domingo, 30 de novembro de 2014

O socialismo está em crise? E o capitalismo?

Se a construção prática do socialismo enfrentou problemas, o que dizer dos resultados apresentados pelo capitalismo? Como anda a África, por exemplo?

Wadih Damous (*)

A queda do Muro de Berlim e a extinção do bloco socialista na Europa do Leste fizeram a alegria dos defensores do capitalismo. Houve até quem, como Francis Fukuyama, decretasse o fim da história: a partir dali, afirmava ele, não haveria mais solavancos. As coisas aconteceriam sem mudanças radicais na sociedade.
Fukuyama não foi o primeiro a vaticinar o caráter perene de uma determinada situação de hegemonia. O Império Romano já falava nisso. Vindo mais para perto no tempo, poderia ser lembrado também o “Reich dos Mil Anos”, apregoado pelos próceres do nazismo, e que, em vez de mil, mal durou 15 anos...

De qualquer forma – é preciso reconhecer – as experiências socialistas enfrentaram percalços para transformar em realidade os sonhos de milhões de lutadores sociais que as defenderam ao longo dos últimos cento e poucos anos.

Essas dificuldades têm que ser objeto de estudo. A compreensão de suas razões será importante para a construção do futuro.

Questões relacionadas com a democracia e o desenvolvimento da produtividade do trabalho, e das forças produtivas em geral, estão a clamar por respostas. Ao não serem resolvidas, empurraram aquelas sociedades para uma excessiva estatização e uma burocratização que criou camadas privilegiadas e parasitárias – o que lhes foi fatal.

Mas, seria o caso de, por isso, se abdicar do socialismo, de se jogar fora a criança juntamente com a água da banheira?

Penso que não.

Essas dificuldades têm que ser vistas como desafios a serem vencidos para os que não têm o sistema capitalista como solução para os problemas da humanidade.

Por isso, é preciso travar o debate ideológico. E, se a construção prática do socialismo enfrentou problemas, o que dizer dos resultados apresentados pelo capitalismo? Como anda a África, onde, em pleno século 21, milhões de seres humanos são desnutridos e morrem de fome? O que o capitalismo trouxe para essas pessoas.

Mas, deixemos de lado a África - continente que, ainda hoje, enfrenta as consequências da escravidão, que retirou durante mais de três séculos sua força de trabalho mais qualificada. Vejamos o que o capitalismo oferece aos cidadãos na maior potência econômica da história.

Como anda a assistência de saúde nos Estados Unidos? Por incrível que pareça, lá não existe sequer um sistema universal de saúde, algo correspondente ao nosso SUS (mesmo com os problemas que o SUS possa ter). Quem não tem plano de saúde privado está arriscado a morrer diante de um hospital sem ser atendido. Isso é civilização?

Aos incrédulos, eu recomendaria que assistissem ao filme “Sicko”, realizado em 2007 pelo cineasta americano Michael Moore, que mostra o quão excludente é o sistema de saúde nos Estados Unidos.

E nem só de fracassos viveram as experiências socialistas até agora existentes. 

Vejamos Cuba, por exemplo: é um país pequeno, sem grandes recursos naturais e que apresenta alguns indicadores sociais de fazer inveja. Seu índice de mortalidade infantil – critério usado pelas Nações Unidas para medir a qualidade de vida, pois, quando se esta se deteriora as crianças são a parcela da população mais vulnerável – é o melhor da América Latina, sendo superior até mesmo ao dos Estados Unidos.

Por outro lado, seu sistema educacional - que abrange todas as crianças do país, sem exceção - tem recebido os maiores prêmios internacionais da Unesco, à frente de todos os demais países da América Latina.

Cuba é um país pobre. Deve ser comparada não às nações do Norte da Europa, mas às da América Central, como Guatemala, Honduras ou República Dominicana. Quem vive melhor? A população desses países, que são capitalistas, ou o povo cubano, apesar de todos os problemas que tem diante de si?

Assim, a discussão sobre os problemas do socialismo tem que ser enfrentada sem subterfúgios. Mas considerar que, devido às dificuldades (algumas delas oriundas do bloqueio e da sabotagem de países capitalistas, diga-se), a solução estaria no capitalismo é um enorme engano.

Que, nestes tempos de confusão ideológica e amesquinhamento de objetivos, as correntes progressistas não percam essa verdade de vista.

(*) Advogado

Texto original: CARTA MAIOR

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Polícia Federal chega no 'Doutor Freitas' e Aécio Neves desparece

Após depoimentos de executivos que fizeram acordos de delação premiada afirmando que existia um 'clube' de empreiteiras que fraudava licitações e pagava propinas, misteriosamente o tucano sumiu da imprensa


Blog da Helena - publicado 21/11/2014 15:22



por Helena Sthephanowitz

De 11 sessões no Senado, Aécio só apareceu em cinco. Precisa aparecer para explicar o que sempre chamou de 'corrupção'


Nas últimas entrevistas, o senador Aécio Neves (PSDB), apareceu histérico tentando pautar desesperadamente a mídia na Operação Lava Jato para atacar o governo Dilma e afastar os holofotes dos tucanos. Parece que vai ser difícil agora.

Depois de muita enrolação, com direito a manchete do tipo: “Doações de investigadas na Lava Jato priorizam PP, PMDB, PT e outros”, para não citar PSDB, apareceu o Doutor Freitas. Notinhas tímidas, em letras miúdas, no rodapé de páginas dos grandes jornais informam que o dono da UTC, Ricardo Pessoa, disse em depoimento à Polícia Federal que tinha contato mais próximo com o arrecadador de campanha do PSDB, o Doutor Freitas, Sérgio de Silva Freitas, ex-executivo do Itaú que atuou na arrecadação de campanhas tucanas em 2010 e 2014 e esteve com o empreiteiro na sede da UTC. Ainda de acordo com o depoimento, objetivo da visita do Doutor Freitas foi receber recursos para a campanha presidencial de Aécio.

