quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O delator, a nora de Lula e uma história mal contada

A delação de Fernando Baiano deixa mais dúvidas do que certezas

por Henrique Beirangê — publicado 21/10/2015 19h01, última modificação 22/10/2015 09h35


Não cabe à imprensa advogar em nome de ninguém, mas também é necessário o exercício da honestidade intelectual para se aproximar da veracidade dos fatos.
Se o ex-presidente Lula foi o “grande chefe do esquema” como parte da imprensa deseja, que seja preso, assim como todos que se beneficiaram do saque a Petrobras, investigado pela Operação Lava JatoAté o momento, no entanto, não há nenhuma prova concreta da materialidade do seu envolvimento.
Não foi encontrada no nome de Lula nenhuma conta na Suíça, como ocorreu com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Também não foram identificados pagamentos diretos como para o senador Fernando Collor (PTB-AL) ou para o ex-deputado petista André Vargas (PR).
O Estado Democrático de Direito se consolida quando a lei é aplicada com isonomia para todos, independentemente do posto e da coloração partidária ocupados. Mas, em nome da busca pela “verdade”, a imprensa tem o dever de entregar à sociedade a informação sem sensacionalismo, mesmo que pressionada pelo afã do “furo jornalístico”.
O depoimento do lobista Fernando Soares, o Baiano, foi divulgado por toda a imprensa mostrando a revelação de um suposto pagamento de 2 milhões de reais a uma nora de Lula, sugerindo o envolvimento do ex-presidente no esquema Petrobras. O depoimento traz uma confusão entre alhos e bugalhos, entretanto, reforçada pelo fato de que boa parte dos leitores para de ler no primeiro parágrafo da notícia, quando não leem apenas o título da matéria.
Assim, a história ficou apresentada de forma enviesada.
A informação é baseada no termo de delação 15, concedido à Procuradoria-Geral da República. A íntegra do texto pode ser lida, mas, resumindo-se: Lula teria intercedido em uma concorrência de aquisição de navios sondas para a Sete Brasil, empresa que tem entre seus investidores a Petrobras, para que a OSX, de Eike Batista, levasse o contrato. Baiano, representante dos interesses da OSX, conta que procurou o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, para que ele interviesse na compra dos navios.
Como o próprio Baiano afirma, Bumlai e o presidente da Sete Brasil, José Carlos Ferraz, teriam procurado Lula para que a OSX levasse os contratos. Não há no depoimento nenhum trecho em que Lula aparece dizendo que fraudaria a licitação.
Cabe lembrar também que empresa de Eike não ganhou a concorrência e ficou de fora das compras. Então, se OSX não ganhou nenhum centavo com a aproximação com Lula, por qual motivo, razão ou circunstância a nora de Lula receberia dinheiro de Bumlai?
Baiano disse que Bumlai afirmou a necessidade de 3 milhões de reais como adiantamento da comissão do futuro contrato (que acabou não sendo firmado) para saldar uma dívida com a nora de Lula. Baiano deu o dinheiro, na confiança (na verdade pouco menos de 2 milhões de reais), mas não ganhou nada com a aproximação de Bumlai. Tanto é que Baiano sentiu ter "levado um cano". Assim, procurou o pecuarista para pegar o dinheiro de volta, mas nunca viu um centavo por conta da aproximação com Lula.
Diante desta confusa história, fica claro que, se o presidente esteve envolvido na fraude da estatal, ainda há muito a ser investigado. É importante que se vá, mesmo, até as últimas consequências.
Cabe notar, também, que pagar propina por um serviço que nunca foi entregue, no entanto, não faz o mínimo de sentido.

Em São Paulo, temos o testemunho de casos como o da fraude do Metrô, nos quais ninguém foi preso, não houve delações premiadas e todos gozam da mais plena impunidade. Ainda assim, se a República tiver de ser passada a limpo, mesmo que seletivamente, que façamos isso fundamentados na verdade dos fatos e não em falsas manchetes plantadas por uma parcela da imprensa que se porta de maneira partidária.
Texto original: CARTA CAPITAL

Um comentário:

  1. A operação Salva Rato foi instalada para matar dois coelhos duma cajadada, derrubar Dilma e o PT do Planalto bem como dificultar a administração e operação da Petrobras, fazendo despencar o valor de suas ações e outras manobras de modo a inviabilizar a ação da empresa. Primeiro batizaram a operação de Lava Jato para dar uma idéia de grande limpesa, mas até agora só vimos os grandes corruptos, os maiores ladrões, fazerem denúncias e serem premiados nem sabemos como. Entregaram pequena parte daquilo que roubaram e salvaram-se de mofar na prisão por uns bons tempos. Tem sido mais Salva Rato que Lavagem a Jato da roubalheira. Não tem sido uma operação que ofereça credibilidade, começando logo pelo juiz Sérgio Moro que atuou no caso Banestado, mas não colocou na cadeia nenhum dos beneficiários de transferências multi-Bilionárias para o exterior e lá estava o doleiro Alberto Youssef que fez delação premiada tão vantajosa que aí está ele de novo fazendo mais uma deduragem.. A credibilidade desta operação foi logo muito afetada pelos vazamentos parciais de decarações que pudessem induzir os cidadãos a julgarem Dilma Roussef envolvida na corrupção, fazendo despencar as intenções de voto que possuía nestas eleiçõe de 2014. Sérgio Moro não foi responsabilizado por isso e foi razão mais que suficiente para o afastar e punir.
    Não conseguiu derrubar Dilma,mas continuou a ofensiva contra todo os petistas que pode alcançar.O ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto foi preso, prenderam até uma cunhada dele que tinha ido a um caixa eletrônico e apezar de não ter provas condenatórias, Sérgio Moro aplicou-lhe 15 anos de prisão! Pela lógica, todos os tesoureiros dos outros partidos que receberam doações das empreiteiras também deveriam ser presos porque fizeram o mesmo que Vaccari.
    Agora vem o Fernando Baiano com uma declaração que deu 2 Milhões de Reis a uma nora de Lula. O juiz Sérgio Moro já teve a confirmação da veracidade desta declaração? E como vazou? E se não fôr verdade? Quem é o responsável pelos danos morais infligidos à nora de Lula e ao próprio ex-presidente?
    E tem mais que nunca foi explicado. O que Sérgio Moro esteve fazendo nos EUA antes de começar dirgindo a operação Salva Rato? Foi especializar-se em carceragem do tipo Guantanamo? Parece!

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