terça-feira, 26 de maio de 2015

As contas mostram que na ‘Marcha da Liberdade’ quem anda mesmo são os carros e o ônibus de apoio.

Postado em 24 mai 2015por :
 
Marcha dos descerebrados
 A Marcha da Liberdade saiu de São Paulo no dia 24 de abril para percorrer os 1.015 quilômetros que separam a capital paulista de Brasília.
Quando eu estive na Força Aérea, participei de marchas forçadas nas estradas de Minas Gerais e, na época, o cálculo de distância percorrida pela tropa era de 4km/hora.
Estou falando de um grupo organizado, com idades variadas de 17 a 18 anos, bem treinado e muito bem preparado física e disciplinarmente. É bem verdade que carregávamos 15 quilos de equipamentos nas costas, mas, ainda assim, mantínhamos o ritmo sem parar: 4km/hora.
Levando-se em conta que os gatos pingados da tal marcha libertária têm gente visivelmente fora de forma, e outros que até para comprar pão costumam mandar a empregada, é pouco provável que as informações passadas por seus participantes sejam verdadeiras.
Senão, vejamos.
Os marchantes da liberdade alegam que percorrem, em média, de 20 km a 40 km por dia.
Mantida a média de 4 km/h da marcha militar, na primeira hipótese, o grupo anti-Dilma gastaria 5 horas por dia para percorrer 20 km.
As outras 19 horas, imagino, devem gastar para dormir, urinar, defecar, comer, cantar o Hino Nacional, tirar selfies, gravar vídeos, mandar eventuais transeuntes irem para Cuba e, à noite, fazer fogueirinhas de gravetos na beira da estrada ao som de Lobão ao luar.
“Tá tudo cinza sem você…”
Na segunda hipótese, os marchantes andariam 40 km por dia, numa média de 10 horas de caminhada puxada, sob sol e frio, seca e sereno.
Melhor esquecer à fogueirinha à noite.
Na verdade, melhor esquecer a hipótese: a chance de essa gente ter percorrido 40 km por dia é a mesma de os hebreus terem caminhado por 40 anos no deserto comendo só maná.
Quem acredita nisso, costuma dizer o jornalista Paulo Nogueira, citando Arthur Wellesley, o primeiro duque de Wellington, acredita em qualquer coisa.
Então, centremo-nos na primeira hipótese (20 km/dia): o grupo terá percorrido, até agora, 30 dias depois de sair de São Paulo, 600 km. Teriam, portanto, mais 415 km até chegar a Brasília.
Ocorre que Kim Kataguiri, o Jaspion da TFP, foi atropelado a 5 km de Alexânia, em Goiás, logo, a 85 km de Brasília.
Façam as contas: mas a trupe da liberdade deveria estar, então, a 500 km de Brasília.
Ainda dá tempo de fugirmos para a Chapada dos Veadeiros, portanto.
Mas, além do embuste patético dessa ópera bufa das BRs, há outras questões envolvidas.
Por alguns anos, cobri, como repórter, a movimentação do MST nas estradas brasileiras. Em uma delas, em Minas, participei ao lado dos trabalhadores sem-terra, caminhando na pista, dormindo nos acampamentos.
Nessa época, todo santo dia, jornais, revistas e TVs batiam na tecla de que os sem-terra usavam o acostamento de forma ilegal, que eram um perigo na estrada, que iriam provocar uma tragédia.
Tragédia, se houve, não me lembro, nunca soube.
Eles andavam cerca de 30 km por dia, a maioria de sandália havaiana, ora em silêncio, ora entoando cânticos de luta:
“Che, Fidel, Antônio Conselheiro, na luta pela terra somos todos companheiros”!
Pelo que ando lendo, os paneleiros da liberdade têm sempre o apoio de um carro e dois ônibus.
Como assim?
Um carro e dois ônibus (!), por 1.015 km, nos acostamentos das estradas?
Ou eles andam na estrada mesmo, a 4 km por hora?
Cadê a mídia para denunciar esse absurdo? E os registros da Polícia Rodoviária?
A verdade é que esses cretinos pró-impeachment criaram um falso movimento, organizado em uma falsa marcha, que só pôde ter continuidade, por um mês inteiro, porque temos a mídia mais cafajeste e sem noção das Américas, quiçá do mundo.
Qualquer jornal, qualquer revista, tivesse mandado um repórter minimamente preparado passar uma semana com esses debiloides, teria em mãos uma reportagem sensacional sobre essa fraude cívica montada e operada por farsantes alimentados por uma oposição irresponsável.
Poderiam, inclusive, ter evitado que esse menino idiota, de apenas 19 anos, se tornasse uma referência para outros jovens.
Ou mesmo que ele e outra colega de marcha acabassem sofrendo um acidente, como houve agora, próximo a Alexânia.
Há, portanto, muitos culpados por essa marcha de celerados.

Texto original: DCM

sábado, 23 de maio de 2015

EUA acordam para Nova Ordem Mundial

O Governo Obama parece que compreendeu que a estratégia de isolamento da Rússia está esgotada: Moscou não vai ceder em dois pontos primordiais.

