domingo, 31 de agosto de 2014

As mil faces de Marina Silva

Do ponto de vista dos valores, Marina representa o completo oposto da renovação, possuindo opiniões bastante conservadoras sob qualquer prisma que se olhe.

Guilherme Santos Mello - Brasil Debate(*)


publicado originalmente no Brasil Debate

Se eleita, a candidata do PSB se aliará aos interesses dos bancos, do mercado financeiro e de parcelas do empresariado, enquanto que, no Congresso Nacional, se verá obrigada a amarrar uma aliança que conte ao menos com o PSDB e o PMDB para lhe garantir governabilidade.

Em política, uma imagem vale mais que mil palavras. A construção da imagem política é um processo lento, que exige a repetição contínua de alguns mantras e a obstinação de seus seguidores.

Uma vez construída, a desestruturação da imagem de um partido ou candidato pode se provar dificil de se consumar, mesmo com bons argumentos para isso.

No caso do PT, por exemplo, ao longo de sua história constituíram-se duas fortes imagens vinculadas ao partido: a de guardião da ética na política e a de defensor dos mais pobres e trabalhadores.

A primeira imagem, formada enquanto o PT se encontrava na oposição, foi fortemente abalada por alguns escândalos de corrupção ocorridos nas gestões petistas.

Mesmo assim, até hoje o PT não representa, no imaginário da maior parte da população (excluíndo-se aí parcelas tipicamente anti-petistas), um partido corrupto, apesar do bombardeio midiático incessante contra a agremiação partidária.

Por outro lado, a imagem de partido defensor dos interesses dos pobres e trabalhadores apenas se reforçou com os quase 12 anos de governo petista à frente da Presidência da República.

Projeto próprio

No caso de Marina Silva, a construção de sua imagem é mais recente. Após cumprir mandato no Senado pelo PT e ser ministra do Meio Ambiente de Lula, Marina abandonou o partido em busca da construção de um projeto político próprio.

Sua histórica ligação com as causas ambientais iniciaram a construção da imagem de uma militante verde, que apenas se reforçou com seu ingresso e candidatura federal pelo Partido Verde.

No entanto, a causa ambiental, apesar de possuir forte apelo em parcelas da juventude, é insuficiente para construir uma imagem política forte para gabaritar alguém a assumir o cargo máximo da república.

Novidade política?

Sendo assim, outro fator teve que ser agregado à imagem de Marina ao longo dos últimos anos: a de novidade política que propõe uma ruptura com o sistema político atual.

Com essas duas imagens construídas, Marina Silva parece conquistar parte significava da juventude de classe média alta das grandes cidades, que se preocupam com a questão ambiental e gostariam de ver uma nova ordem política no País.

Neste momento em que Marina mais uma vez se lança à Presidência da República, nos cabe perguntar: qual o conteúdo por trás de sua imagem?

De galho em galho

Pois vejamos: do ponto de vista político, Marina é uma ex-petista que, após sua saída do PT, passou pelo PV, do qual fez uso como plataforma para organizar sua campanha.

Após desavenças no PV, tentou fundar um novo partido a tempo de servir como plataforma eleitoral para seu renovado projeto eleitoral. Não tendo êxito nesta empreitada, aceitou aderir ao PSB para ser capaz de manter seu projeto de poder vivo.

O projeto político de Marina Silva parece ser a ascensão ao poder de Marina Silva, independente de por qual partido isso ocorra.

Nada mais tradicional no jogo de poder da política brasileira do que políticos com projetos pessoais de poder, independentemente de partidos e base social, como o caso aqui descrito.

Além disso, Marina é incapaz de explicar como irá governar sem o apoio dos principais partidos políticos constituídos, se valendo de frases de efeito como “governar com os melhores”, que não possuem aderência à realidade do modelo político brasileiro.

Discurso frágil

O fato de sua campanha ser liderada pela família Bornhausen em Santa Catarina e por Heráclito Fortes no Piauí, ambos conservadores políticos tradicionais ex-integrandes do DEM, demonstra a fragilidade do discurso marinista.

