sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A Globo não ataca o Governo, ataca o Estado nacional

O Jornal da Globo ultrapassou todos os limites da manipulação no sentido de execrar com a Petrobras, puro charlatanismo e economia de botequim.

J. Carlos de Assis*

O noticiário da Globo é tendencioso. Ninguém que seja medianamente informado pensará diferente. Entretanto, não sei se as vítimas desse noticiário perceberam que no afã de denegrir o Governo, o que está perfeitamente dentro de suas prerrogativas de imprensa livre, a Tevê Globo, sobretudo nas pessoas dos comentaristas William Wack e Carlos Sardenberg, passaram a atacar o Estado brasileiro, o que sugere crime de lesa-pátria.

O Jornal da Globo de ontem, terça-feira, ultrapassou todos os limites da manipulação no sentido de execrar com a Petrobras através de uma análise distorcida de fatos e estatísticas. Os dois comentaristas tomaram por base valor de mercado, comparando-o com dívidas, para sugerir que a empresa está quebrada. É puro charlatanismo, economia de botequim, violação das mais elementares regras de jornalismo sério.

Valor de mercado não mede valor de empresa; é simplesmente um indicador de solvência de ações num dia no ambiente ultra-especulativo de bolsas de valores. O que mede o valor real de uma empresa é seu patrimônio comparado com seu endividamento. As dívidas que a Petrobras contraiu para suas atividades produtivas, notadamente do pré-sal, são muitíssimo inferiores a seu patrimônio, no qual se incluem bilhões de barris medidos de óleo do pré-sal.

Evidentemente que os dois comentaristas da Globo torcem para que o petróleo fique por tempo indefinido abaixo dos 45 dólares para inviabilizar o pré-sal brasileiro. Esqueçam isso. É uma idiotice imaginar que a baixa do petróleo durará eternamente: a própria imprensa norte-americana deu conta de que os poços em desenvolvimento do óleo e do gás de xisto, os vilões dos preços baixos, tem um tempo de vida muito inferior ao que se pensava antes.

É claro que o preço baixo do petróleo tem um forte componente geopolítico a fim de debilitar, de uma tacada, a economia russa, a economia venezuelana e a economia iraniana – e muito especialmente a primeira. Mas o fato é que atinge também empresas americanas que entraram de cabeça no xisto, assim como países “aliados” que produzem petróleo. No caso do pré-sal, ele só se tornaria inviável no mercado internacional com o barril abaixo de 45 dólares.

Os ataques dos dois comentaristas da Globo à Petrobras têm endereço certo: é parte de uma campanha contra o modelo de partilha de produção do pré-sal sob controle único da Petrobras, contra a política de conteúdo nacional nas encomendas da empresa e contra a contratação das grandes construtoras brasileiras para os serviços de construção de plataformas e outras obras civis, principalmente de refinarias.

Esses três pontos foram assinalados no discurso de Dilma como inegociáveis. É uma decisão de Estado, não apenas de Governo. Sintomaticamente, os dois comentaristas da Globo sequer mencionaram esses pontos. Preferiram dar destaque maior ao noticiário pingado da Lava Jato, que, cá pra nós, já está ficando chato na medida em que não tem nada realmente novo, mas simples repetição à exaustão de denúncias anteriores.

P.S. Talvez os dois comentaristas teriam maior simpatia pela Petrobras se parassem para dar uma olhada nos anúncios televisivos sobre a performance vitoriosa da empresa, e que ela está pagando para serem exibidos na Globo, para mim de forma absurda e injustificável.

*Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.


Créditos da foto: Montagem feita com fotografia da Agência Senado

Texto original: CARTA MAIOR

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O festival de asneiras em torno dos 88 bilhões de reais da Petrobras


Postado em 28 jan 2015
por : Paulo Nogueira


Raras vezes tantas tolices foram publicadas e compartilhadas em cima de um número malcompreendido.

Entre no Twitter e digite Petrobras 88 bilhões, e você encontrará uma enxurrada daquilo que de mais imbecil a mente humana pode conceber.

A cifra de 88 bilhões de reais representaria aquilo que foi desviado por corrupção na Petrobras.

Para quem tem o mínimo de familiaridade com números, é um caso parecido com o do homem de oito metros.

Mas poucos tem, e a Folha, origem dos disparates, não está entre estes raros.

Foi a Folha que deu a “informação”. Ela estaria no balanço divulgado pela Petrobras.

Depois, a Folha corrigiu o erro, mas era tarde demais: a asneira já fora transmitida e incorporada por dezenas, centenas, milhares de analfabetos políticos que incluem suspeitos de sempre como Lobão e Danilo Gentilli.

Os 88 bilhões são um cálculo aproximado de ativos supervalorizados.

Imagine que, em vez da Petrobras, se tratasse da Abril. Suponha que a Veja, o principal ativo da casa, tivesse sido avaliada num balanço em 1 bilhão de reais.

Depois, se verificaria que o valor estava inflado em 50%, digamos. No ano seguinte, o balanço corrigiria o excesso, e a Veja surgiria com o valor de 500 milhões de reais.

É mais ou menos isso.

Dentro dos 88 bilhões, existe uma parcela associada aos desvios. Mas ninguém sabe quanto é.

Na reunião de diretoria que aprovou o balanço, chegou-se a cogitar – ou chutar — uma soma de 4 bilhões em desvios, com base nos 3% de taxa de propina de que falou o ex-diretor Paulo Roberto Costa.

Os 88 bilhões não fizeram a festa apenas de internautas sem noção de grandeza de números.

Numa rápida pesquisa no Twitter, encontrei o link de uma entrevista da CBN com um economista para falar dos “88 bilhões em desvios”.

Mesmo confessando não ter condição de analisar o balanço, ele concedeu uma entrevista de mais de seis minutos.

Pobres ouvintes da CBN. Uma rádio competente jogaria luzes onde há sombras. Mas a CBN cobre áreas cinzentas com ainda mais sombras.

Mas não se pode desprezar a contribuição da Petrobras para a confusão.

Tente entender o que a empresa quis dizer na sentença abaixo, que consta do balanço e é assinada por Graça Foster. Um determinado método foi descartado, e a explicação foi a seguinte:

“O amadurecimento adquirido no desenvolvimento do trabalho tornou evidente que essa metodologia não se apresentou como uma substituta ‘proxy’ adequada para mensuração dos potenciais pagamentos indevidos, pois o ajuste seria composto de diversas parcelas de naturezas diferentes, impossível de serem quantificadas individualmente, quais sejam, mudanças nas variáveis econômicas e financeiras (taxa de câmbio, taxa de desconto, indicadores de risco e custo de capital), mudanças nas projeções de preços e margens dos insumos, mudanças nas projeções de preços, margens e demanda dos produtos comercializados, mudanças nos preços de equipamentos, insumos, salários e outros custos correlatos, bem como deficiências no planejamento do projeto (engenharia e suprimento).”

Proust podia escrever parágrafos intermináveis, pelo talento excepcional em juntar palavras, mas nenhum redator de balanços pode fazer o mesmo.

Frases curtas, simples, fáceis de entender: eis o que um balanço deve conter, para ser compreendido para além dos números.