Por Pepe Escobar, no Information Clearing House

Os verdadeiros Mestres do Universo nos EUA não podem prever o tempo, mas sem dúvida começam a sentir para que lado o vento está soprando.
 
A História poderá registrar que tudo começou com a viagem esta semana a Sochi, na Rússia, liderada pelo garoto de recados e Secretário de Estado John Kerry, que se reuniu com o Ministro das Relações Exteriores Lavrov e, em seguida, com o Presidente Putin.

Foi possivelmente uma imagem o que acordou os verdadeiros Mestres do Universo: o Exército de Libertação Popular marchando na Praça Vermelha no Dia da Vitória lado a lado com os militares russos. Nem sob a aliança Stalin-Mao as tropas chinesas haviam marchado na Praça Vermelha.
 
A marcha é um sinal quase tão eloquente quanto os sistemas de mísseis russos S-500. Qualquer adulto em Washington deve ter feito as contas e concluído que Moscou e Pequim estão prestes a assinar protocolos militares secretos como no pacto Molotov-Ribbentrop. A nova rodada da dança das cadeiras certamente deixará apoplético Zbig Brzezinski, cientista político obcecado pela Eurásia.
 
E, de repente, em vez da demonização implacável e de a OTAN reclamar da “agressão russa", vemos Kerry dizer, a cada dez segundos, que a única saída para a Ucrânia é respeitar o acordo Minsk-2, e que iria repreender o vassalo Poroshenko por se vangloriar de ter bombardeado o aeroporto de Donetsk e arredores para recuperar o território de volta para a "democracia" ucraniana.

Já o sempre equilibrado Lavrov descreveu o encontro com Kerry como "maravilhoso", e o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov falou que os novos entendimentos EUA-Rússia eram "extremamente positivos".

O Governo Obama, que se autodefine como um governo "Não cometa nenhuma estupidez", parece finalmente compreender que a estratégia de isolamento da Rússia está esgotada – e que Moscou simplesmente não vai ceder em dois pontos primordiais: a Ucrânia não vai entrar na OTAN e não há possibilidade de as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk serem esmagadas, seja por Kiev, pela OTAN ou por quem quer que seja.

O que foi realmente discutido – mas não vazou – em Sochi foi como o Governo de Obama poderia salvar as aparências ao se retirar da bagunça geopolítica que se tornou a fronteira ocidental da Rússia, onde os EUA se enfiaram sem ninguém ter convidado, aliás.

Sobre os mísseis

A Ucrânia é hoje um estado falido, totalmente convertido em colônia do FMI. A UE nunca vai aceitá-lo como membro, ou pagar suas contas astronômicas. O interesse real, tanto para Washington quanto Moscou, é o Irã. Não por acaso, o extremamente suspeito Wendy Sherman – que foi negociador-chefe dos EUA nas negociações nucleares P5 1 – fazia parte do séquito de Kerry. Um acordo abrangente com o Irã não será obtido sem a colaboração essencial de Moscou em todos os pontos, desde o descarte de lixo nuclear ao fim imediato das sanções da ONU.

O Irã é um ator-chave no projeto liderado pela China da Nova Estrada da Seda (New Silk Road). Então, os verdadeiros Mestres do Universo devem ter finalmente entendido que toda a questão diz respeito à Eurásia, que, inevitavelmente, foi a verdadeira estrela no desfile do Dia da Vitória, em 9 de maio. Após sua parada em Moscou, tão cheia de significados – 32 acordos foram assinados – o presidente chinês, Xi Jinping, foi fazer negócios no Cazaquistão e na Bielorrrússia.

Bem-vindos à Nova Ordem Mundial da Seda; de Pequim a Moscou em trem-bala; de Xangai a Almaty, Minsk e além; da Ásia Central para a Europa Ocidental.

Hoje sabemos que esta via expressa de comércio e geopolítica – incluindo o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, liderado por Pequim e apoiado por Moscou, e o Banco de Desenvolvimento dos BRICs – não pode ser bloqueada. Ásia Central, Mongólia e Afeganistão – onde a OTAN acaba de perder uma guerra – estão sendo inexoravelmente puxados para esta órbita de comércio e geopolítica, que engloba toda a Eurásia central, do norte e do leste.

O que pode ser chamado de Grande Ásia já está tomando forma – não só de Pequim a Moscou, mas também do centro de negócios de Shanghai até a “porta para a Europa” que é São Petersburgo. É a consequência natural de um processo complexo que venho examinandohá algum tempo – o casamento do Cinturão Econômico da Estrada da Seda, liderado por Pequim, com a União Econômica da Eurásia (EEU), liderada por Moscou. Putin fala de "um novo nível de parceria."

Os verdadeiros Mestres do Universo também podem ter notado as estreitas conversas entre o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu e o diretor do Conselho Militar Central da China, general Fan Changlong. Rússia e China vão realizar exercícios navais no mar Mediterrâneo e no Mar do Japão e darão prioridade à sua posição comum sobre a defesa antimísseis global americana.

Há a questão nada insignificante de o Pentágono ter "descoberto" que a China tem até 60 mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) baseados em silos –CSS-4 – capazes de atingir quase todos os EUA, com exceção da Flórida.