Dados da Justiça Eleitoral sobre as eleições de 2014 mostram que a UTC doou R$ 2,5 milhões ao comitê do PSDB para a campanha presidencial e mais R$ 4,1 milhões aos comitês do PSDB em São Paulo e em Minas Gerais, além de R$ 400 mil para outros candidatos tucanos.

Depois dos depoimentos de dois executivos da Toyo Setal que fizeram acordos de delação premiada, e afirmaram que existia um "clube" de empreiteiras que fraudava licitações e pagava propinas, misteriosamente o tucano Aécio Neves sumiu da imprensa.

Aécio é senador até 2018, mas também não é mais visto na casa. De 11 sessões, compareceu apenas em cinco. O ex-candidato tucano precisa aparecer para explicar a arrecadação junto à empreiteira, o que, para ele, sempre foi visto como “escândalo do PT, e outras questões. Como se não bastassem antecedentes tucanos na Operação Castelo de Areia, como se não bastasse a infiltração de corruptos na Petrobras desde o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), como se não bastasse o inquérito que liga o doleiro Alberto Youssef à Cemig, basta observar o caso da construção do palácio de governo de Minas na gestão de Aécio quando foi governador.

Para quem não se lembra, a "grande" obra de Aécio como governador de Minas, além dos dois famosos aecioportos, não foi construir hospitais, nem escolas técnicas, nem campi universitários. Foi um palácio de governo faraônico chamado Cidade Administrativa de Minas, com custo de cerca R$ 2,3 bilhões (R$ 1,7 bi em 2010 corrigido pelo IGP-M). A farra com o dinheiro público ganhou dos mineiros até apelido de Aeciolândia ou Neveslândia.

Além da obra ser praticamente supérflua para um custo tão alto, pois está longe de ser prioridade se comparada com a necessidade de investimento em saúde, educação, moradia e mobilidade urbana, foi feita com uma das mais estranhas licitações da história do Brasil.

O próprio resultado deixou "batom na cueca" escancarado em praça pública, já que os dois prédios iguais foram construídos por dois consórcios diferentes, cada um com três empreiteiras diferentes.
Imagina-se que se um consórcio ganhou um dos prédios com preço menor teria de construir os dois prédios, nada justifica pagar mais caro pelo outro praticamente igual.

Se os preços foram iguais, a caracterização de formação de cartel fica muito evidente e precisa ser investigada. Afinal, por que seis grandes empreiteiras, em uma obra que cada uma teria capacidade de fazer sozinha, precisariam dividir entre elas em vez de cada uma participar da licitação concorrendo com a outra? Difícil de explicar.

O próprio processo licitatório deveria proibir esse tipo de situação pois não existe explicação razoável. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

No final das contas, nove grandes empreiteiras formando três consórcios executaram a obra. Cinco delas estão com diretores presos na Operação Lava Jato, acusados de formação de cartel e corrupção de funcionários públicos.

Em março de 2010 havia uma investigação aberta no Ministério Público de Minas Gerais para apurar esse escândalo. Estamos em 2014 e onde estão os tucanos responsáveis? Todos soltos. A imprensa mineira, que deveria acompanhar o caso, nem toca no assunto de tão tucana que é. E a pergunta do momento é: Onde está Aécio?

Texto relacionado:
Porque Aécio está histérico? 5 empreiteiras da Lavajato dividiram obras da Aéciolândia.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Porque Aécio está histérico? 5 empreiteiras da Lavajato dividiram obras da Aéciolândia.

Nas últimas entrevistas de Aécio Neves (PSDB), ele aparece praticamente histérico tentando pautar a desesperadamente a mídia na operação Lavajato para atacar o governo Dilma, uma forma de afastar os holofotes dos tucanos. Mas vai ser difícil.

Como se não bastasse antecedentes tucanos na Operação Castelo de
Areia, como se não bastasse a infiltração de corruptos na Petrobras vir do governo FHC, como se não bastasse o inquérito que liga Youssef à Cemig, basta olhar o caso da construção do palácio de governo de Minas na gestão de Aécio quando foi governador.

Para quem não se lembra, a "grande" obra de Aécio Neves (PSDB-MG) como governador de Minas, além dos dois famosos aecioportos, não foi construir hospitais, nem
escolas técnicas, nem campus universitários. Foi um palácio de governo faraônico chamado Cidade Administrativa de Minas, cujo custo foi cerca R$ 2,3 bilhões (R$ 1,7 bi em 2010 corrigido pelo IGP-M). A farra com o dinheiro público ganhou dos mineiros até apelido de Aéciolândia ou Neveslândia.

Além da obra ser praticamente supérflua para um custo tão alto, pois está longe de ser prioridade se comparada com a necessidade de investir em saúde, educação, moradia, mobilidade urbana, foi feita com uma das mais estranhas licitações da história do Brasil.

O próprio resultado deixou "batom na cueca" escancarado em praça pública, pois basta observar que dois prédios iguais foram construídos por dois consórcios diferentes, cada um com três empreiteiras diferentes.

Ora, se um Consórcio ganhou um dos prédios com preço menor, teria que construir os dois prédios, pois nada justifica pagar mais caro pelo outro praticamente igual.

Se os preços foram iguais, a caracterização de formação de cartel fica muito evidente e precisa ser investigada. Afinal por que seis grandes empreiteiras, em uma obra que cada uma teria capacidade de fazer sozinha, precisariam dividir entre elas em vez de cada uma participar da licitação concorrendo com a outra? Difícil de explicar.

