sexta-feira, 11 de abril de 2014

Perseguição a Dirceu garante a Barbosa últimos dias de fama

Dirceu foi absolvido do crime de formação de quadrilha, mas sobra a obsessão: continuar a perseguir o inimigo número 1 da grande imprensa.

Lincoln Secco, para o Viomundo

Não basta julgar sem provas, é preciso condenar. Não basta o regime semiaberto, ao qual o apenado tem direito certo, é preciso protelar. Agora, um juiz de Brasília encaminhou ao presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, o pedido do Ministério Público do DF para investigar um suposto telefonema recebido por José Dirceu no presídio.

A razão nada oculta disso é bem sabida. José Dirceu foi absolvido do crime de formação de quadrilha e isto derruba, por extensão, a tese do domínio do fato. Aquela mesma que dizia que mesmo não sabendo “ele tinha que saber”. Uma revisão criminal da condenação por corrupção ativa deveria ser o próximo ato da encenação iniciada em 2005.

Judas
Por outro lado, Barbosa perdeu a serventia para os que lhe deitam os holofotes e lhe acalentaram o sonho da presidência da República. As candidaturas da direita já foram definidas e ninguém mais precisa da partidarização explícita do STF. Até porque o julgamento de Azeredo um dia poderia chegar lá.

Abandonado pelos amigos, Barbosa sente-se numa via crúcis, vendido por Judas. Diante da perda de prestígio, ofereceram-lhe uma vaga na Câmara ou (quem sabe?) no senado em incerta votação. É pouco para um “Cristo” que nasceu na manjedoura. A reação previsível é insurgir-se contra o que ele vê como abrandamento das condenações da ação penal 470. Ataca os colegas de toga, critica a imprensa, e ninguém mais o leva a sério. Afinal, ele mesmo já foi visto por Lula no papel de Judas.

Sobra a obsessão: perseguir o inimigo número 1 da grande imprensa, José Dirceu. Só a continuidade da perseguição lhe garante os derradeiros dias de fama. É simples assim.

E o PT?
Para a esquerda em geral, resta saber que a teoria do domínio do fato pode se tornar um perigo para a Democracia. Daí porque é importante derrubá-la numa revisão criminal do caso de Dirceu. Que antigos companheiros (embora não todos) prefiram abandonar Dirceu é compreensível. Judas fez o mesmo por bem menos: 30 moedas.

Os que estão no poder acreditam-se protegidos pelas amizades de ocasião e a volta do líder significaria um incômodo rearranjo de forças internas no PT. Mas também não poupam energias em inventar uma nova lei “contra o terrorismo”, cujo melhor efeito será o de um tiro no pé. Judas, como sabemos, agora é Ministro da Justiça dos homens.

O sábado de Aleluia
Mas os que estão embaixo já deveriam ter aprendido. Durante um debate na USP no dia 31 de março (corretamente chamado “Às vésperas do golpe”), entre as muitas arbitrariedades da repressão, os representantes dos Advogados Ativistas denunciaram que, recentemente, em Porto Alegre, ocorreu o indiciamento de seis militantes que participaram de protestos no ano passado. O mais surpreendente é que, na impossibilidade de provar o vínculo dos acusados com atos de depredação, o inquérito buscou sustentação na tese do “domínio do fato”…

Ao fim do citado debate, os jovens organizadores saíram ao pátio, chutaram e queimaram um boneco representando um General da Ditadura.

Lincoln Secco é professor de História Contemporânea na Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas e Letras da USP.

Texto original: CARTA MAIOR

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