Por último, mas não menos importante, há o novo sistema defensivo de mísseis ultra-sofisticados S-500 – programado para proteger a Rússia contra um Ataque Global Imediato (Prompt Global Strike – PGS). Cada míssil S-500 pode interceptar dez ICBMs em velocidades de até 15.480 milhas por hora, em altitudes de 115 milhas e alcance horizontal de 2.174 milhas. Moscou insiste que o sistema só estará operando em 2017. Se a Rússia for capaz de dispôr de 10 mil mísseis S-500, poderá interceptar 100 mil ICBMs americanos mais ou menos na mesma época em que os EUA terão um novo inquilino na Casa Branca.

Mais uma vez, os verdadeiros Mestres do Universo parecem ter feito as contas. Não é possível reduzir a Rússia a cinzas. Não podem vencer na Nova Ordem Mundial (da Seda). Poderiam, isso sim, sentar e conversar. Mas mantenham seus cavalos (geopolíticos) selados; eles ainda podem mudar de idéia.

Tradução de Clarisse Meireles

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Os ciclistas pagam pela partidarização estúpida das ciclovias

Publicado no Vá de Bike.
 Muito nos entristece que tanta gente, até mesmo em veículos de imprensa de grande influência, veja as ciclovias da capital paulista como propaganda do PT, o partido do atual prefeito da cidade, ou diga que as ciclovias são “de Haddad”, em vez de serem de São Paulo ou dos paulistanos. E isso já tem aumentado as agressões a ciclistas dentro e fora das ciclovias, como já havíamos comentado aqui no Vá de Bike em dezembro do ano passado.
Os relatos de amigos e leitores só aumentam – em frequência e agressividade. Nesse fim de semana, em pleno Dia Internacional da Mulher, a amiga Mariana Boff foi atropelada por um ônibus, que passou perto o suficiente para bater em seu guidão e arrastar a bicicleta com as rodas do veículo, que pesa toneladas. Por sorte, muita sorte, ela não teve o mesmo destino da bicicleta, mas se machucou muito com a queda, a ponto de sofrer um corte grande nas costas. As fotos dos ferimentos foram postadas em sua página no Facebook. A placa do ônibus foi fotografada por outra ciclista que estava no local e Mariana tomará providências legais.
Recentemente, a leitora Carla Moraes relatou que uma motorista que estava com o carro sobre a ciclovia, esperando o sinal abrir, tentou atropelar propositalmente ela e outra garota ao sair, acelerando contra elas. Por sorte, ambas estão bem. Com diversas testemunhas para apoiá-la, Carla fez Boletim de Ocorrência e já descobriu o nome da motorista, dando início aos procedimentos legais.
Outra leitora, Dani Gracia, relatou na última sexta-feira que um motorista jogou o carro para cima dela, que se desequilibrou, caiu e teve vários ferimentos. Ela tinha acabado de levar a filha para a escola, na cadeirinha da bicicleta, e por sorte a criança não estava mais com ela. “Pede para o prefeito pintar a rua de vermelho”, justificou o homem que dirigia o carro. E que foi embora rindo, sem ajudá-la. Infelizmente, Dani não conseguiu anotar a placa e esse motorista ficará impune, até que seus atos tenham consequências piores.
E o empresário Marco Gomes publicou na semana passada um vídeo em que um motorista o prensa propositalmente contra outro carro, pouco depois de fechá-lo, quase causando um acidente grave por duas vezes seguidas. O vídeo você vê no final deste texto.
Vidas em jogo
As ciclovias são construídas para proteger a vida das pessoas que se deslocam de bicicleta, ou que pretendem fazê-lo mas ainda não se sentem seguras. E elas atendem a uma demanda histórica dos ciclistas paulistanos, principalmente no caso da Avenida Paulista.
Se seguem um modelo adequado de implantação ou se há falhas, isso pode e deve ser discutido, mas resumir a questão a uma disputa partidária, ainda que em tom de desabafo, leva todos nós a perder. Principalmente com as agressões que os ciclistas  têm sofrido nas ruas, por conta de motoristas que acreditam que usar a bicicleta é apoiar o partido do prefeito e que isso, por si só, justificaria uma punição em forma de fechada, fina, ameaça de atropelamento ou até derrubar o ciclista de fato, sem se importar com as consequências. Porque, afinal, ele estava merecendo mesmo.
Menos, gente! Por favor. Pessoas em bicicletas são só isso: pessoas. Com amigos, pais, maridos, esposas, filhos e amores esperando para revê-los e, pasmem: com preferências políticas variadas! Entrar nesse discurso de que as ciclovias são um mal para a cidade ou que são pura propaganda política inflama as pessoas de má índole, que passam a ver cada bicicleta na rua como um insulto, uma provocação, quase um crime, fazendo com que se sintam justos e vingadores ao cometer essas agressões – que podem, inclusive, causar mortes ou sequelas para o resto da vida.
Pense nisso.
Texto original: DCM

domingo, 10 de maio de 2015

QUANTO VALE O BNDES?