O próprio processo licitatório deveria proibir esse tipo de situação, pois não existe explicação razoável. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

No final das contas, 9 grandes empreiteiras formando três consórcios, executaram a obra. Cinco delas estão com diretores presos na Operação Lavajato, acusados de formação de cartel e corrupção de funcionários públicos.

Em março de 2010 havia uma investigação aberta no Ministério Público de Minas Gerais para apurar esse escândalo. Estamos em 2014 e onde estão os tucanos responsáveis? Todos soltos. A imprensa mineira, que deveria acompanhar o caso, nem toca no assunto de tão tucana que é.
 

Texto Original: BLOG DO SARAIVA

sábado, 15 de novembro de 2014

Empreiteiras da Lava-Jato atuaram no cartel do Metrô de SP



O delegado Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, estreou na tevê na edição do Jornal Nacional de sexta-feira 14, falando sobre as prisões de executivos de empreiteiras denunciadas pelo doleiro Alberto Yousseff no âmbito do acordo de delação premiada da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.


Diz a locução de Willian Bonner:

“O delegado que conduz as investigações na Polícia Federal diz que há indícios consistentes de vários crimes, como formação de quadrilha, cartel, corrupção, fraude em licitações e lavagem de dinheiro”

De Paula, um dia antes, tornara-se conhecido nacionalmente. Matéria do Jornal O Estado De São Paulo arrolou esse delegado como membro de um grupo de delegados que insulta Dilma Rousseff e Lula no Facebook e faz proselitismo político-partidário em favor do ex-candidato a presidente Aécio Neves.

Abaixo, trecho da matéria do Estadão sobre delegados anti-Dilma da PF


A matéria do Jornal Nacional, além de dar voz aos autoproclamados inimigos políticos de Dilma, Lula e do PT, trata de acusar o partido de estar institucionalmente envolvido nos crimes.


A matéria, porém, poderia ter lembrado que essas empreiteiras que tiveram seus executivos presos também estão envolvidas em outros escândalos envolvendo outros partidos, com destaque para o PSDB.

Empresas citadas na operação Lava Jato são conhecidas como “As quatro irmãs”. São elas Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez e prestam serviços também para governos do PSDB.

A Odebrecht, entre outras, foi alvo de denúncia do Ministério Público por suspeita de formação de cartel em São Paulo para a construção da Linha 5 do Metrô.

Em 2012, o Ministério Público do Estado de São Paulo ofereceu denúncia formal à Justiça contra 14 representantes de empresas que compõem o consórcio vencedor da licitação para a construção da Linha 5 – Lilás, do Metrô.

A denúncia foi formulada pelo promotor de Justiça Marcelo Batlouni Mendroni, do Grupo de Atuação Especial de Repressão à Formação de Cartel e à Lavagem de Dinheiro e de Recuperação de Ativos (GEDEC).

Foram denunciados, entre outros, executivos da Construtora Norberto Odebrecht Brasil S/A, da Construtora OAS Ltda e da Construtora Queiroz Galvão S/A.

De acordo com a denúncia, os 14 envolvidos dividiram entre as empresas que representavam os contratos dos trechos de 3 a 8 da linha 5 do Metrô, direcionando a licitação da obra. Para o Ministério Público, eles sabiam previamente qual empresa seria a vencedora de cada um dos trechos em licitação porque combinaram o preço que seria apresentado por cada concorrente do grupo.

O jornal Folha de S. Paulo, naquele ano, publicou reportagem demonstrando que já se sabia, quatro meses antes do edital, quais os consórcios e empresas seriam vencedoras da licitação, registrando em cartório os nomes dos vencedores muito antes de proclamado o resultado da licitação.

Apesar de a mídia estar tentando vender ao país que a atuação criminosa dessas empresas teve início “em 2003” exclusivamente com o governo Lula, todos sabem que esse tipo de atuação corruptora de empreiteiras sempre existiu.

A diferença, hoje, após a chegada do PT ao poder, é que a corrupção praticada desde sempre por empreiteiras está sendo investigada sem tréguas.

Aliás, surpreendeu-se quem quis com as prisões de corruptores na última sexta-feira. Logo após o segundo turno das eleições deste ano, este Blog já vinha avisando que os corruptores entrariam na roda.

Dois dias após o segundo turno (28/10), esta página já explicava O que Dilma quis dizer com “Não vai ficar pedra sobre pedra” durante entrevista que tinha acabado de conceder ao Jornal Nacional.


Apesar da tentativa de exploração política por parte da mídia e do PSDB, é mais do que positivo que a Operação Lava Jato esteja expondo à luz do dia os métodos de empresas que cresceram e se tornaram as maiores do mundo corrompendo políticos e agentes públicos vinculados a TODOS os partidos.

Por conta disso, apesar de a mídia estar tentando vender a ideia de que essas empresas só começaram a fazer negociatas com empresas públicas ligadas ao governo do PT, o fato é que será muito difícil impedir que venham à luz negócios nebulosos dessas empreiteiras com governos de partidos de oposição como os de São Paulo e de Minas Gerais.

Vários colunistas da grande mídia estão achando que Dilma, Lula e o PT serão prejudicados por um nível de combate à corrupção que jamais existiu no país, mas estão redondamente enganados.

Este Blog afiança aos seus leitores que, nos próximos meses, sobretudo após as festas de fim de ano, a presidente da República e seu antecessor começarão a entrar para a história como os únicos governantes que abriram a caixa-preta da corrupção institucionalizada que vige neste país desde sempre. Quem viver, verá.