E então você tem o cruzamento de um jornal que admite o homem de oito metros com um balanço escrito numa linguagem não identificada – parecida, apenas, com o português.

Estava tudo pronto para um festival de asneiras nas redes sociais. Falsos gênios chegaram a fazer contas: com 88 bilhões de reais você compra x Fuscas e coisas do gênero.

Claro que o PSDB não poderia faltar.

Em sua conta no Twitter, o PSDB postou um quadro que dizia que “o prejuízo da Petrobras com corrupção pode chegar a 88 bilhões de reais.”

Neste caso, não é apenas erro. É má fé. É manipulação. É cinismo.

E uma tremenda duma mentira. O presidente do PSDB, Aécio, acaba de gravar um vídeo em que diz que Dilma mente.

Antes de ser julgada, a Petrobras tem que ser compreendida.

O barulho em torno dos 88 bilhões de reais mostra que a Petrobras, embora tão falada, é uma ilustre desconhecida para muitos brasileiros. Por isso, é fácil usá-la com propósitos canalhas por quem quer tudo — menos, efetivamente, contribuir para o bem dela.

Sobre o Autor

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


Texto original: DCM

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Dilma quer que ministros reajam a falsas notícias: Rápidos, claros e precisos



“Vamos falar mais, comunicar sobre nossos desafios, nossas iniciativas e nossos acertos”, destacou a presidenta durante reunião ministerial. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Presidenta orienta ministros a reagirem aos boatos “travando batalha da comunicação”


A presidenta Dilma Rousseff conclamou todos os ministros a combaterem a divulgação de informações falsas e boatos sobre ações do governo. A recomendação foi feita na na primeira reunião com seu novo ministério, realizada nesta terça-feira (27), na Granja do Torto, em Brasília.
“Nós devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente. Nós não podemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre. Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação, levem a posição do governo à opinião pública, a posição do ministério, a posição do governo à opinião pública. Sejam claros, sejam precisos, se façam entender. Nós não podemos deixar dúvidas”, argumentou a presidenta.
Dilma citou exemplos de desinformação que permeiam a opinião pública e correm as redes sociais como a retirada das conquistas sociais e trabalhistas com as novas medidas econômicas do governo.
“Quando for dito que vamos acabar com as conquistas históricas dos trabalhadores, respondam em alto e bom som: ‘Não é verdade! Os direitos trabalhistas são intocáveis, e não será o nosso governo, um governo dos trabalhadores, que irá revogá-los’”, enfatizou.

A presidenta ainda citou a questão da mobilidade urbana nos municípios e lembrou do apoio aos governos estaduais, responsáveis pelo abastecimento de água.
“Quando se levantar a questão da mobilidade urbana em nossas cidades, falem dos R$ 143 bilhões que estamos investindo em 118 municípios de grande e médio porte, em todos os Estados. Quando for mencionada a crise da água, lembrem-se que desde o início desta que é a maior estiagem das últimas décadas, o governo federal apoiou, está apoiando e continuará apoiando, de todas as formas, inclusive com vultosos investimentos, com investimentos elevados, as demandas dos governos estaduais”, ressaltou.
A presidenta pediu ainda aos ministros que levem ao conhecimento da população os compromissos assumidos e desafios superados go governo em suas áreas.
“Vamos falar mais, comunicar sobre nossos desafios, nossas iniciativas e nossos acertos. Vamos mostrar a cada cidadão, a cada cidadã brasileira, que não alteramos um só milímetro o nosso compromisso com o projeto vencedor na eleição, com o projeto de desenvolvimento que nós estamos implementando desde 2003, um projeto de crescimento com distribuição de renda”, lembrou ela.
Leia também:
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Texto original: VI O MUNDO

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Às vezes você tem que ouvir o premiê da China para entender a economia do Brasil

Postado em 22 jan 2015
por : Paulo Nogueira


Li Keqiang, premiê chinês
É extraordinário.

Às vezes você tem que ouvir o premiê da China para entender a economia do Brasil, tamanha a carga de má informação e análise tendenciosa da mídia brasileira.

Em Davos, o premiê chinês Li Keqiang definiu falou sobre a desaceleração de seu país. Nos anos do milagre chinês, o crescimento bateu em 14% ao ano.

Para 2015, a expectativa é 7%. O universo treme, hoje, diante do fantasma de uma China sem vigor suficiente para empurrar a economia mundial.

“O arrefecimento da China é parte do ajuste da economia mundial.”

Troque a China pelo Brasil e você terá o diagnóstico da economia nacional.

É uma verdade simples e incontestável: o arrefecimento do Brasil é parte do ajuste da economia mundial.

Mas quantas vezes você viu isso?

Ao longo da campanha, com seu peculiar cinismo demagógico, Aécio disse copiosas vezes o contrário.

Era como se o Brasil fosse um caso isolado de baixo crescimento numa economia global intrepidamente aquecida.

Nesta mistificação, Aécio recebeu a contribuição milionária de colunistas econômicos como Míriam Leitão e Carlos Sardenberg.

Gosto de dizer que um dos propósitos do jornalismo é jogar luzes onde existem sombras. O que o jornalismo econômico fez foi o inverso: mais sombras onde já havia sombras criadas por Aécio.

Não se trata de negar erros que possam ter sido cometidos na política econômica. Mas de assentar o debate na base a partir da qual a discussão pode ficar séria: a economia mundial vive desde 2008 uma crise séria, e o Brasil é parte do todo.

Num primeiro momento, depois de 2008, os países emergentes pareceram a salvação do mundo. Mas com o correr do tempo ficou claro que não era bem assim.

Também os emergentes passaram a sofrer: China, Brasil, Índia e Rússia.

Na raiz da crise iniciada em 2008 estava a ressaca do thatcherismo, a doutrina conservadora da premiê britânica Margaret Thatcher.

Moda nos anos 1980, e copiado no Brasil na década seguinte por FHC, o thatcherismo defendia coisas como a desregulamentação do mercado financeiro.

Entregues à própria ganância, os grandes bancos do mundo foram fazendo operações cada vez mais arriscadas.

Uma hora a realidade se impôs e a festa acabou.

A quebra espetacular e em dominó de muitos daqueles bancos foi a senha para a crise que pôs de joelhos a economia global.

No Brasil, a ortodoxia thatcherista ressurgiu no debate graças a Armínio Fraga, o ex-futuro ministro da economia de Aécio.

Fraga é Thatcher desde antes de nascer.

O eleitorado disse não ao thatcherismo. Disse 54 milhões de vezes não. Mas Dilma parece não ter achado bem isso, ainda que vitoriosa com uma campanha que negava a ortodoxia, e colocou Joaquim Levy para comandar a economia.

Este é um bom debate: por que essa concessão ao conservadorismo econômico batido nas urnas?

Mas, enquanto for invocada a falácia do “Brasil-estagnado-num-mundo-próspero-e-feliz”, estaremos condenados a debates que apenas emburrecem os que os levam a sério.