(Jornal do Brasil) - Nos últimos quatro meses, as ações da Petrobras já subiram mais de 50%. Em abril, foi finalmente apresentado, com elastiquíssimas provisões para corrupção, o seu balanço. Prisões, em regime fechado, de executivos de algumas das maiores empresas de infraestrutura e engenharia do país, responsáveis por milhares de empregos, bilhões de reais em projetos, e com endereço fixo e vida definida, foram sensatamente revogadas pela justiça. As dezenas, quase uma centena, de bilhões de reais em roubo cansina e maciçamente anunciadas, aos quatro ventos, se transformaram em centenas de milhões de reais de dinheiro efetivamente pago e devidamente localizado, em um valor total que, até agora, é de mais ou menos o valor dos recursos envolvidos no pseudo “cartel” do Trensalãode São Paulo, e um pequeno percentual dos escândalos do CARF, do HSBC, e, principalmente, do Banestado, em que pela segunda vez se cruzaram os destinos do doleiro Alberto Youssef e do Juiz Sérgio Moro.

Desinflando-se, paulatinamente, o balão da Petrobrás, os adversários do governo partem para nova e desesperada expedição de busca de pelo em cabeça de ovo e de chifre em cabeça de cavalo, apontando suas armas para outro símbolo emblemático do nacionalismo brasileiro, de extrema importância para o desenvolvimento nacional.

Depois de abortada a aprovação de uma primeira CPI sobre o BNDES no Senado, está em curso nova tentativa de se investigar a instituição. Pede-se que o Tribunal de Contas da União passe a pente fino o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, como se fiscalizá-lo já não fizesse parte das suas atribuições regulares; pretende-se mudar a lei para que empréstimos do BNDES em operações internacionais, tenham que ser aprovados previamente pelo Senado Federal, quando esse tipo de exigência ocorre em pouquíssimas nações do mundo, não apenas em razão da burocracia, mas também por questões estratégicas e de sigilo bancário e empresarial, já que equivale a tornar públicas negociações entre o Brasil e países clientes, desnudando-as aos olhos de nações concorrentes - e em certos sentidos, até mesmo adversárias - que jamais aceitariam se comportar, nesse aspecto, da mesma forma; chama-se a todo momento, o Presidente do BNDES ao Congresso, para dar sempre as mesmas explicações; procura-se criminalizar o papel do Banco no fortalecimento de empresas de capital nacional no exterior, e no apoio à exportação de produtos e serviços pelo Brasil, quando isso é rotineira, ostensiva, e costumeiramente feito por instituições semelhantes de outras nações, o que trará como única consequência o enfraquecimento e a sabotagem da nossa capacidade de concorrência no mercado internacional. 

Mais que “sangrar” o governo, parece que se quer atingir o Estado, os instrumentos estratégicos necessários à implementação de um projeto nacional, e já se fala em estender a devassa à Eletrobrás, aos fundos de pensão, a outros bancos públicos, em uma campanha coordenada e ampla, que não poderia ser melhor, ou pior, executada, para o futuro do pais, se estivesse sendo comandada a partir de alguma nação estrangeira. 

Não parece existir outro objetivo, do que o de arrebentar com o Brasil, e com todo um conjunto de empreendimentos e obras de infraestrutura que, com seus eventuais problemas, levou 40 anos para começar a ser executado, depois de longos anos de imobilismo e estagnação.

Pretende-se ampliar para o BNDES o cerco já realizado contra a Petrobras e seus negócios, com um furor macarthista, persecutório e inquisitorial que teria dado melhores resultados para a nação, caso tivesse sido aplicado, pelos mesmos agentes, na investigação dos negócios feitos com dinheiro do mesmo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, não para ajudar a expansão de empresas brasileiras no exterior, gerando divisas e empregos para o Brasil, mas para financiar e promover a criminosa entrega de empresas nacionais estatais e da iniciativa privada a estrangeiros, durante a tragédia da “privataria” e da desnacionalização compulsória da economia brasileira, nos anos 1990.

Sempre pusilânime e escorregadio nas suas relações com setores anacrônicos e conservadores da sociedade brasileira, com os quais optou por conviver, a trancos e barrancos, depois que chegou ao poder, e totalmente incompetente do ponto de vista estratégico e de comunicação, o PT não está colhendo mais do que plantou.

Poderia ter liquidado a fatura do país com esse passado quando o governo Lula tinha altíssimos índices de aprovação e o Brasil crescia 7,5% ao ano. Acusado de ter “aparelhado” o Estado, não soube, como fizeram com naturalidade as forças conservadoras, ocupar espaço, pelo próprio mérito de seus simpatizantes, via concurso público, em áreas estratégicas da administração dos Três Poderes e do próprio MP. Não criou meios de comunicação alternativos para chegar à população. Continuou alimentando, financeira, institucionalmente, e aos nacos, com o seu próprio sangue e carne, as feras que o atacam hidrofóbicamente, nos espaços mais tradicionais, e, quando novos canais surgiram, com a rápida expansão da internet relacionada à ascensão de uma nova classe média, fruto da multiplicação do PIB, dos salários e da renda per capita, entregou esse novo público, e a própria internet como espaço de atuação, à direita mais radical e exacerbada, recusando-se a responder a ataques crescentes em ódio e quantidade, até que eles atingissem o paroxismo a que chegaram agora, ignorando, e dando, olimpicamente, o ar de sua escandalosa, gritante, ausência, na área de comentários dos maiores portais - justamente os mais conservadores - desse meio de comunicação.

