado de São Paulo. "Alckmin é uma liderança pró-mercado e, se o PT vencer, isso pode mudar e os negócios da Sabesp correrão riscos, como por exemplo, o que tem acontecido com a Eletrobrás (referindo-se aos descontos nas tarifas de energia elétrica decretados pelo governo federal), que amargou prejuízos de treze bilhões de reais”.
Sobre o governo "pró-mercado", diz Montes: "É o governo que administra os negócios de modo a garantir a máxima riqueza aos acionistas". Na avalição de Montes, o governo Alckmin erra ao não decretar o racionamento. "A irresponsabilidade não está no falta de investimento por parte da Sabesp, e sim, em não decretar o racionamento que já deveria estar em andamento. Há a necessidade do racionamento que não é feito por razões políticas", diz o analista, que chama de "catastrófico" o fato de os reservatórios estarem abaixo de 10% de suas capacidades.
"O que está em jogo é o Estado de São Paulo. O PT ganhou as três eleições presidenciais de modo muito fácil, mas não consegue ganhar na capital paulista", continua o analista. "Não haverá racionamento antes das eleições, o que é uma enorme irresponsabilidade. A Sabesp vai usar o volume morto para que tenha água até as eleições". Sobre as perspectivas de mais quedas nas ações, o analista diz: "Quanto cai mais eu não sei, a tendência é de queda, mas não deve ser muito, já caiu bastante". E conclui: "Racionamento não é o problema, o problema é o PT assumir, que é um risco para a Sabesp".
O outro lado negócio, segundo o ambientalista e coordenador do instituto Campinas Que Queremos, José Furtado, é a Sabesp ter como compromisso o fornecimento de um bem essencial à vida e não de um simples bem de consumo com reflexos na bolsa de valores. "Estamos falando de vida, de saúde, de direito da população ao serviço de água para o qual a empresa foi contratada. Além de todo o prejuízo direto que a sociedade terá de arcar, há os indiretos, uma vez que indústrias terão de reduzir a produção, as demissões decorrentes, o aumento do preço dos alimentos que terá produção reduzida, enfim, problemas sociais que vão muito além do banho de caneca".
Região do PCJ exige que São Paulo reduza sua dependência do Cantareira
Helio Rubens Figueiredo é assessor da presidente da Sabesp, Dilma Pena. Em entrevista para Carta Maior, no dia 25 de abril, durante o Manifesto Salve o Cantareira, Figueiredo foi questionado sobre a cobrança por parte dos municípios que integram a região do PCJ para que a Sabesp reduza sua dependência de retirada de água do Sistema Cantareira. Sua resposta foi: "Os 31 m3 que saem daqui são fundamentais para o abastecimento de São Paulo". "Não há como reduzir, portanto?", insiste a reportagem. "Não há como reduzir. São Paulo tem uma disponibilidade hídrica de 200 m3, a ONU recomenda que o básico razoável 1.500 m3 por habitante ano. A situação da região metropolitana é crítica, embora a situação do PCJ também seja".
A Grande São Paulo é abastecida pelo Sistema Cantareira desde 2004, quando a Sabesp obteve autorização por meio da Portaria nº 1213, de 6 de agosto de 2004, do DAEE do Estado de São Paulo, para transposição das águas das Bacias PCJ, pelo prazo de 10 anos. O prazo expirava em 6 de agosto de 2014. Por razão da crise hídrica e do calendário eleitoral envolvendo a disputa pela água, o Consórcio PCJ aguarda documento oficial da ANA e DAEE confirmando a transferência da renovação da outorga para 6 de agosto de 2015.
Antes da crise hídrica que acomete o sudeste, o Cantareira vinha contribuindo com o fornecimento de aproximadamente 33 m3 por segundo para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), garantindo água para quase 9 milhões de pessoas nas zonas norte, central, parte da leste e oeste da Capital e nos municípios de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Guarulhos (parte), Osasco, Carapicuíba, Barueri (parte), Taboão da Serra (parte), Santo André (parte) e São Caetano do Sul.
Se a renovação da outorga ocorrer de fato em 2015, Figueiredo já adianta que não há como abrir mão dos 31 m3 e nem redução da dependência do Cantareira. "São Paulo precisa dessa água. Hoje existe uma sintonia fina entre o que é produzido de água na região metropolitana e o que é consumido pela população. Se reduzir essa oferta uma parte da população ficará sem água".
O executivo da Sabesp explica que, no estudo da macro metrópole encomendado pelo governo do Estado, foi detectado quais seriam as áreas possíveis para construção de reservatórios. "Todas as áreas estão ocupadas com reservatórios. A Sabesp tem um conjunto de reservatórios dentro da região metropolitana que é responsável por minimizar o problema crítico de abastecimento". Ressalta Figueiredo: "Não existe mais área nenhuma em São Paulo onde se possa ampliar o abastecimento, tanto é que o novo projeto é trazer água do Vale do Ribeira, a mais de 100 km de São Paulo a um custo altíssimo".
Áreas de mananciais invadidos por ocupações irregulares, esgoto, lixo. Por não preservar seus rios, São Paulo tem buscado água de lugares cada vez mais distante. E terá de ser assim, a RMSP não tem alternativa mesmo, confirma o professor da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp e membro do grupo de pesquisa do Cantareira, José Teixeira Filho. Explica ele que São Paulo não protege seus mananciais e tem dificuldade em controlar a ocupação da região. "Veja o caso do Guarapiranga. São Paulo tem uma demanda enorme por área e as invasões vão continuar a ocorrer e, por outro lado, o custo para atender a população com oferta de água é alto e exige muita infraestrutura".
Buscar água de regiões cada vez mais distantes é a única carta na manga da RMSP. "São Paulo não tem alternativa desde 2004 e de lá para cá nada foi proposto para reduzir a dependência do Cantareira e nem há projetos de longo prazo para isso", ressalta Teixeira Filho, que acrescenta: "não foram feitos investimentos para aumentar a oferta hídrica. A água não está na pauta de prioridades do governo do Estado de São Paulo quando deveria ser prioridade".
No evento da SANASA, em meados de abril, em Campinas, o presidente da ANA, Andreu, alertou sobre a incapacidade das concessionárias de água de cuidarem dos mananciais. "As empresas de saneamento, na minha opinião, estão no limite da prestação do serviço. É impressionante que as empresas de saneamento, durante a votação do Código Florestal, tenham se aliado ao setor ruralista no sentido de que poderiam acabar com as Áreas de Proteção Ambiental. Uma APP é um bom lugar para se fazer uma estação de tratamento e adutora".
Texto original: CARTA MAIOR
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