Texto original: Paulo Nogueira (DCM)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O PSDB e sua obra-prima de gestão: o racionamento em SP

'Estamos fechando a torneira porque em março, no mais tardar em junho, SP fica sem água', admitiu presidente da Sabesp. Esse é o legado do choque de gestão?

por: Saul Leblon

Após um ano de dissimulações, o PSDB oficializou o racionamento de água em SP nesta 4ª feira.

O novo presidente da Sabesp , Jerson Kelman, em entrevista ao SPTV, da Globo, anunciou um corte drástico no fornecimento, que caiu de 16 mil litros/s na 3ª feira, para 13 mil l/s a partir de agora.

O racionamento anunciado oficializa uma realidade que já atinge mais de seis milhões de habitantes, cujo abastecimento declina há um ano acumulando um corte de 60% no fornecimento padrão da Sabesp às suas torneiras (de 33 mil l/s para 13 mil l/s).

E isso é só o começo.

'Estamos fechando a torneira porque em março, no mais tardar em junho, SP fica sem água', admitiu presidente da Sabesp na entrevista.

Nada como um copo após o outro.

Na reta final da campanha presidencial de 2014, quando o então diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, advertiu na Assembleia Legislativa de São Paulo, que o abastecimento da cidade estava, literalmente, por um fio de água, foi chamado de ‘bandido’ pelo grão tucano, vereador Andrea Matarazzo.

Ele disse aquilo que o PSDB se recusava a admitir: restavam apenas 200 bilhões de litros do volume morto do sistema Cantareira, que provê boa parte da água consumida na cidade.

O pior de tudo: a derradeira reserva de água da cidade encontra-se disponível na forma de lodo.

E será com isso que a sede paulistana terá que ser mitigada caso não chova o suficiente até o final de março.

Como de fato não tem chovido nos mananciais, nem há expectativa séria de que isso ocorra suficientemente até o final da estação das águas, avizinha-se o que o novo presidente da Sabesp finalmente admitiu: ‘em março, no mais tardar em junho, SP fica sem água'.

Corta e volta para a campanha eleitoral de Aécio Neves em 2014.

O estandarte da eficiência tucana era martelado diuturnamente como um tridente contra aquilo que se acusa de obras e planos nunca realizados por culpa da (Aécio enchia a boca para escandir as sílabas) ‘má go-ver-nan-ça’.

Corta de novo e volta para o presente com o foco na contagem regressiva anunciada por Jerson Kelman, o novo titular do espólio da Cantareira e da Sabesp.

Vamos falar um pouco de governança?

Atribuir tudo à ingratidão a São Pedro é um pedaço da verdade.

Num sugestivo contorcionismo eleitoral, Aécio negou a esse pedaço da verdade a explicação para a alta nos preços dos alimentos afetados pela seca.

Ou isso ou aquilo.

Estocar comida, que não grãos, caso do vilão tomate, por exemplo, que pressionou os índices de alimentos no período eleitoral, está longe de ser uma opção exequível em larga escala no enfrentamento de uma seca.

Mas estocar água e planejar dutos interligados a mananciais alternativos, calculados para enfrentar situações limite, mesmo que de ocorrência secular, é uma obrigação primária de quem tem a responsabilidade pelo suprimento de grandes concentrações urbanas.

A Sabesp sob o comando do PSDB detém essa responsabilidade há 20 anos em São Paulo.

Omitiu-se, com as consequências previsíveis que agora assombram o horizonte de milhões de moradores da Grande São Paulo.

Carta Maior lembrou no período eleitoral --enquanto Geraldo Alckmin fazia expressão corporal de seriedade, que Nova Iorque e o seu entorno, com uma população bem inferior a de São Paulo (nove milhões de habitantes), nunca parou de redimensionar a rede de abastecimento da metrópole movida por uma regra básica de gestão na área: expansão acima e à frente do crescimento populacional.

Tubulações estendidas desde as montanhas de Catskill, mencionou-se então, situadas a cerca de 200 kms e 1200 m de altitude oferecem ao novaiorquino água pura, dispensada de tratamento e potável direto da torneira.

Terras e mananciais distantes são periodicamente adquiridos pelos poderes públicos de NY para garantir a qualidade e novas fontes de reforço da oferta.

O sistema de abastecimento da cidade reúne três grandes reservatórios que captam bacias hidrográficas preservadas em uma área de quase 2.000 km2.

A adutora original foi inaugurada em 1890; em 1916 começou a funcionar outro ramal a leste da cidade; em 1945 foi concluída a obra de captação a oeste, que garante 50% do consumo atual.

Mesmo com folga na oferta e a excelente qualidade oferecida, um novo braço de 97 kms de extensão está sendo construído há 20 anos.

Para reforçar o abastecimento e prevenir colapsos em áreas de expansão prevista da metrópole.

Em 1993 foi concluída a primeira fase desse novo plano.

Em 1998 mais um trecho ficou pronto.

Em 2020, entra em operação um terceiro ramal em obras desde o final dos anos 90. Seu objetivo é dar maior pressão ao conjunto do sistema e servir como opção aos ramais de Delaware e Catskill, que estão longe de secar.

Uma quarta galeria percorrerá mais 14 kms para se superpor ao abastecimento atual do Bronx e Queens.

Tudo isso destoa de forma superlativa da esférica omissão registrada em duas décadas ininterruptas de gestão do PSDB no Estado de São Paulo, objeto de crítica até de um relatório da ONU, contestado exclamativamente pelo governador reeleito, Geraldo Alckmin.

Se em vez do mantra do choque de gestão, os sucessivos governos de Covas, Ackmin, Serra e Alckmin tivessem reconhecido o papel do planejamento público, São Paulo hoje não estaria na iminência de beber lodo.

Ou nem isso ter para matar a sede.

Pergunta aos sábios tucanos: caiu a ficha?

É verdade que o Brasil todo desidrata sob o maçarico de um evento climático extremo.

Sinal robusto dos tempos.

Mas desde os alertas ambientais dos anos 90 (a Rio 92, como indica o nome, aconteceu no Brasil há 22 anos) essa é uma probabilidade que deveria estar no monitor estratégico de governantes esclarecidos.

Definitivamente não se inclui nessa categoria o tucanato brasileiro: em 2001 ele já havia propiciado ao país um apagão de energia elétrica pela falta de obras e a renúncia deliberada ao planejamento público.

Os mercados cuidariam disso com mais eficiência e menor preço –ou não era isso que se falava e se volta a ouvir agora sobre todos os impasses do desenvolvimento brasileiro?

Ademais de imprevidente, o PSDB desta vez mostrou-se mefistofelicamente oportunista na mitigação dos seus próprios erros.

Ou seja, preferiu comprometer o abastecimento futuro de milhões de pessoas, a adotar um racionamento preventivo que alongaria a vida útil das torneiras, mas poria em risco o seu quinto mandato em São Paulo.

É importante lembrar em nome da tão evocada liberdade de imprensa: a dissimulação tucana não conseguiria concluir a travessia eleitoral sem a cumplicidade da mídia conservadora que, mais uma vez, dispensou a um descalabro do PSDB uma cobertura sóbria o suficiente para fingir isenção, sem colocar em risco o continuísmo no estado.

É o roteiro pronto de um filme de Costa Gavras: as interações entre o poder, a mídia, o alarme ambiental e o colapso de um serviço essencial, que deixa uma das maiores metrópoles do mundo no rumo de uma seca épica.