Quanto vale o BNDES?

Para a Nação - assim como é o caso da Petrobrás - seu valor é incalculável, estratégico, insubstituível.

Criado em 1952, pelo governo do Presidente Getúlio Vargas, e ampliado durante os governos militares, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social é um dos pilares da nação. Ele apoia a cultura, a produção, a geração de tecnologia, a inovação, os grandes e os pequenos negócios que constituem a espinha dorsal da economia brasileira, da construção de hidrelétricas, tanques, refinarias de petróleo, armas, navios, aviões, pontes, viadutos, a milhares de empreendedores, que, em igual número de micro e pequenas empresas, podem ter acesso a seus recursos a juros mais baixos, por meio de instrumentos amplamente disseminados e acessíveis, como o Cartão BNDES.

Não fosse o BNDES e os outros bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal, e o Banco do Brasil, e o país teria ficado inerme, imobilizado, no contexto do financiamento a grandes projetos e ao consumo, nas diferentes crises criadas pela incompetência, imprevisibilidade e leniência dos governos, do FMI, do Banco Mundial e das “agências” de classificação - que hoje insistem em nos ditar regras - que quase levaram o mundo, por mais de uma vez, à bancarrota, desde o início deste novo século. 

Só nos quatro primeiros meses deste ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social liberou um financiamento de dois bilhões e trezentos milhões de dólares para a construção de uma nova companhia siderúrgica, na Zona de Processamento de Exportação do Complexo Industrial e Portuário de Pecém, na cidade de São Gonçalo do Amarante, no Ceará, obra que gerará 17 mil empregos e produzirá 3 milhões de toneladas de aço por ano, para exportação, e participou da criação de um novo polo de produção de medicamentos no mesmo estado.

Viu ser inaugurado o novo pólo automotivo do Nordeste, com a entrada em funcionamento da fábrica da Jeep no Brasil, para a qual aportou 3.3 bilhões de reais, e garantiu mais 650 milhões de reais em investimento para a expansão da Fiat em Minas Gerais. Liberou mais de 400 milhões de reais para novas obras na subida da serra, em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Participou da constituição de uma nova empresa de logística portuária, criou um fundo de investimento em debêntures de infraestrutura, e novas opções para financiamento de bens de capital. Ainda em abril, lançou um novo produto, o BNDES Soluções Tecnológicas, para estimular a inovação na indústria brasileira, e aumentou a garantia para a obtenção de empréstimos por micro e pequenas empresas, de financiamento junto a outras instituições financeiras de sua escolha, e criou outra linha destinada à recuperação ecológica de vegetação nativa. Financiou a construção de 10 novos parques eólicos no Nordeste, gerando, com apenas dois, um no Piauí, e outro na Bahia, no valor de 1.2 bilhão de reais, quase quatro mil novos empregos - depois de ter investido nessa área 6.6 bilhões de reais em 2014. E liberou mais centenas de milhões de reais em financiamento para a modernização de gestão de vários municípios, em microcrédito para pequenos empreendedores e investimentos para indústrias das áreas têxtil, calçadista, de caminhões e alimentícia.

Estamos vivendo uma situação absurda, kafkiana, na qual se punem e atacam empresas que, no exterior, sempre mostraram que o Brasil pode concorrer à altura com outros países na execução de grandes e complexos projetos de engenharia, como a Mendes Júnior, a Andrade Gutierrez e a própria Odebrecht. Companhias que, historicamente, levaram o nome do Brasil e a capacidade de realização da gente brasileira das montanhas dos Andes aos desertos africanos, em países latino-americanos e em lugares como o Iraque e a Mauritânia, ainda nos anos 1970, empregando milhares de compatriotas, exportando produtos e serviços e trazendo para o país bilhões de dólares em divisas, permitindo, ainda na época dos governos militares, que o Brasil recebesse combustível em pagamento dessas obras, enfrentando, com sucesso, a crise do petróleo.

Pretende-se investigar o financiamento pelo BNDES, um dos maiores bancos de fomento do mundo, fundamental para a exportação de serviços pelo Brasil, para países como Cuba e Angola, quando o principal cliente desse tipo de financiamento do banco, não são nações “comunistas” ou “bolivarianas”, mas os sacrossantos Estados Unidos da América do Norte, e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social não faz mais do que fazem instituições financeiras estatais concorrentes de países desenvolvidos - como os Eximbanks dos EUA e da Coreia do Sul, os JapanExport Bank e Japan Bank For InternationalCooperation, do Japão; os KFW e Deutsche Bank da Alemanha, o Export-Import Bank da China - e possui baixíssima inadimplência em suas operações internacionais, como afirmaram o próprio BNDES e a Odebrecht, por meio de documentos e declarações públicas, na última semana. 