Texto original: BLOG DA CIDADANIA

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Os encontros de Urariano Mota com patroas e empregadas domésticas



As empregadas e a escravidão

10/11/2014 15:00

Por Urariano Mota, de Recife, no Correio do Brasil

Por caminhos tortos, Joaquim Nabuco teve uma das suas iluminações quando escreveu: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”.

Sim, por caminhos tortos, porque depois de uma frase tão magnífica, de gênio do futuro, Joaquim Nabuco sem pausa continuou, num encanto que esconde a crueldade:

“Ela (a escravidão) espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor…”.

Penso na primeira frase de Nabuco, a da escravidão como característica do Brasil, depois que o Congresso deu um primeiro passo para a superação da herança maldita.

Não quero falar aqui sobre as conquistas legais para as empregadas domésticas, da nova lei sobre a qual os jornais tanto falaram como um aviso: “patroas, cuidado, domésticas agora têm direitos”.

Falo e penso nas empregadas que vi e tenho visto no Recife e em São Paulo.

No aeroporto de Guarulhos eu vi Danielle Winits, a famosa atriz da Globo, muito envolvida com o seu notebook, concentradíssima, enquanto o filhinho de cabelos louros berrava.

Para quê? A sua empregada, vestida em odioso e engomado uniforme, aquele que anuncia “sou de outra classe”, cuidava para que a perdida beleza da atriz não fosse importunada.

Tão natural… os fãs de telenovelas não viam nada de mais na mucama no aeroporto, pois faziam gracinhas para o bobinho lindinho.

Em outra ocasião, numa terça-feira de carnaval à noite, vi no Recife uma jovem à minha frente, empenhada em ver a passagem de um maracatu.

Tão africano, não é?

Junto a ela uma senhora – desta vez sem uniforme, mas carregando no rosto e modos a servidão – abrigava nos braços um bebê.

Os tambores, as fantasias, eram de matar qualquer atenção dirigida à criança, que afinal estava bem cuidada, sob uma corda invisível que amarrava a empregada.

Então eu, no limite da raiva, oferecei o meu lugar à sua escrava sobrevivente, com a frase: “a senhora, por favor, venha com o seu filho aqui para a frente”.

A empregada quis se explicar, coitada, morta de vergonha, enquanto a doce mamãe não entendia o chamamento irônico, pois me olhava como se eu fosse um marciano.

Espantada, parecia me dizer: “como o meu filho pode ser dessa aí?”.

O desconhecimento de direitos elementares às empregadas domésticas, como privacidade, respeito, a falta de atenção para ver nelas uma pessoa igual aos patrões, creio que sobreviverá até mesmo à nova lei.

É histórico no Brasil, atravessa gerações e atinge até mesmo os mais jovens e pessoas que se declaram à esquerda.

É como se estivesse no sangue, como se fosse genético, de um caráter irreprimível.

Até antes delas vão a democracia e a igualdade.

A partir delas é outra história.

Quantas vezes vemos nos restaurantes jovens casais com suas lindas crias, tendo ao lado as escravas, que nem sequer têm direito a provar da bebida e da comida?

Isso nos domingos e feriados, pois esses são os dias das patroazinhas se divertirem.

É justo, não é?

O feminismo se faz para que mulheres sejam cidadãs, mas a cidadania só alcança os iguais, é claro.

Em todas as situações desconfortáveis, se ousamos estranhar, ou agir com pelo menos um olhar atravessado para essa infâmia, recebemos a resposta de que as domésticas são pessoas da família.

Parentes fora do sangue, apenas separadas por deveres, notamos.

É o que se pode chamar de uma opressão disfarçada em laços afetivos.

A ex-escrava é considerada como um bem amoroso, íntimo, mas que por ser da casa come na cozinha e se deita entre as galinhas do quintal.

O que, afinal, é mais limpo que se deitar com os porcos no chiqueiro.

Não estranhem, porque não exagero.

Não faz muito tempo no Recife era assim. E por que estranhar esse tratamento?

Olhem os grandes e largos e luxuosos apartamentos do Rio e de São Paulo, abram os olhos para os minúsculos quartinhos de empregadas, entrem nos seus banheiros, que Millôr dizia serem a prova de que no Brasil empregadas não têm sexo no WC.

Não posso concluir sem observar que os pobres copiam os ricos, e que o tratamento dado às domésticas se estende em democracia para todas as classes sociais.

Menos para as empregadas, é claro. “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”, dizia Nabuco.

Urariano Mota, escritor e jornalista. Autor do romance Soledad no Recife, sobre o assassinato pela ditadura brasileira da militante paraguaia Soledad Barret, grávida, depois de traída e denunciada por seu próprio amante o Cabo Anselmo. Escreveu também O filho renegado de Deus e seu livro mais recente é o Dicionário Amoroso do Recife. Seu primeiro livro foi Os Corações Futuristas, um romance na época do ditador Garrastazu Médici. Na juventude publicou artigos, contos e crônicas nos jornais Movimento e Opinião.

Direto da Redação é um fórum de debates, do qual participam jornalistas de opiniões diferentes, dentro do espírito de democracia plural, editado, sem censura, pelo jornalista Rui Martins.

Texto original: VI O MUNDO

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Carniceiros da direita são ameaça real

A oposição de direita se divide, hoje, entre duas alas: os bacharéis e os carniceiros. Vale a pena observar como funciona sua dinâmica.

Breno Altman

Ontem à noite (11), o comitê central do movimento pelo impeachment da presidente Dilma se reuniu através de teleconferência, com livre acesso ao público. Mais de cinco mil pessoas acompanharam, durante duas horas, o estranho debate.