O PSDB que hoje simula chiliques com o que acusa de ‘uso político da água’, preferiu ao longo das últimas duas décadas privatizar a Sabesp, vender suas ações nas bolsas dos EUA e priorizar o pagamento de dividendos a investir em novos mananciais.

Há nesse episódio referencial um outro subtexto para o filme de Costa Gavras: a captura dos serviços essenciais pela lógica do capital financeiro.

Enquanto coloca em risco o abastecimento de 20 milhões de pessoas, revelando-se uma ameaça à população, a Sabesp foi eleita uma das empresas de maior prestígio entre os acionistas estrangeiros.

Mérito justo.

Como em um sistema hidráulico, o dinheiro que deveria financiar a expansão do abastecimento, vazou no ralo da captura financeira. Encheu bolsos endinheirados às custas de esvaziar as caixas d’água dos consumidores.

Não é uma metáfora destes tempos. É a síntese brutal da sua dominância.

Mesmo que a pluviometria do verão fique em 70% da média para a estação, o sistema Cantareira - segundo os cálculos da ANA - ingressará agora no segundo trimestre de 2015 com praticamente 5% de estoque (hoje está com algo em torno de 6%).

Ou seja, São Paulo chegará no início da estação seca de 2015 com a metade da reserva que dispunha em período equivalente de 2014 e muito perto da marca desesperadora do início deste verão,quando ainda apostava no alívio da estação das chuvas --inexistente no inverno.

A seca que espreita as goelas paulistanas não pode ser vista como uma fatalidade.

Dois anos é o tempo médio calculado pelos especialistas para a realização de obras que poderiam tirar São Paulo da lógica do lodo.

Portanto, se ao longo dos 20 anos de reinado tucano em São Paulo, o PSDB de FH e Aécio Neves, tivesse dedicado 10% do tempo a planejar a provisão de água, nada disso estaria acontecendo.

Deu-se o oposto.

De 1980 para cá, a população de São Paulo mais que dobrou. A oferta se manteve a mesma com avanços pontuais.

O choque de gestão tucano preferiu se concentrar em mananciais de maior liquidez, digamos assim.

Entre eles, compartilhar os frutos das licitações do metrô de SP com fornecedores de trens e equipamentos. A lambança comprovada e documentada sugestivamente pela polícia suíça, até agora não gerou nenhum abate de monta no poleiro dos bicos longos.

‘Todos soltos’, como diz a presidenta Dilma.

A rede metroviária de São Paulo, embora imune a desequilíbrios climáticos, de certa forma padece da mesma incúria que hoje ameaça as caixas d’agua dos paulistanos.

Avulta daí um método – o jeito tucano de governar não pode ser debitado na conta de São Pedro.

O salvacionismo tucano em São Paulo não conseguiu fazer mais que 1,9 km de metrô em média por ano, reunindo assim uma rede inferior a 80 kms, a menor entre as grandes capitais do mundo.

A da cidade do México, por exemplo, que começou a ser construída junto com a de São Paulo, tem 210 kms.

Não deixa de ser potencialmente devastador para quem acusa agora o PT de jogar o país num abismo de má gestão só ter a oferecer à população de SP a seguinte progressão: racionamento drástico imediato, seguido de seca de consequências imponderáveis navida de uma das maiores manchas urbanas do mundo.

É essa a perspectiva para um serviço essencial na capital do estado onde o festejado choque de gestão está no poder há 20 anos.

Ininterruptos.

Uma questão para refletir:

O legado recomenda uma recidiva da receita para todo o Brasil, como exigem os centuriões do mercado e alguns cristãos novos petistas?

A ver.

Texto original: CARTA MAIOR

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O terrorismo, a extrema-direita e o suicídio europeu

O ato terrorista contra os jornalistas do Charlie Hebdo é apenas a ponta do iceberg. A Europa inteira está assentada sobre uma bomba-relógio.

Flávio Aguiar
O ato terrorista contra os jornalistas do Charlie Hebdo francês, em Paris, que também provocou a morte de um funcionário da revista, de dois policiais no ato e possivelmente de mais um em tiroteio posterior, é apenas a ponta de um iceberg.

A Europa inteira está assentada sobre uma bomba-relógio. Não é uma bomba comum, porque casos como o do Charlie Hebdo mostram que ela já está explodindo. Nas pontas da bomba estão duas forças antagônicas, com práticas diferentes, porém com um traço em comum: a intolerância herdeira dos métodos fascistas de antanho.

De um lado, estão pessoas e grupos fanatizados que reivindicam uma versão do islamismo incompatível com o próprio Islã e o Corão, mas que agem em nome de ambos. Os contornos e o perfil destes grupos estão passando por uma transformação – o que aconteceu também nos Estados Unidos, no atentado em Boston, durante a maratona, e no Canadá, no ataque ao Parlamento, em Ottawa.

Cada vez mais aparecem “iniciativas individuais” nas ações perpetradas. Este tipo de terrorismo se fragmentou em pequenos grupos – muitas vezes de familiares – que agem “à la cria”, como se dizia, em ações que parecem “espontâneas” e até “amalucadas”, mas que obedecem a princípios e uma lógica cuja versão mais elaborada, para além da “franquia” em que a Al-Qaïda se transformou, é o Estado Islâmico que se estruturou graças à desestruturação do Iraque e da Síria. São fanáticos que negam a política consuetudinária como meio de expressão de reivindicações e direitos: negam, no fundo, a própria ideia de “direitos”, inclusive o direito à vida, como fica claro no gesto assassino que vitimou o Charlie Hebdo.

Do outro, estão os neofascistas – ou antigos redivivos – que se agarram à bandeira do anti-islamismo também fanático como meio de arregimentar “as massas” em torno de si e de suas propostas. Agem de acordo com as características próprias dos países em que atuam, mobilizando, de acordo com as circunstâncias, as palavras adequadas. No Reino Unido, criaram o United Kingdom Independence Party – UKIP, Partido da Independência do Reino Unido, nome malandro que oculta e ao mesmo tempo carrega a ojeriza pela União Europeia. Na França têm a Front Nationale da família Le Pen, que mobiliza o velho chauvinismo francês que lateja o tempo todo desde o caso Dreyfus, ainda no século XIX. Na Alemanha é feio ser nacionalista alemão, desde o fim da Segunda Guerra. Então criou-se um movimento – PEGIDA – que se declara de “Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente”, procurando uma fachada pseudamente universalista para seus preconceitos anti-Islã e anti-imigrantes.

Esta, aliás, é a bandeira comum destes movimentos: fazer do imigrante ou do refugiado político ou econômico o bode-expiatório da situação de crise que o continente vive, assim como no passado se fez com o judeu e ainda hoje se faz com os roma e sinti(ditos ciganos). Na Itália este fascismo latente se organiza com o nome de “Liga Norte”, mobilizando o preconceito social contra o sul italiano, tradicionalmente mais empobrecido. São movimentos que, embora busquem por vezes o espaço da política partidária, como é o caso do UKIP e da Front Nationale, ou mesmo da Liga Norte, têm como cosmovisão a negação da política como espaço universal de manifestação de direitos e reivindicações. Negam a política como campo de manifestação das diferenças, barrando ao que consideram como alteridade o direito à expressão ou mesmo aos direitos comuns da cidadania. O exemplo histórico mais acabado disto foi o próprio nazismo que, chegando ao poder pelas urnas, fechou-as em seguida.