O Brasil transformou o BNDES, nos últimos anos, em um dos maiores bancos de fomento do mundo, multiplicando seus desembolsos - que vão também para milhares de micro e pequenas empresas e empreendedores via Cartão BNDES - de 37 bilhões de reais em 2002, para 187 bilhões de reais em 2014, com um lucro de quase 9 bilhões de reais no ano passado, e essa conquista está sendo tratada como se fosse um crime de lesa-pátria.

É preciso lembrar que a exportação de serviços e produtos com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para países desenvolvidos e em desenvolvimento não é invenção do PT. Ela foi, sempre, um dos pilares da política externa brasileira e era costumeira no regime militar. Foi praticada - haja cinismo - no Governo Fernando Henrique Cardoso, que financiou com dinheiro desse banco, Cuba e o Governo de Hugo Chávez, na construção de parte do metrô da capital venezuelana. Há, do então Presidente da República, dessa época, famosa foto com Chaves e Fidel Castro - líderes que hoje tucanos procuram execrar de olho no eleitorado fascista - de mãos unidas, umas sobre as outras.

O que deveria estar sendo investigado e punido, não é a exportação de serviços ou a compra de empresas estrangeiras no exterior com financiamento do grande banco brasileiro, em operações em que a inadimplência está próxima de zero, mas, sim, o uso de capital do banco para financiar a entrega de empresas brasileiras do setor de energia e telecomunicações, não para empresários brasileiros da iniciativa privada, mas a juros subsidiados e a perder de vista, para empresas estrangeiras - incluídas algumas de capital estatal ou controle estratégico governamental de outros países - em “negócios” nos quais “consultores”, “assessores” e lobistas de variada estirpe e camaleônico caráter fizeram fortunas, da noite para o dia, com tráfico de influência, nos anos 1990.

Há quem tenha participado da organização do processo de privatização da Telebrás, e depois chegado a altos cargos na ANATEL - que como as outras agências reguladoras, não passa de uma excrescência inventada no governo FHC que quase sempre só beneficia as empresas e nunca os consumidores - comandando a fiscalização de empresas telefônicas, para depois ocupar, já, há anos, o cargo de presidente de um dos maiores grupos estrangeiros de telefonia e telecomunicações em atividade no Brasil.

Usar o BNDES para defender o país, o seu fortalecimento, e o de suas empresas, no exterior, como se orgulham de fazer outros países, e suas lideranças e ex-presidentes, não se pode. Fazer o mesmo para promover a entrega do Brasil para empresas de países altamente “desenvolvidos”, como Espanha e Portugal, como ocorria antes, não só se pode, como é altamente gratificante, tanto do ponto de vista econômico como do “moral”, como se pode ver pela “intocabilidade” de seus autores, relegados, com suas fortunas, a confortável e nababesco - e espera-se que não definitivo, para a história, ao menos - anonimato. Mesmo que essas empresas estrangeiras sequer paguem os financiamentos recebidos, a juros subsidiados, como foi o caso, por anos, da AES - America Energy Southern, na compra da Eletropaulo, a ponto de ter sido processada pelo governo Lula, para que o BNDES retomasse ao menos parte do negócio. 

Não podemos ser um país poderoso, independente e forte - objetivo que nunca poderá ser atingido sem o decisivo, patriótico, trabalho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e de seus funcionários. O que se quer é que sejamos uma província patética e subalterna, sem BNDES, sem Petrobras, sem Eletrobrás, como já ficamos sem a Telebrás, sem bancos essenciais para o desenvolvimento regional, como o Banespa, e outras importantes empresas e instituições, estratégicas para o desenvolvimento brasileiro.

Querem que voltemos, rapidamente, em pleno século XXI, com o quinto território e população e a sétima economia do mundo, a uma posição de colônia, submetida ao interesse estrangeiro, com a total privatização da Petrobras, a entrega do pré-sal, o desmonte do BNDES, de instituições como a Amazônia Azul e de outras empresas de defesa que dele dependem direta e indiretamente, a destruição programada da indústria naval, da indústria bélica, de centenas de milhares de empregos, de bilhões em projetos já iniciados e das maiores empresas de engenharia do Brasil, para que não reste pedra sobre pedra.

O bom-senso, a informação, a visão histórica e estratégica, um mínimo de projeto de Nação, que se danem.

O que importa não é o Brasil. É a política de “terra arrasada”, para que depois se possa colocar a culpar em quem se está atacando agora.

Texto original: MAURO SANTAYANA

terça-feira, 5 de maio de 2015

Os motivos para o desespero da oposição

O desespero da oposição tem fundamento

por Alberto Kopittke*, no Sul21

É preciso olhar o atual ataque que a oposição político-midiática-financeira está fazendo ao Governo Dilma para além da onda de ódio disseminada em setores da classe média para que se compreenda os seus reais motivos.

As razões para um ataque tão virulento, beirando ilações de apoio a um Golpe de Estado, obviamente não estão na indignação do PSDB, da Rede Globo, da Veja, ou do capital financeiro em relação a corrupção, com a qual sempre conviveram tranquilamente, quando lhes convinha.

