terça-feira, 24 de novembro de 2015

No Brasil, a pedagogia dos crimes das mineradoras não sensibiliza governos nem parlamentares

publicado em 24 de novembro de 2015 às 00:19


Os crimes socioambientais e a pedagogia da catástrofe
fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Desde a década de 70 está em gestação o esboço de um pacto em torno da defesa do planeta Terra, tido como um patrimônio comum da humanidade. Ao menos, esse é o discurso consensual corrente, embora não haja uma compreensão coesa do que seja realmente a “defesa da natureza”.
Todavia, a marca pública dos debates ecológicos é a denúncia da degradação que o ser humano impôs à água, ao ar e à terra. O sentimento mais presente nos discursos ecológicos é o medo. Não sem razão.
Os exemplos são terríveis: as catástrofes das indústrias químicas, como em Seveso, o gás mortífero da fábrica Icmesa, na Itália, em 1976; o gás tóxico de Bhopal, na Índia, em 1984; a poluição do rio Reno pelo incêndio da fábrica da Sandoz na Basileia, na Suíça, em 1986; a doença de Minamata, no Japão, por intoxicação de mercúrio da fábrica Chisso, que lançava dejetos desde 1930 na baía de Minamata – o primeiro caso humano diagnosticado ocorreu em 1956, mas morreram cerca de 2.000 pessoas, e as sequeladas são incontáveis!
Não ficam atrás os casos das indústrias petrolíferas: marés pretas da Bretanha, do Alasca, do Rio de Janeiro (2000), na Espanha (2002), no golfo do México (2010) etc. O incêndio por vazamento de gasolina na Vila Socó, em Cubatão, em São Paulo (1984), que oficialmente resultou em 93 mortes, mas há estimativas de que foram mais de 500.
As catástrofes das fábricas e os artefatos nucleares são de grande vulto: a bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, no Japão; Three Miles Island, em 1979, nos Estados Unidos; Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, ex-URSS; o césio de Goiânia, em 1987; e Fukushima, em 2011, no Japão. Como se isso não bastasse, há o justo temor de catástrofes biológicas, via armas biológicas “bioengenheiradas”.
Mas eis que em 5 de novembro passado, por volta das 16h, o povoado de Bento Rodrigues, em Mariana, foi soterrado pela não inócua lama tóxica – rejeitos de mineração – após o rompimento das barragens do Fundão e Santarém, da mineradora Samarco, de propriedade da anglo-australiana BHP Billiton e da Vale, ex-Vale do Rio Doce…
O povoado de Barreto, em Barra Longa, também foi soterrado, sem mortes humanas, mas perdeu escolas, pontes, estradas e casas. Bento Rodrigues contava mais de 200 anos, mas agora acabou! Sete mortes foram confirmadas, 12 pessoas estão desaparecidas e os impactos socioambientais são incomensuráveis.
Rompimento de barragens de mineradoras em Minas Gerais não é novidade: em Nova Lima, cinco operários morreram (2001); Cataguases (2003); Rio Pomba (2007); e Itabirito (2014), na qual três operários morreram e cinco ficaram feridos. Porém, os governos de Minas e os brasileiros foram incapazes de beber na “pedagogia da catástrofe” – constatação do ecologista suíço René Longet, que diz que Seveso “mudou a visão da opinião pública a respeito da indústria química, passando a considerá-la potencialmente perigosa”.
Texto original: VIOMUNDO

2 comentários:

  1. Os governos federal e estadual não tomaram as medidas imediatas, nem se manifestaram como deveriam perante o rompimento da represa de lama tóxica em Mariana/MG, tão pouco a prefeitura do município teve preocupação de mostrar ao País o que aconteceu. Foi um grave que matou poucos pessoas, destruiu muitas casas do distrito de Bento Rodrigues, mas o pior aconteceu com o meio ambiente por onde a lama tóxica passou, matou a vida biológica do rio Claro e de suas margens, atingindo o rio Doce, matando toneladas de peixes e a vida biológica deste rio tão importante que banha muitos municípios que ficaram sem água potável. A mineradora Samarco foi a grande respnsável pelo rompimento das represas de lama tóxica pelo processo selvagem de extração e depuração do minério de ferro que gera enorme quantidade lama. Além do exagerado consumo de água que mistura com terra e rochas da mina, esta empresa não desenvolveu um processo de drenagem da lama, tratamento da água e armazenagem dos rejeitos minerais.
    O pior aconteceu por culpa da Samarco que exagerou nas quantidades de lama, não teve o cuidado de reforçar os tampões das represas que armazenavam quantidade de lama já limite que exerce forte pressão sobre o tampão de terra batida. As águas da chuva aumentam a pressão e de repente estouram três represas em sequência. Faltou responsabilidade da Samarco para com a segurança dos habitantes de Bento Rodrigues, o povoado e muito pior, com o meio ambiente. Os governos estadual e federal têm muitas culpas por terem exercido fiscalização efetiva que também se pode atribuir ao prefeito da cidade de Mariana que não prestou atenção aos alertas doretro mencionado povoado. No geral, a grande maioria do Povo brasileiro não presta atenção para a gravidade do desastre que se fará sentir pormuitas décadas.

    ResponderExcluir
  2. Onde se lê "muitas culpas por terem exercido fiscalização " DEVE LER-SE " MUITAS CULPAS POR NÃO TEREM EXERCIDO FISCALIZAÇÃO".

    ResponderExcluir