O caldo de cultura em que vicejam tais pinças contrárias à vigência dos princípios democráticos é o de uma crise econômico-financeira que se institucionalizou como paisagem social. Na Europa a tradição é a de que crises deste tipo levam a saídas pela direita. O crescimento do UKIP e da Front Nationale, partidos mais votados nas respectivas eleições para o Parlamento Europeu, em maio de 2013, é eloquente neste sentido. Na Alemanha as manifestações de rua do PEGIDA vêm crescendo sistematicamente, atingindo o número de 18 mil pessoas na última delas, na cidade de Dresden, reduto tradicional de manifestações nostálgicas em relação ao passado nazismo devido a seu (também criminoso) bombardeio ao fim da Segunda Guerra pelos britânicos.

Deve-se notar, como fator de esperança, que manifestações contra estas formas de intolerância – o terrorismo que reinvindica o Islã como inspiração e os movimentos de extrema-direita – têm tomado corpo também. Houve manifestações de solidariedade aos mortos na França em várias cidades europeias e na Alemanha manifestações contra o PEGIDA reuniram milhares de pessoas em diferentes cidades. Mas pelo lado da exprema-direita cresce a aceitação de suas palavras de ordem na frente institucional (líderes do novo partido alemão Alternative für Deutschland têm acolhido reivindicações do PEGIDA) e junto à opinião pública. Na Alemanha recente pesquisa trouxe à baila o dado preocupante de que 61% dos entrevistados se declararam “anti-islâmicos”.

Como ficou feio alegar motivos racistas, o que se alega agora no lado intolerante é a “defesa da religião” ou a “incompatibilidade cultural”. Os assassinos do Charlie Hebdo gritavam – segundo testemunhas – estarem “vingando o profeta”, referência a caricaturas de Maomé consideradas ofensivas. Na outra ponta jovens da Front Nationale, também no ano passado, recusavam a pecha de racistas e declaravam aceitar o mundo muçulmano – em “seus territórios”, não na Europa agora dita “judaico-cristã”, puxando para seu aprisco a etnia ou religião que a extrema-direita europeia antes condenava ao ostracismo, ao campo de concentração e ao extermínio.

Os partidos e políticos tradicionais, em sua maioria, estão brincando com fogo, sem se dar conta, talvez. Não aceitam o reconhecimento, por exemplo, que grupos por eles apoiados na Ucrânia são declaradamente fascistas, homofóbicos e até antissemitas. Preferem exacerbar o sentimento antirrusso e anti-Putin. Durante mais de uma década as duas agências do serviço secreto alemão concentraram-se em esmiuçar a vida dos partidos e grupos de esquerda (além dos possíveis terroristas islâmicos) e negligenciaram criminosamente o controle sobre os grupos e terroristas alemães. No momento o “grande terror” que se alastra no establishment europeu não é o de que a extrema-direita esteja em ascensão, embora isto também preocupe, mas é o provocado pela possibilidade de que um partido de esquerda, o Syriza, vença as eleições na Grécia (marcadas para 25 de janeiro), forme um governo, e assim ponha em risco os sacrossantos pilares dos planos de austeridade.

Nega-se o pilar da democracia: contra o Syriza agitam-se as ameaças de expulsão da Grécia da zona do euro e até da União Europeia; ou seja, procura-se castrar a livre manifestação do povo grego através da chantagem política e econômica.
Se as coisas continuarem como estão, poderemos estar assistindo o suicídio da Europa que conhecemos. O que nascerá destes escombros ainda se está por ver, mas boa coisa não será, nem para a Europa, nem para o mundo.

(*) Originalmente publicado no Blogue do Velho Mundo, na Rede Brasil Atual.

Replicado de : CARTA MAIOR

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Por que a polícia de Nova York vira as costas ao prefeito?

Violenta, racista e acostumada à impunidade, corporação não tolera governante que optou por constituir uma família multirracial.

Terrel Jermaine Starr - Alternet

Em setembro de 1992, a Associação Beneficente dos Policiais (Patrolmen’s Benevolent Association) organizou a invasão da prefeitura de Nova York, por milhares de policiais, em protesto contra a proposta do então prefeito, David Dinkins, de criar uma agência civil independente para investigar abusos policiais. Os oficiais pisotearam carros, derrubaram barricadas e ocuparam a ponte do Brooklyn. Entre as queixas estava o fato de Dinkins recusar-se a dar-lhes armas semi-automáticas.

Uma das palavras de ordem era “O prefeito está quebrado” (“The Mayor’s on Crack”). O ex-prefeito relatou também que muitos agentes e oficiais o chamaram de “preto” [nigger]. Ele acusou Rudy Giuliani [que seria eleito prefeito em 1994] de estar envolvido com os policiais e levá-los quase ao motim.

“Será que os policiais teriam agido assim se o prefeito fosse branco?”, perguntou em seu livro de memórias, Vida de um prefeito: governando o magnífico mosaico de Nova York (A Mayor’s Life: Governing New York’s Gorgeous Mosaic). “De modo algum. Se tivessem feito isso com Ed Kock, teriam sido todos presos.”

Ironicamente, o Departamento de Polícia de Nova York (NYPD, na sigla em inglês) agiu com desrespeito semelhante com o prefeito atual, Bill de Blasio – que é branco. Embora não tenha chegado exatamente ao mesmo nível de violência e fúria com de Blasio, a luta contra ele não é menos virulenta. O ex-prefeito Rudy Giuliani, o presidente do sindicato do NYPD, Patrick Lynch, e muitos outros da elite do poder no Departamento de Polícia de NY veem em de Blasio o que enxergavam em Dikins: um político não-branco que ousa desafiar o velho e bom sistema de policiamento com impunidade.

Embora de Blasio não seja negro, sua família é. Sua mulher, Chirlane McCray, a filha, Chiara, e o filho, Dante, são parte da mesma população que o NYPD vem brutalizando há décadas. De Blasio fez campanha em favor de uma reforma no sistema policial e o adolescente Dante figurou numa peça publicitária declarando que, se eleito, seu pai acabaria com os “enquadros” para revistas. Uma vez prefeito, de Blasio colocou um fim à defesa dessa tática de policiamento na cidade. Os agentes e oficiais do NYPD viram nisso uma ofensa pessoal. Daquele momento em diante, ele tornou-se o Inimigo Público nº 1 do NYPD.

No começo de dezembro, depois de um tribunal decidir pelo não indiciamento do policial que causou a morte de Eric Garner, de Blasio expressou, numa igreja de Staten Island, aquilo que muitos pais negros nova-iorquinos vêm dizendo há anos a seus filhos: que teme pelo filho, se ele algum dia for parado pela polícia.