O que a oposição percebeu é que, após atravessar mais um ou dois semestres com dificuldades econômicas, os últimos três anos do Governo Dilma podem ser o ápice do atual projeto nacional-desenvolvimentista, iniciado em 2002.

A partir do segundo semestre do ano que vem, o Governo começará a inaugurar as grandes obras dos Governos Lula e Dilma, como a transposição do Rio São Francisco; as Hidrelétricas de Belo Monte (a terceira maior do mundo), de Jirau e de Santo Antônio; a expansão e construção de pelo menos 6 metrôs que estão em obras e dezenas de BRTs; pontes, como a de Laguna (SC) e a segunda Ponte do Guaíba (RS); grandes trechos da Ferrovia Norte Sul; ampliação e modernização dos maiores aeroportos do país; plataforma de petróleo; refinaria Abreu e Lima, que será a mais moderna do país; entre muitas outras.

A Petrobrás que nos últimos anos fez muitos investimentos para se preparar para o pré-sal, volta a se capitalizar a partir de 2016 e as extrações de Petróleo quadruplicam nos próximos três anos.

Além disso, a inflação tende a recuar e a economia voltar a crescer, gerando mais alguns milhões de empregos. E, de quebra, a Presidenta ainda inaugura a Cidade Olímpica e o Parque Olímpica e recepciona as Olimpíadas e as ParaOlimpíadas de 2016, em um megaevento que tende a ser 6 vezes maior que a Copa do Mundo.

Neste cenário, dá para entender o desespero da oposição e seu desatino golpista. Eles sabem que tudo o que foi plantado nos últimos 12 anos, será colhido nos próximos quatro.

*Alberto Kopittke é advogado e vereador de Porto Alegre.

Leia também:
O escravismo do Estadão não tem nada de liberal

Texto0 original: VI O MUNDO

domingo, 3 de maio de 2015

Quem inspira os jovens conservadores que protestam contra Dilma e a esquerda?

A Atlas, segundo o Valor Econômico principal referência do movimento, possui cerca de 450 instituições, inclusive em países como Venezuela, China, Irã.

Redação do Jornal GGN


Quem inspira os meninos da ultra-direita brasileira que agitam protestos contra o PT e a presidente Dilma Rousseff? Segundo reportagem publicada ontem, dia 27, no Valor, os jovens são inspirados ideologicamente pela Atlas Network, uma empresa sediada em Washington (EUA), que prega o livre mercado, e que mantém parceria com instituições brasileiras, que recebem dinheiro para promover palestras, divulgar artigos, livros, etc.

"Esses institutos têm servido de fonte de informação e atraído a atenção de adolescentes e jovens na faixa dos 20 anos, muitos deles participantes dos protestos de março e de abril", escreveu o jornal.

O presidente da Atlas, Alejandro Chafuen, argentino radicado nos Estados Unidos, o organismo não se envolve em "assustos de rua ou política em outros países". Para ele, foi necessário, inclusive, se afastar de instituições ligadas ao Tea Party, uma ala conservadora do Partido Republicano.

No caso do Brasil, Chafuen enxerga a influência da Atlas sobre o pensamento dos jovens que protestam contra os governos do PT. "Obviamente há certa correlação entre as pessoas que passam por nossos programas e pelos institutos com que trabalhamos e o que está acontecendo aqui", disse ao Valor.

No Brasil, a Atlas lista como parceiras o Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista, do Rio; Estudantes Pela Liberdade, de Belo Horizonte; o Instituto de Estados Empresariais, de Porto Alegre; o Instituto de Formação de Líderes, também de Belo Horizonte; o Instituto Liberal, do Rio; o Instituto Liberdade, de Porto Alegre; o Instituto Ludwig Von Mises, de São Paulo; o Instituto Milenium, também do Rio e o Ordem Livre, de Petrópolis.

O presidente do Mises Hélio Beltrão disse ao Valor que o foco em São Paulo são jovens universitários liberais que possam disseminar a mensagem do grupo nas instituições que, na visão dele, são doutrinadas pela esquerda.

O cientista político Fábio Ostermann, um dos fundados do Movimento Brasil Livre (MBL) - que marcha de São Paulo a Brasília cobrando o impeachment de Dilma - trabalhou por dois meses e meio para a entidade americana. Ele diz que ainda não houve doações para o MBL pela Atlas.

A Atlas distribuiu no Brasil cerca de 20 mil dólares por ano, segundo Chafuen. O grupo Estudantes pela Liberdade recebeu no ano passado cerca de 10 mil dólares. "O dinheiro que mantém as atividades da Atlas vem, em sua maioria, de fundações e cidadãos dos Estados Unidos. (...) Os doadores têm preferências distintas. Alguns são religiosos conservadores; outros, libertários."

A Atlas possui hoje cerca de 450 instituições espalhadas pelo mundo, inclusive em países como Venezuela, China, Irã, Nepal.

Créditos da foto: GGN

Texto original: CARTA MAIOR

sábado, 2 de maio de 2015

A caminhada do PSDB para a direita está completa

O PSDB se tornou um boneco de ventríloquo: aparelhado pelas forças sociais conservadoras, coloca a truculência policial ao dispor do reacionarismo.