A mesa era chefiada por um músico encantado em ser líder de massas e abençoada por um astrólogo que se arrisca como filósofo.

Lobão e Olavo de Carvalho encarnavam estes agitadores da fuzarca.

Eu morri de rir. Uma comédia. Caricaturas do volume-morto da política. Mistura de saudosismo da ditadura com fundamentalismo cristão, em uma versão patética.
Mas engana-se quem os achar inexpressivos ou inofensivos.

No dia 15 de novembro, a turma vai testar seus músculos mais uma vez. Convocaram outra jornada de mobilização.

Há um pedaço doente da sociedade brasileira, que progressivamente se deixa arrastar por narrativas como a desta gente.

Vale a pena observar como funciona sua dinâmica.

A oposição de direita se divide, hoje, entre duas alas: os bacharéis e os carniceiros.

Os bacharéis se organizam em partidos institucionais, disputam eleições, atuam prioritariamente através da imprensa e do parlamento.

Da velha tradição udenista, pelejam pelos interesses da oligarquia sempre em nome da democracia.

Tentam preservar modos civilizados, ainda que hipocritamente. São urubus atrás de carniça, mas não matam suas vítimas.

Esta é a tarefa dos carniceiros.

E são os carniceiros que estão tentando ocupar as ruas do país desde o término das eleições presidenciais.

Eles denunciam fraude eleitoral. Clamam pelo impeachment da presidente.

Demandam a expulsão do PT da vida pública. Alguns se esgoelam por intervenção militar contra o governo de esquerda.

Nas redes sociais, esta patota chega a algumas centenas de milhares. Apenas uma pequena porção, no entanto, coloca o pé no asfalto para apoiar as sandices bradadas por seus gurus.

Os carniceiros fazem parte do ecossistema conservador. Há mais de dez anos estão integrados ao bloco político liderado pelo PSDB.

São sua banda de música e tropa de choque. Andavam escondidos, agora ganharam coragem para mostrar as garras em sociedade.

Os bacharéis se sentem, de quando em quando, incomodados com sua presença. Fedem a mofo. Mas os alimentam diuturnamente.

Bacharéis e carniceiros, aliás, estão sempre a dançar um minueto.

Os discursos e entrevistas dos tucanos contra o resultado eleitoral ou para desestabilizar o governo são cantigas que animam os carniceiros e os deixam à vontade para desfilar contra a democracia.

A simbiose entre ambos setores atingiu seu auge no segundo turno das eleições presidenciais.

Os bacharéis ficaram contentes por, finalmente, terem algo parecido com uma militância tucana de massa. E os carniceiros festejaram que podiam voltar ao salão de baile da aristocracia política.

Mas não é apenas o PSDB e seus aliados que servem de estufa para esta turma.

Os carniceiros encontram cada vez mais espaço na velha mídia. Sua principal representação político-cultural é um punhado de articulistas que organizam a narrativa e o ideário do reacionarismo.

As correntes de esquerda, particularmente o PT, achavam que o melhor caminho era trata-los como loucos e desprezá-los.

Vamos combinar que não foi uma boa solução.

Jamais os valores do conservadorismo mais retrógado – racismo, preconceito social, discriminação regional, homofobia, machismo, individualismo – circularam com tanta desenvoltura no Brasil pós-ditadura.

O fato é que os demônios morais e as ideias político-econômicas dos carniceiros ganharam audiência nos últimos anos. Em parte, porque era do interesse dos bacharéis, por ser funcional a emergência de frações reacionárias mais aguerridas, capazes de mobilizar fatias das camadas médias.

Mas isto ocorreu também porque o petismo, para evitar o mau humor institucional e empresarial, preferiu cultura de governo baseada na baixa intensidade de enfrentamento político-ideológico.

Os carniceiros se sentiram livres, beneficiados pelo acolhimento dos bacharéis e a displicência da esquerda.

O pensamento da ultradireita, antes repugnado e inadmissível mesmo em boa parte dos meios conservadores de comunicação, reconquistou tribunas e abriu novas frentes de influência.

Seus defensores parecem ser ridículos, e efetivamente o são. Mas não foram poucos os palhaços que, de riso em riso, ganharam força para quebrar a coluna vertebral de regimes constitucionais.

A propósito, até quando as forças progressistas, a começar pelo PT, deixarão os carniceiros, protegidos pelos bacharéis, com a iniciativa de tomar as ruas que pertencem à democracia?

(*) Publicado originalmente no Opera Mundi.

Créditos da foto: Opera Mundi

Replicado: CARTA MAIOR

sábado, 8 de novembro de 2014

Bolivarianismo norte-americano

Estadunidenses foram às urnas para escolher deputados, senadores e governadores e aproveitaram para definir um amplo conjunto de leis através de referendos

Vinicius Wu (*)

Em meio à onda de desinformação e mistificação que tem caracterizado os debates a respeito da proposta de plebiscito sobre a Reforma Política e do Decreto Presidencial 8243 - que insitui a Política Nacional de Participação - vale pena darmos um giro até as eleições legislativas norte-americanas, ocorridas na ultima terça-feira. A menos que consideremos os EUA um exemplo de república bolivariana, voltaremos com a certeza de que o que temos visto por aqui não é nada além de histerismo ideológico demofobico ou, simplesmente, desonestidade intelectual.

Os americanos foram às urnas para escolher deputados, senadores e governadores e aproveitaram para definir um amplo conjunto de Leis estaduais, através de referendos. Foram debatidas 125 propostas de leis, versando sobre os mais diversos temas, que vão desde a liberação do uso recreacional da maconha até a definição de regras e limites à prática do aborto.