De Blasio e sua família: Chirlane, Dante e Chiara

“Isso me toca profunda e pessoalmente”, disse ele. “Estava outro dia na Casa Branca e o presidente dos Estados Unidos, que conheceu Dante há alguns meses, virou-se para mim e disse que Dante o fazia recordar-se de si próprio na adolescência. Disse ainda: sei que você vê essa crise por uma lente muito pessoal. Respondi que sim. Porque, durante anos, Chirlane e eu tivemos de conversar com Dante sobre os perigos que ele poderia enfrentar. Um rapaz bom, jovem obediente à lei, que nunca pensaria em fazer nada de errado, e apesar disso, por causa da história que ainda paira sobre nós, enfrenta esse perigo. Tivemos que treiná-lo, literalmente, como têm feito famílias da cidade inteira, durante décadas, para ser especialmente cuidadoso em qualquer encontro que venha a ter com policiais – cuja função seria protegê-lo.”

Essa declaração – expressa cuidadosamente e articulando a vida como é vivida por muitos negros novaiorquinos – enfureceu o NYPD e sua enraizada cultura de supremacia branca. A polícia, em especial o chefe do sindicato, Lynch, declarou uma guerra vil ao prefeito que ousa questionar o status quo. A sugestão de que policiais possam ser despojados do seu ilimitado direito de agir como criminosos é assustadora para os agentes que vêm brutalizando minorias em Nova York, impunemente, há anos. O que há por trás dessa fúria? Não consigo pensar em nada além de racismo. Foi um desrespeito profundo os policiais virarem as costas a de Blasio quando ele falou no funeral do oficial Rafael Ramos [e de Wenjian Liu], mas eles vão mais longe, ao instigar o ódio de raça.

Como relatou Max Blumenthal, da Alternet, no fórum online On Thee Rant, oficiais do NYPD, da ativa e aposentados, costumam usar linguagem racista ao referir-se a de Blasio e a afro-americanos:

Quando o prefeito contratou uma ex-colaboradora de Sharpton, Rachel Noerdlinger, como chefe de gabinete de sua esposa, Chirlane McCray, e defendeu Noerdlinger de uma torrente de ataques da imprensa por seu relacionamento com um ex-presidiário e os posts no Facebook de seu filho referindo-se aos policiais como “porcos”, o ódio do NYPD explodiu.

No forum Thee Rant, os comentários concentraram-se na raça de Noerdlinger (ela é negra) e no seu gênero. Enquanto alguém a descrevia como “uma porra de uma erva daninha num depósito de lixo de vida baixa POS”, outro oficial escreveu sobre ela e seu parceiro: “A cadela vai cutucando a bunda do mofo [do inglês mother fucher], se é que ainda não fez isso, para fazer barulho de negros no tribunal e ele começará a massacrá-la, e então o júnior irá saltar e agarrar seu pescoço!”

“Eles nasceram PR_ _OS, vivem como PR_ _OS e geralmente morrem como PR_ _OS”, acrescentou outro policial. Essa linguagem era típica dos comentários no fórum quando o nome de Noerdlinger era mencionado.

Os fatos e números falam por si. Nos últimos 20 anos, o NYPD praticou brutalidade impunemente contra minorias, no governo dos prefeitos de Giuliani e Bloomberg. De 2001 a 2013, 81% dos que receberam intimações em consequência da política de “janelas arrombadas” eram negros ou latinos; nove entre dez dos que foram parados para revista não eram culpados de crime nenhum. Outro relato do New York Daily News revela que, nos 179 tiroteios que envolveram policiais nos últimos 15 anos, 86% das vítimas eram negras ou hispânicas quando havia informação sobre raça. Apenas três policiais foram indiciados naqueles casos; só um foi condenado.

A mulher, o filho e a filha do prefeito de Blasio poderiam facilmente estar entre essas estatísticas, e de Blasio sabe disso. Seu desejo de promover uma reforma na polícia não se deve apenas à proteção das minorias; ele sabe que os membros de sua família negra correm sempre o risco de ser vitimizados por um policial perigoso. Para ele, é uma questão pessoal. Mas é também pessoal para a estrutura de poder branco no NYPD. Eles odiaram quando Dinkins tentou conter práticas abusivas e tornar a polícia mais responsável, e ficam talvez mais enfurecidos quando o prefeito tenta lhes dizer que têm de tratar melhor pessoas negras e mestiças.

O NYPD não gosta sequer dos seus próprios oficiais negros. Em 2004, 50 policiais negros e latinos entraram com uma ação coletiva contra o NYPD alegando preconceito racial no sistema disciplinar do departamento; a prefeitura fez um acordo de 25 milhões de dólares para encerrar o caso. Se o NYPD discrimina seus próprios policiais, não é exagero acreditar que não gosta nada de servir um prefeito que deseja acabar com a discriminação racial em suas fileiras. Creio que Lynch e muitos outros no NYPD não odeiam só de Blasio — eles odeiam sua família, por representar uma população da cidade que o prefeito manifestou interesse pessoal em proteger.

Para policiais racistas, o fato de de Blasio levar sua família negra para a mansão da prefeitura no Upper East Side, bairro exclusivo e branco, é o equivalente a um latifundiário casar-se com uma escrava negra e trazê-la para dentro da Casa Grande. Demandar uma reforma no NYPD é como pedir a donos de escravos que aceitem a Abolição da Escravatura.

Antes de seguir adiante, é preciso dizer como entendo o policiamento nos Estados Unidos. Considero o policiamento como descendente do US Marshals Service, agência acusada de perseguir escravos foragidos. Na minha visão, o policiamento nas cidades norte-americanas lembra muito os dias de perseguição aos escravos. Para muitos policiais brancos uniformizados, a arma fornecida pelo departamento equivale ao chicote do feitor.

Por décadas, o NYPD vem batendo em negros e latinos nova-iorquinos para submetê-los, e estamos fartos disso. Os protestos em Nova York refletem essa frustração e é isso que é tão ameaçador para Lynch. Ele sabe que o homem que matou os dois policiais no Brooklyn não tinha conexão com os protestos, mas tratou de criminalizar os manifestantes, assim como o NYPD faz, cotidianamente, com negros e mestiços nova-iorquinos. A tentativa de Lynch de criminalizar os manifestantes pacíficos é uma tática diversionista extraída diretamente do manual de supremacia branca. Não está funcionando e Lynch percebe isso.

Sabemos que de Blasio não é perfeito. Os ativistas não gostaram quando ele pediu que parassem de protestar, até que os dois oficiais assassinados fossem enterrados, mas a maioria não o vê como o problema principal. Os manifestantes querem reformar o sistema, com de Blasio no governo ou não.

Os ataques contra ele não têm nada a ver com sua política. Trata-se, isso sim, de um prefeito que expressa publicamente a preocupação com sua família negra, a qual é tão semelhante aos nova-iorquinos que os policiais vêm aterrorizando há anos. Para Lynch e muitos no NYPD, a possibilidade de alguém tentar colocar rédeas nessa brutalidade é insuportável.

* Terrel Jermaine Starr é editor senior no AlterNet

Tradução Inês Castilho - Outras Palavras

Créditos da foto: Tiocfaidh ár lá 1916 - Flickr

Texto original: CARTA MAIOR

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

'Máfia das próteses' e os votos de Aécio

As associações de medicina não fizeram tanto barulho quanto contra o 'Mais Médicos,' e um dos acusados pregava no facebook Aécio contra a corrupção...