Maria Inês Nassif

A violenta repressão da Polícia Militar a uma manifestação de professores em Curitiba – que justificadamente protestavam contra o assalto do governo do Estado a um fundo de Previdência que é deles – traz preocupações que transcendem a própria violência. O perfil dos governos do PSDB nos Estados onde, teoricamente, o partido tem líderes de vocação nacional, confluem para um conservadorismo orgânico, para um modelo tucano de governar vocacionado ao fiscalismo, à visão desumanizada do servidor público e do que se considera adversários políticos, ao desprezo pela gestão pública e, fundamentalmente, para uma opção por uma política de segurança pública pautada pela força bruta.
 
Se isso for considerado no plano nacional, e numa conjuntura em que a esquerda está enfraquecida, a perspectiva futura de poder federal – se as forças no poder não se reerguerem – é de governos altamente conservadores, fiscalistas, desumanizados, alheios à função social da gestão pública e truculentos. Esse é o pior dos Brasis pensados para o futuro.
 
Os dois governos, de Beto Richa (PR) e Geraldo Alckmin (SP), fecham o ciclo da caminhada perseverante do PSDB rumo à direita. É a linha ideológica, hoje, o principal liame entre os políticos do partido e sua base partidária, e ela foi tecida de fora para dentro, já que o partido nunca conseguiu resolver uma dificuldade histórica de constituir-se em formulador ideológico e formador de quadros.
 
Na verdade, são as forças sociais conservadoras e os meios de comunicação, apoiadores incondicionais do PSDB, que têm desempenhado o papel de escolher os quadros tucanos e de definir ideologicamente a legenda. Por esse filtro, jamais a qualidade do quadro é colocado como condição para sua ascensão midiática, que por sua vez define as escolhas internas do partido: o apoio é simplesmente proporcional à capacidade ofensiva (no pior sentido) do político, nunca ao que ele pode agregar a um projeto de Brasil ideológico e consistente.
 
No momento em que se aliou a essas forças de forma radical, o PSDB acabou se tornando prisioneiro de sua própria armadilha. A estratégia de desqualificar a política institucional, usada para minimizar os ganhos eleitorais do petismo, acabou se constituindo na desqualificação de si próprio. Para as forças sociais e para os meios de comunicação aliados ao PSDB por conveniência, o partido é apenas um instrumento na guerra deflagrada para vencer a esquerda, que teve no petismo a sua principal expressão.
 
Se a esquerda institucional hoje tem sérios problemas de qualidade de quadros, a direita mais ainda. Hoje, os políticos que “repercutem” as denúncias cavadas diuturnamente pela mídia tradicional, numa estratégia perseverante de desconstrução da esquerda, têm uma condição não melhor do que o boneco no colo do ventríloquo: fala o que o dono quer ouvir. Sem condições de alçar voos pela qualidade de seus quadros, o PSDB depende hoje desesperadamente, e unicamente, de ser o escolhido pela mídia tradicional como instrumento de guerra; e de, nessa condição, ser o alvo preferencial dos financiamentos empresariais dentro da oposição. Com dinheiro e com apoio das mídias, não há condições de qualquer outro partido oposicionista concorrer com ele como aparelho ideológico preferencial da direita.
 
Como força política institucional, o PMDB, hoje, estaria muito mais apto a desempenhar esse papel – a substância ideológica peemedebista, depois de extraído o sumo da fisiologia, é francamente conservador. Mas não vai. Isso porque o PMDB de Eduardo Cunha e Renan Calheiros não é um partido nacional com chances de ser aparelhado por esses grupos, mas uma soma de chefes políticos estaduais e de grandes interesses econômicos comezinhos e particulares. Os pemedebistas sobrevivem do outro lado do balcão, o governista, com mais segurança, hoje com chances de grande autonomia, e a um custo muito mais alto para essas forças sociais do que a que impõe um PSDB sem quadros e sem personalidade própria. As fragilidades tucanas são atrativas para a direita social porque isso o torna altamente manipulável.
 
A ausência de vida interna do PSDB e o aparelhamento do partido pelos meios sociais e forças políticas conservadoras, ao longo dos últimos 12 anos, produziu um saldo desalentador. O candidato a presidente nas últimas eleições, derrotado, não consegue sequer formular uma estratégia de oposição minimamente consistente para construir uma personalidade própria, sua e do partido. A única estratégia política de Aécio Neves, presidente nacional tucano, é tirar a candidata vencedora nas eleições do ano passado do poder, a qualquer custo, e antes que cumpra o mandato para o qual foi eleita.
 
Nos Estados, Alckmin e Richa professam o conservadorismo que os apoiam usando a linguagem mais conservadora disponível: o uso da truculência policial, que se submete ao executivo estadual. No Senado, a profissão do preconceito como arma ideológica, e a mesma truculência, se consolidam. E tudo isso leva de roldão o que se considerava, há pouco mais de duas décadas, a nata da inteligência socialdemocrata do Brasil. Não é à toa que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fala, desfala e desordena pensamentos, como uma biruta numa tempestade de ventos. Este não é um cenário propício para o exercício da inteligência.

Texto original: CARTA MAIOR