Questões polêmicas puderam ser resolvidas através de consulta direta à população, sem que os congressistas se sentissem usurpados de seu direito de legislar. A capital Washington aprovou, por exemplo, a legalização da posse e o cultivo pessoal de maconha com 69% de votos favoráveis à medida. Estados como o conservador Alasca também aprovaram leis semelhantes.

Em algumas localidades, até mesmo políticas públicas na área da educação foram submetidas ao voto popular. No Arkansas, em Nebraska e em Dakota do Sul o aumento do salário mínimo foi objeto de votação. Ou seja, temas que dizem respeito tanto à atuação do legislativo quanto do executivo são submetidos à consulta pública nos EUA.

Portanto, a insistência de setores conservadores - no parlamento e na grande mídia - em caracterizar os mecanismos de consulta à população como ataques à democracia representativa, ancorados em uma suposta vocação bolivariana, não se sustenta nem mesmo se tomarmos como referência a democracia norte-americana, com todos os seus limites e conservadorismo.

Consultas periódicas à sociedade, através de plebiscitos, referendos, conselhos e outros mecanismos servem tanto ao fortalecimento das Insituicoes democráticas, através do reforço de sua legitimidade, quanto à valorização da cidadania, convocada a opinar sobre as grandes questões que dizem respeito a vida em comunidade. Em diversos países, consultas públicas fazem parte do cotidiano de seus regimes democráticos e cumprem um papel legitimador indispensável à vitalidade dos mesmos.

A sociedade brasileira clama por medidas concretas que sejam capazes de inibir a malversação de recursos públicos, além de promover o aumento da transparência em todos os Poderes da República. Não basta realizarmos pequenos ajustes em nosso sistema eleitoral, através de acordos no Congresso Nacional. É preciso realizarmos uma verdadeira refundação de nossas instituições democráticas. E para que isso ocorra podemos, sim, extrair lições de outros modelos de democracia, como o americano. Talvez assim, possamos superar, verdadeiramente, nossa secular tendência em resolver nossos impasses "por cima", bem distante do calor das ruas e da opinião soberana de nosso povo.

(*) Secretário-Geral de Governo do Rio Grande do Sul, coordenador do Gabinete Digital.

Texto original: CARTA MAIOR

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

“Bolivarianos”, EUA fazem 146 consultas públicas

Estados Unidos também são bolivarianos? EUA realizam 146 consultas públicas nesse dia 4
O debate sobre a participação popular está em pauta no Brasil, especialmente após a derrubada, na Câmara dos Deputados, do decreto presidencial que instaura a Política Nacional de Participação Social. A direita e os parlamentares conservadores atacam  a democracia participativa, falando que o decreto instauraria o bolivarianismo no Brasil (?), na tentativa de desqualificar os movimentos sociais e a participação social que vêm sendo implementada no Brasil . Como já mostramos aqui, a direita parece não entender que, na democracia, quanto mais participação do povo, melhor.
É assim também nos Estados Unidos, que realizam nesta terça-feira, 4, eleições para o Parlamento ediversas consultas públicas, plebiscitos e referendos. Em pauta, a reforma da política sobre o uso de drogas, além de procedimentos legais de aborto. O país atingirá o número recorde de 146 consultas públicas em 42 estados norteamericanos.
Longe de se tornar uma ditadura bolivariana, os Estados Unidos  fazem uso dos conselhos populares para decisões em 24 estados da nação. É assim também nas outras grandes democracias consolidadas ao redor do mundo, como é o caso dos plebiscitos na Suécia, ou dos referendos canadenses.
Enquanto isso, no Brasil, que também já passou por importantes momentos de participação social, sendo exemplo mundial, setores da mídia e da oposição ainda se utilizam do antigo discurso da polarização política para evitar a participação do povo nas decisões políticas do país. Sob a eterna ameaça do “golpe comunista” que nunca chegou, a direita se aproxima das vertentes mais reacionárias dos discursos políticos, inflamadas em xenofobia, preconceito e má-informação.
A regulamentação da participação social nas esferas do poder público é constitucional e busca reforçar o que já está determinado no artigo 1, parágrafo único da Constituição Federal de 1988: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. Afinal, quem tem medo de participação popular?
Leia também:

Texto original: VI O MUNDO

terça-feira, 4 de novembro de 2014

WandNews - 62 ª edição

E é com muita alegria e ousadia que trago a sua WandNews, a coluninha querida que vem abarrotada com os piores e o melhores momentos da semana.

Hoje temos a nova safra chorumesca do voleibol brasileiro, Aécio confessando que não merecia ser presidente, o ex-tenente que ameaçou matar Dilma, e um Wando Responde a um seguidor do astrólogo, vlogger e poeta Olavo de Carvalho.

CHORUMINHO

O Troféu Choruminho nunca foi tão disputado. O clima eleitoral foi intoxicado pela estupidez e pelo preconceito, gerando as condições de pressão e temperatura ideais para o florescimento dos nossos choruminhos. Nesse terreno inóspito, os melhores exemplares crescem com vigor e se reproduzem em larga escala, assustando as pessoas com um mínimo de bom senso. 

Campanhas eleitorais no Brasil nunca são tranquilas. Não estamos na Suécia. Ainda há muita pobreza e desigualdade social, os interesses são conflitantes e é natural que os ânimos se acirrem na hora de medir as forças políticas nas urnas. Mas, ao final do sufrágio, é hora de acalmar e desejar boa sorte pros vitoriosos. Afinal de contas, eles governarão para todos. 