Altamiro Borges - altamiroborges.blogspot.com.br

O programa Fantástico, da TV Globo, apresentou no último domingo (4) uma longa reportagem sobre a “máfia das próteses”. Ele revela que alguns médicos prescrevem cirurgias desnecessárias, colocando em risco a vida de pacientes, para ganhar comissões das empresas que comercializam os produtos para os implantes. Eles também fraudam documentos para obter liminares judiciais que obrigam o SUS e os planos privados de saúde a pagar por procedimentos superfaturados. A negociata renderia até R$ 100 mil por mês aos médicos corruptos. Segundo o Fantástico, a “máfia das próteses” movimenta cerca de R$ 12 bilhões por ano.

O repórter Giovanni Grizotti levou três meses para produzir a reportagem. Ele se fez passar por médico e, com uma câmera escondida, flagrou várias destas transações criminosas. Da responsável pela contabilidade de uma grande clínica em São Paulo, ele ouviu um relato assustador: “Aquilo ali parecia uma quadrilha. Uma quadrilha agindo e lesando a população... Um exemplo que eu tenho aqui: R$ 260 mil de cirurgia, R$ 80 mil pra conta do médico. Tem uma empresa pagando R$ 590 mil de comissão para o médico no período aqui de seis meses”. Em outros cinco Estados visitados pelo repórter, as mesmas cenas de corrupção e de desrespeitos aos pacientes. 

Guerra aos médicos mafiosos

Diante do escândalo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, decidiu declarar guerra à máfia das próteses ortopédicas e acionou a Polícia Federal, a Receita Federal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Vamos determinar que a PF proceda às investigações para responsabilizar e punir os responsáveis”, afirmou ao Jornal do Brasil nesta segunda-feira (5). O Tribunal de Contas da União (TCU) já havia estranhado o aumento de processos para viabilizar os implantes em todo país. Na esfera federal, os gastos com medicamentos e insumos para cumprimento de decisões judiciais passaram de R$ 2,5 milhões, em 2005, para R$ 266 milhões em 2011.

Já o ministro da Saúde, Arthur Chioro, anunciou a criação de um grupo interministerial, formado pelos ministérios da Saúde, da Justiça e da Fazenda, e ainda pelos conselhos nacionais de secretários municipais e estaduais, “para que, juntas, as três pastas possam corrigir e aperfeiçoar todas as questões relacionadas ao uso dos dispositivos médicos. Segundo o ministro, em até 180 dias serão apresentadas medidas de reestruturação do setor, visando tanto a área pública quanto a privada... Só em 2013 o Sistema Único de Saúde gastou R$ 1,2 bilhão com procedimentos envolvendo próteses, órteses e dispositivos especiais”, descreve o Jornal do Brasil.

Cadê a indignação dos "éticos"?

O curioso em mais este escândalo é que até agora as associações nacionais e regionais de medicina – que fizeram tanto barulho contra o programa “Mais Médicos” do governo federal e destilaram veneno anticomunista e racista contra os profissionais cubanos – estão em silêncio. Nenhum discurso mais contundente ou peça publicitária nas emissoras de tevê. Nada de protestos histéricos nas praças públicas contra a corrupção. Outro silêncio emblemático é o de Aécio Neves, o cambaleante e derrotado presidenciável do PSDB. Na campanha eleitoral, o senador mineiro-carioca obteve o apoio de inúmeros médicos “indignados com os petralhas e mensaleiros”.

Pelas redes sociais circula, inclusive, a informação de que alguns dos médicos metidos na “máfia das próteses” fizeram campanha para Aécio Neves. Esta suspeita a TV Globo não levou ao ar – talvez por falta de tempo para uma apuração rigorosa. Um dos ortopedistas citados na reportagem é Fernando Sanchis. Ele falsificaria assinaturas em ações judiciais para superfaturar os produtos dos implantes. “Procurado pelo Fantástico, o cirurgião Fernando Sanchis nega que receba comissão de fornecedores de próteses. Mas reconhece que pode ter assinado laudos em nome de outros médicos”, relata o jornalista Giovanni Grizotti.

Em sua página no Facebook, o “doutor” Fernando Sanchis se apresentava como defensor da ética e ativo militante contra a corrupção. No cartão de apresentação entregue a seus pacientes, ele inclusive pregou abertamente o voto contra a “petralha” Dilma. Agora, ele poderá ser acusado de corrupção e até ser preso por sua ligação com a “máfia das próteses”. O episódio só confirmaria que os corruptos costumam se fantasiar de moralistas para esconder as suas sujeiras! O triste é que muita gente boa – inclusive médicos – acaba sendo manipulada por esta gente inescrupulosa e hipócrita.

Texto replicado: CARTA MAIOR

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

FELIZ ANO NOVO ! O BRASIL NÃO É FEITO SÓ DE LADRÕES.

