David Bollero/Público.es
Os Estados Unidos anseiam isolar a Rússia. Ficou muito distante aquela promessa de Bush (pai) a ao Gorvachov de não se mover nem um milímetro ao leste dos milites da OTAN. Clinton abriu uma brecha em 1997 ao fazer novos aliados como Hungria, Polônia ou a República Tcheca. Sete anos mais tarde, somaram-se a eles os antigos países satélites soviéticos (Lituânia, Letônia e Estônia) e, já em 2007, foram seguidos pela Croácia e pela Albânia. A continuação do muro russo da OTAN tem agora como alvo as antigas repúblicas soviéticas, e a Ucrânia exerce papel de protagonista nesta geoestratégia.
Como já é habitual, o papel da União Europeia nesta conjuntura é o de aplaudidor de Obama. Assim, a UE não hesitou, inclusive, em apoiar grupos neonazistas para derrocar o governo anterior ucraniano, que havia sido democraticamente eleito. Posteriormente, Bruxelas também não questionou ao apoiar as sanções econômicas à Rússia. E tudo o que for necessário para estar ao lado do amigo norte-americano.
Agora, Putin move suas peças e impõe um veto às importações de bens perecíveis procedentes de mercados como o da UE e dos EUA. Em Washington, qualificam o impacto de tal medida como “insignificante”. Uma insignificância que, para o mercado norte-americano, supõe uma perda de aproximadamente 813 milhões de euros. Eles têm razão: essa cifra é insignificante comparada aos mais de 5,7 bilhões de euros em perdas que esse veto supõe para a UE.
Onde estão agora os EUA? Por que não apoiam a UE diante deste panorama tão pessimista? E, o mais preocupante, por que os aplaudidores de Bruxelas continuam bajulando a Administração Obama, apesar de serem tratados como sócios de se usar e jogar fora? Com um descaramento grotesco, algumas vozes se atrevem a assegurar que o grande prejudicado com o veto de Putin é o próprio povo russo, que verá como a escassez de alimentos faz os preços subirem e gera problemas de desabastecimento. Um erro.
Não são apenas os produtores russos que verão seus lucros crescerem ao contribuírem em maior medida com o mercado interno. Na América do Sul, alguns já estão esfregando suas mãos com o relevante aumento que suas exportações terá. Estes países têm o ano todo para se fazerem com o mercado russo, ganhando sua confiança a ponto de, uma vez levantado o veto, quem voltará a precisar dos produtores da UE?
Para a Espanha, ainda que Rajoy acredite que o veto seja “uma espora”, para os produtores, representa um revés de 440 milhões de euros... 40 milhões a mais do que o instrumento de reserva da PAC (Política Agrária Comum) para aliviar a situação em toda a Europa. Em outras palavras, os fundos de reserva não alcançam nem 10% de todas as perdas da União, que volta a se mover em ritmo lendo, enquanto os produtores assistem ao estrago de suas colheitas. Talvez estejam preocupados demais contemplando as conquistas de Obama no Iraque...
E como diz o ditado, em águas tumultuadas é que os pescadores ganham... ou os urubus, porque as grandes cadeias de distribuição, supermercados que se colocam como exemplo de modelo empresarial, arrocham os produtores espanhóis um pouco mais o do que o habitual, comprando deles, por poucas moedas, o excedente com o qual se deparam após o veto russo. Em troca, vendem ao mesmo preço. Vamos, que estão fazendo seu agosto à custa de todos.
Lembrem-se da próxima vez que sentirem orgulho por esse empresariado espanhol que encheu os bairros de supermercados: da mesma forma que rouba os peixes dos saharauis, agora se aproveita da desgraça dos agricultores espanhois.
Tradução: Daniella Cambaúva
Texto original : CARTA MAIOR
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