Mas, como estamos carecas de saber, os produtores de chorumes não conhecem os limites do bom senso. Principalmente aqueles mais escolarizados, aqueles que se orgulham em ser pagadores de impostos e que criminalizam partidos políticos. O segmento que mais produziu pequenos chorumes nesse ressaca eleitoral foi o voleibol brasileiro. Jogadores da nossa seleção, revoltados com o resultado das urnas, se jogaram nas redes sociais pra destilar seu ódio:


Lucão Saatkamp, que já foi batizado nas redes sociais de Lucão Elétrico, gritou para o mundo que é um pagador de impostos. Ou seja, uma obrigação de todo e qualquer brasileiro é encarada por Lucão como um troféu de honradez. Curioso. Com toda essa cidadania estonteante, o jogador brasileiro xinga todo um partido político e calunia as mães daqueles que se incomodarem. Um sujeito fino.

Mas não foi só o Lucaço. Nalbert, outro grande ídolo do vôlei, ignorou os inúmeros casos de corrupção do partido do seu candidato favorito e ironizou eleitores de Dilma:


Parece que Nalbert inclusive recomeçou as aulas de inglês pra se exilar em algum país de gente honesta. Mas o mais provável é que, tal qual Lobão, o jogador irá desistir. É que ele é beneficiário de um projeto do Banco do Brasil que distribui R$1,5 milhão a atletas e ex-atletas. Ou seja, Nalbert recebe uma bolsa mensal do governo.

Depois de uma enxurrada de críticas, Nalbert se arrependeu, deletou os tweets e tentou consertar. De repente, tudo mudou. Depois de associar Dilma e o PT a “assaltantes”, o jogador voltou atrás e resolveu escrever uma mensagem carinhosa para a presidenta, inclusive com uma imagem que relembra o seu passado de jovem guerrilheira:


Então tá beleza, Nalbert. Esqueçamos o passado. O que passou, passou.

Mas os chorumes ofertados pelo voleibol brasileiro ainda não acabaram. A Sheilla Castro, outra orgulhosa pagadora de impostos, incorporou Odete Roittman e fez uma dura ameaça contra o Brasil e os brasileiros:


Ou seja, uma jogadora da seleção brasileira, que representa a nação no exterior, declara publicamente seu repúdio contra uma legítima decisão dos seus conterrâneos e ainda nos ameaça com a sua ausência.

Utilizando clichês do tempo da Guerra Fria, nossa ídola mostra uma enorme dificuldade em conviver com a decisão democrática da maioria do povo, o que chega a ser irônico, já que ela teme que o país vire uma ditadura cubana. 

Mas parece que o nosso vôlei tem salvação. Ana Moser, talvez a maior atleta brasileira do esporte de todos os tempos, apareceu pra colocar os pingos nos is e mostrou estar envergonhadíssima com os colegas:


Depois dessa magnífica enquadrada, Ana Moser reforçou seu pensamento em entrevista ao blog Olímpicos da Folha:

“Vi muitas manifestações pesadas de pessoas mais e menos populares, até que deparei com mensagens de atletas do voleibol e não resisti. Na minha visão o pessoal exagerou, não pensou antes de teclar. ‘Fair play’ acima de qualquer coisa, sem desmerecer o processo democrático. Me senti envergonhada com a falta de bom senso dos meus colegas. Afinal não é competição, é eleição. Não se trata de vestir a camisa de torcida, se toma ideologicamente um lado antes e, depois, são todos do mesmo lado, do lado do Brasil”

E é com essa aula de democracia da Tia Ana Moser que encerramos a seção mais nobre dessa coluna. 

BEIJO NO CORAÇÃO

O beijo no coração dessa semana vai para Aécio Neves, que foi pego de surpresa com a derrota nas urnas. Antes do resultado oficial, amigos e parentes já davam como certa a vitória tucana. É que, segundo informações de um amigo do candidato, Aécio havia aberto larga vantagem sobre Dilma. Uma fonte quente minha disse que até champanhes já haviam sido abertas, agregando valor ao camarote antes da hora. 

Mas nosso beijo no coração do tucano vai por outro motivo. No início do ano, Aécio também já contava com a vitória em Minas Gerais, seu reduto político. E a nossa fonte quente é a VEJA: 


Bom, se Aécio fez essa constatação e até a VEJA repercutiu, quem sou eu pra contrariá-lo? 

Mas faz parte. O negócio agora é juntar os cacos do camarote, reunir forças e se preparar para os debates com Lula em 2018. Quem sabe até lá, ele seja merecedor do cargo. 


IMAGEM WANDALIZADA

O cidadão que protagoniza a imagem de hoje já foi wandalizado pela própria natureza. A coisa é tão assustadora, que a imagem dispensa maiores comentários. Veja o que esse militar de bem, preocupado com o bem estar dos brasileiros e os rumos da nação, compartilhou em seu Facebook: 


É isso mesmo que vocês estão vendo. Um ex-tenente do exército brasileiro vestiu a farda, tirou uma foto segurando uma bala de fuzil, e escreveu que era um presentinho pra presidenta da República. O grande problema é que Renato não é um jogador de vôlei, mas um militar cuja função principal seria a de proteger o Estado brasileiro e a mandatária máxima da nação. 

O Ministério da Defesa jogou panos quentes e disse que não era uma bala de fuzil, mas um simulacro, um inofensivo chaveiro. Disse ainda que o caso não será investigado “por não se tratar de um crime militar”. 

Quer dizer, um ex-militar faz uma clara ameaça de morte à presidenta da República e o governo encara apenas como uma brincadeirinha inocente, um chaveirinho bobo. Com toda essa liberdade de expressão, inclusive para declarar o desejo de matar a presidenta da República, ainda tem gente preocupada com a “ditadura bolivariana” no Brasil. 