(Jornal do Brasil) - Inaugura-se, nesta quinta-feira, novo ano do Calendário Gregoriano, o de número 2015 após o nascimento de Jesus Cristo, 515, depois do Descobrimento, 193, da Independência, e 125, da Proclamação da República.
Tais referências cronológicas ajudam a lembrar que nem o mundo, nem o Brasil, foram feitos em um dia, e que estamos aqui como parte de longo processo histórico que flui em velocidade e forma muitíssimo diferentes daquelas que podem ser apreendidas e entendidas, no plano individual, pela maioria dos cidadãos brasileiros.
Ao longo de todo esse tempo, e mesmo antes do nascimento de Cristo, já existíamos, lutávamos, travávamos batalhas, construíamos barcos e pirâmides, cidades e templos, nações e impérios, observávamos as estrelas, o cair da chuva, o movimento do Sol e da Lua sobre nossas cabeças, e o crescimento das plantas e dos animais.
Em que ponto estamos de nossa História ?
Nesta passagem de ano, somos 200 milhões de brasileiros, que, em sua imensa maioria, trabalham, estudam, plantam, criam, empreendem, realizam, todos os dias.
Nos últimos anos, voltamos a construir navios, hidrelétricas, refinarias, aeroportos, ferrovias, portos, rodovias, hidrovias, e a fazer coisas que nunca fizemos antes, como submarinos - até mesmo atômicos - ou trens de levitação magnética.
Desde 2002, a safra agrícola duplicou - vai bater novo recorde este ano - e a produção de automóveis, triplicou.
Há 12 anos, com 500 bilhões de dólares de PIB, devíamos 40 bilhões de dólares ao FMI, tínhamos uma dívida líquida de mais de 50%, e éramos a décima-quarta economia do mundo.
Hoje, com 2 trilhões e 300 bilhões de dólares de PIB, e 370 bilhões de dólares em reservas monetárias, somos a sétima maior economia do mundo. Com menos de 6% de desemprego, temos uma dívida líquida de 33%, e um salário mínimo, em dólares, mais de três vezes superior ao que tínhamos naquele momento.
De onde vieram essas conquistas?
Do suor, da persistência, do talento e da criatividade de milhões de brasileiros. E, sobretudo, da confiança que temos em nós mesmos, no nosso trabalho e determinação, e no nosso país.
Não podemos nos iludir.
Não estamos sozinhos neste mundo. Competimos com outras grandes nações, que conosco dividem as 10 primeiras posições da economia mundial, por recursos, mercados, influência política e econômica, em escala global.
Não são poucos os países e lideranças externas, que torcem para que nossa nação sucumba, esmoreça, perca o rumo e a confiança, e se entregue, totalmente, a países e regiões do mundo que sempre nos exploraram no passado - e ainda continuam a fazê-lo - e que adorariam ver diminuída a projeção do Brasil sobre áreas em que temos forte influência geopolítica, como a África e a América Latina. 
Nosso espaço neste planeta, nosso lugar na História, foi conquistado com suor e sangue, por antepassados conhecidos e anônimos, entre outras muitas batalhas, nas lutas coloniais contra portugueses, holandeses, espanhóis e franceses; na Inconfidência Mineira, e nas revoltas que a precederam como a dos Beckman e a de Filipe dos Santos; nas Conjurações Baiana e Carioca, na Revolução Pernambucana; na Revolta dos Malês e no Quilombo de Palmares; na Guerra de Independência até a expulsão das tropas lusitanas; nas Entradas e Bandeiras, com a Conquista do Oeste, da qual tomaram parte também Rondon, Getúlio e Juscelino Kubitscheck; na luta pela Liberdade e a Democracia nos campos de batalha da Europa, na Segunda Guerra Mundial.
As passagens de um ano para outro, deveriam servir para isso: refletir sobre o que somos, e reverenciar patriotas do passado e do presente.
Brasileiros como os que estão trabalhando, neste momento, na selva amazônica, construindo algumas das maiores hidrelétricas do mundo, como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio; como os que vão passar o réveillon em clareiras no meio da floresta, longe de suas famílias, instalando torres de linhas de alta tensão de transmissão de eletricidade de centenas de quilômetros de extensão; ou os que estão trabalhando, a dezenas de metros de altura, em nossas praias e montanhas, montando ou dando manutenção em geradores eólicos; ou os que estão construindo gigantescas plataformas de petróleo com capacidade de exploração de 120.000 barris por dia, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, como as 9 que foram instaladas este ano; ou os que estão construindo novas refinarias e complexos petroquímicos, como a RENEST e o COMPERJ, em Pernambuco e no Rio de Janeiro; ou os que estão trabalhando na ampliação e reforma de portos, como os de Fortaleza, Natal, Salvador, Santos, Recife, ou no término da construção do Superporto do Açu, no Rio de Janeiro; ou os técnicos, oficiais e engenheiros da iniciativa privada e da Marinha que trabalham em estaleiros, siderúrgicas e fundições, para construir nossos novos submarinos convencionais e atômicos, em Itaguaí; os técnicos da AEB - Agência Espacial Brasileira, e do INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que acabam de lançar, com colegas chineses, o satélite CBERS-4, com 50% de conteúdo totalmente nacional; os que trabalham nas bases de lançamento espacial de Alcântara e Barreira do Inferno; os oficiais e técnicos da Aeronáutica e da Embraer, que se empenham para que o primeiro teste de voo do cargueiro militar KC-390, o maior avião já construído no Brasil, se dê com sucesso e dentro dos prazos, até o início de 2015; os operários da linha de montagem dos novos blindados do Exército, da família Guarani, em Sete Lagoas, Minas Gerais, e os engenheiros do exército que os desenvolveram; os que trabalham na linha de montagem dos novos helicópteros das Forças Armadas, na Helibras, e os oficiais, técnicos e operários da IMBEL, que estão montando nossos novos fuzis de assalto, da família IA-2, em Itajubá; os que produzem novos cultivares de cana, feijão, soja e outros alimentos, nos diferentes laboratórios da EMBRAPA; os que estão produzindo navios com o comprimento de mais de dois campos de futebol, e a altura da Torre de Pisa, como o João Candido, o Dragão do Mar, o Celso Furtado, o Henrique Dias, o Quilombo de Palmares, o José Alencar, em Pernambuco e no Rio de Janeiro; os que estão construindo navios-patrulha para a Marinha do Brasil e para marinhas estrangeiras como a da Namíbia, no Ceará; os engenheiros que desenvolvem mísseis de cruzeiro e o Sistema Astros 2020 na AVIBRAS; os que estão na Suécia, trabalhando, junto à Força Aérea daquele país e da SAAB, no desenvolvimento do futuro caça supersônico da FAB, o Gripen NG BR, e na África do Sul, nas instalações da DENEL, e também no Brasil, na Avibras, na Mectron, e na Opto Eletrônica, no projeto do míssil ar-ar A-Darter, que irá equipá-los; os nossos soldados, marinheiros e aviadores, que estão na selva, na caatinga, no mar territorial, ou voando sobre nossas fronteiras, cumprindo o seu papel de defender o país, que precisam dessas novas armas; os pesquisadores brasileiros das nossas universidades, institutos tecnológicos e empresas privadas, como os que trabalham ITA e no IME, no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, ou no projeto de construção e instalação do nosso novo Acelerador Nacional de Partículas, no Projeto Sirius, em São Paulo; os técnicos e engenheiros da COPPE, que trabalham com a construção do ônibus brasileiro a hidrogênio, com tubinas projetadas para aproveitar as ondas do mar na geração de energia, com a construção da primeira linha nacional de trem a levitação magnética, com o MAGLEV COBRA; nossos estudantes e professores da área de robótica, do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, várias vezes campeões da Robogames, nos Estados Unidos. 
Neste momento, é preciso homenagear esses milhões de compatriotas, afirmando, mostrando e lembrando - e eles sabem e sentem profundamente isso - que o Brasil é muito, mas muito, muitíssimo maior que a corrupção.
É esse sentimento, que eles têm e dividem entre si e suas famílias, que faz com que saíam para trabalhar, com garra e determinação, todos os dias, cheios de orgulho pelo que fazem, e pelo nosso país.
E é por causa dessa certeza, que esses brasileiros estão se unindo e vão se mobilizar, ainda mais, em 2015, para proteger e defender as obras, os projetos e programas em que estão trabalhando, lutando, no Congresso, na Justiça, e junto à opinião pública, para que eles não sejam descontinuados, destruídos, interrompidos, colocando em risco seus empregos, sua carreira, e a sobrevivência de suas famílias.
Eles não têm tempo para ficar teclando na internet, mas sabem que não são bandidos, que não cometeram nenhum crime e que não merecem ser punidos, direta ou indiretamente, por atos dos quais não participaram, assim como a Nação não pode ser punida pelos mesmos motivos.
Eles têm a mais absoluta certeza de que a verdadeira face do Brasil pode ser vista nesses projetos e empresas - e no trabalho de cada um deles - e não na corrupção, que se perpetua há anos, praticada por uma ínfima e sedenta minoria. E intuem que, às vezes, na História, a Pátria consegue estabelecer seus próprios objetivos, e estes conseguem se sobrepor aos interesses de grupos e segmentos daquele momento, estejam estes na oposição ou no governo.

Texto original: MAURO SATAYANA