WANDO RESPONDE

No post "Os melhores vídeos da ressaca eleitoral", uma groupie do astrólogo, vlogger, poeta e caçador de ursos, Olavo de Carvalho, apareceu para lançar um desafio para este humilde blogueiro:





Olavão é mesmo um gênio. E a PEPSI deve ser petralha.

(Siga-me no Twitter: @JornalismoWando)

TEXTO ORIGINAL:
https://br.noticias.yahoo.com/blogs/jornalismo-wando/wandnews-62-edicao-013430369.html

sábado, 1 de novembro de 2014

Golpe eleitoral midiático da VEJA: Vai ficar tudo por isso mesmo?


Uma semana depois do golpe midiático contra Dilma, é hora de abrir uma
 investigação oficial sobre os indícios criminais de uma ação contra a 
ordem democrática

O golpe eleitoral midiático destinado a interferir na eleição presidencial completa uma semana hoje e cabe perguntar: vai ficar tudo por isso mesmo?

É curioso registrar que estamos diante de um caso que a Polícia Federal e o Ministério Público têm todos os meios de apurar e chegar aos responsáveis sem muita dificuldade, até porque muitos nomes são de conhecimento público. Não é diz-que-diz. Nem simples cortina de fumaça.

Os indícios criminais estão aí, à vista de 140 milhões de eleitores.

Até o momento, temos uma discussão de mercado. Jornalistas debatem o que aconteceu, analistas dão seus palpites, políticos de um lado de outro têm sua opinião. Não basta.

Está na hora daquelas autoridades que falam em nome do Estado brasileiro cumprirem o dever legal de garantir os direitos dos cidadãos de escolher os governantes através de eleições livres e limpas, sem golpes sujos.

O golpe midiático não foi um ato delinquente sem maiores consequências. Trouxe prejuízos inegáveis a candidatura de Dilma Rousseff e poderia, mesmo, ter alterado o resultado da eleição presidencial — a partir de uma denúncia falsa. Mesmo eleita, é inegável que Dilma saiu do pleito com um desfalque de milhões de votos potenciais, subtraídos nas últimas 48 horas. “Se a eleição não fosse no domingo, ela até poderia ter perdido a presidência,” admite um membro do Ministério Público Federal.

Boa parte da investigação já está pronta. Sabemos qual o lance inicial — uma capa da revista VEJA, intitulada “Eles sabiam de tudo”, dizendo que o doleiro Alberto Yousseff dizia que Lula e Dilma estavam a par do esquema de corrupção. Sabemos que, prevendo uma possível ação judicial, a própria revista encarregou-se de esclarecer que não podia provar aquilo que dizia que Yousseff havia dito. O próprio advogado de Yousseff também desmentia o que a revista dizia. Mesmo assim, VEJA foi em frente, espalhando aquilo que confessadamente não poderia sustentar.

Seria divulgado, mais tarde, que a referência a Lula e Dilma, uma suposição (alguma coisa como “é difícil que não soubessem”) sequer fora feita no próprio depoimento a Polícia Federal, mas numa segunda conversa, 48 horas depois.

Se essa hipótese é verdadeira, isto quer dizer que a própria frase da capa, “eles sabiam de tudo”, pode ter sido obtida artificialmente, sem caráter oficial, apenas para que fosse possível produzir uma manchete na véspera da eleição.

Colocada diante de um fato consumado, Dilma foi levada a gravar um pronunciamento para seu programa político. O assunto foi tema no debate da TV Globo, na noite de sexta-feira. Também foi tratado pela Folha de S. Paulo, no dia seguinte, e no Jornal Nacional, menos de doze horas antes da abertura das urnas e dos primeiros votos.

Se antecipou a impressão e distribuição da revista em 24 horas, num esforço para garantir de qualquer maneira que a acusação que não podia ser provada contra Dilma e Lula tivesse impacto sobre os eleitores, a revista também fez um esforço especial de divulgação. No sábado, espalhou out-doors pelo país e foi acusada de não acatar decisão judicial para que fossem retirados — pois o próprio texto do anúncio servia como propaganda negativa contra Dilma. Obrigada a publicar um direito de resposta em seu site, a revista respondeu ao direito de resposta, o que é um desrespeito com a vítima.

No domingo, quando o doleiro Alberto Yousseff foi internado por uma queda de pressão, a pagina falsa de um site de notícias de grande audiência circulou pela internet, dizendo que ele fora assassinato num hospital de Curitiba. No mesmo instante, surgiram cidadãos que gritavam em pontos de circulação que Yousseff fora assassinado numa queima de arquivo, numa campanha de mentira que ajudou a elevar a tensão entre militantes, ativistas e cabos eleitorais de PT e PSDB.

O ministro José Eduardo Cardozo teve de intervir pessoalmente para desmentir a mentira.

Talvez não seja tudo. Olhados em retrospecto, os números risíveis de determinados institutos de opinião, que apontavam para uma vantagem imensa e ridícula de Aécio Neves sobre Dilma, poderiam servir para dar sustentação a trama.

Caso o golpe midiático viesse a ser bem sucedido, produzindo uma incompreensível virada de última hora, estes números de fantasia poderiam ser usados como argumento para se dizer que a candidata do PT já estava em queda e que sua derrota fora antecipada em algumas pesquisas. Verdade? Mentira? Cabe investigar.

Há uma boa notícia neste campo.

No final da tarde de ontem, era possível captar sinais de que uma investigação oficial sobre o golpe midiático pode estar a caminho. Cabe torcer para que isso aconteça e que ela seja feita com toda seriedade que o caso merece.

O eleitor agradece.

Por Paulo Moreita Leite

Texto replicado: TERRA BRASILIS