Do ponto de vista econômico, Marina Silva não representa nenhuma novidade no debate público. Suas posições sobre o tema, até o momento, são repetições do discurso liberal de Eduardo Giannetti, seu assessor econômico ligado historicamente ao PSDB.

Em recentes declarações, Gianetti tem repetido para quem quiser ouvir que o projeto econômico de Marina é basicamente o mesmo que o projeto de Aécio Neves, o que ao contrário de representar uma novidade, parece apontar para um retorno ao modelo econômico do governo FHC.

A defesa da redução do papel do Estado, do corte de gastos (inclusive de gastos sociais) e do controle radical da inflação, mesmo que as custas de maior desemprego e de uma recessão, foram plenamente incorporadas no discurso de Marina.

Dúbia e conservadora

Por fim, do ponto de vista dos valores, Marina representa o completo oposto da renovação, possuindo opiniões bastante conservadoras sob qualquer prisma que se analise.

Sua postura sobre aborto, combate às drogas, criminalização da homofobia dentre outros tópicos polêmicos a tornam a candidata mais conservadora do pleito atual no que diz respeito ao debate sobre costumes.

Sua formação evangélica, que lhe serve como base de sustentação política, permite que mantenha em público um discurso dúbio sobre temas polêmicos (como sua proposta de realizar um plebiscito para discutir a questão do aborto), mantendo assim seu eleitorado evangélico ao mesmo tempo em que sinaliza alguma esperança aos eleitores mais progressistas.

Imagem e semelhança

Ao final, o que sobra de novidade em Marina? Apesar de incorporar ao seu discurso a temática ambiental, em todas as outras áreas Marina se parece muito com um político tradicional.

Politicamente, muda de partido com o objetivo de viabilizar seu projeto pessoal de poder. Economicamente, se alinha ao discurso liberal do PSDB, se valendo de ex-tucanos como seus principais assessores.

No quesito dos valores, adota posturas conservadoras e as minimiza posteriormente para agradar algumas parcelas da juventude mais progressista.

Em caso de vitória eleitoral, um possível governo Marina Silva se veria diante do seguinte dilema: garantir governabilidade se apoiando em setores políticos tradicionais dentro e fora do Congresso, o que equivaleria a uma traição aos eleitores que apostaram na ideia de que é possível fazer política de uma forma “nova”; ou honrar seus compromissos com o eleitorado e não ter força política para governar, caindo no risco de paralisia governamental ou mesmo instabilidade institucional.

Caso resolva construir uma aliança com os setores tradicionais,suas recentes declarações e seus apoiadores atuais nos fazem crer que seu governo se aliará aos interesses dos bancos, do mercado financeiro e de parcelas do empresariado, enquanto no Congresso Nacional se verá obrigada a amarrar uma aliança que conte ao menos com o PSDB e o PMDB para lhe garantir governabilidade. O que há de “novo” nessas alianças de poder?

Não seria esse arco de sustentação o retorno à velha coalizão liberal de FHC? Talvez isso explique o recente abondono do ex-presidente ao candidato de seu partido e suas declarações de apoio velado à Marina Silva.

Apesar de seu discurso e suas ações não corresponderem à sua imagem, será difícil a seus adversários desconstruir o mito Marina Silva.

Além de haver pouco tempo de campanha eleitoral, a candidata dificilmente irá assumir posturas muito claras na maior parte do debate, mantendo-se como um “espectro” inatacável. Caso se mantenha bem posicionada nas pesquisas, dificilmente tal espectro irá se materializar em verdadeiros compromissos políticos, seja com os eleitores, seja com outros partidos políticos.

Caso, no entanto, a população passe a duvidar da imagem de Marina, ela terá que se materializar, sair do campo das ideias dúbias e assumir algumas posições concretas. Se isto ocorrer, o “mito” Marina Silva estará seriamente ameaçado, pois suas contradições podem vir à tona e torná-la apenas mais uma dessas boas ideais que se desmancham no ar.

É economista com doutorado pela Unicamp, pesquisador do Cecon-IE/Unicamp e professor da Facamp - See more at: http://brasildebate.com.br/as-mil-faces-de-marina-silva-a-camaleoa/#sthash.6wMHRiek.dpuf

(*) Economista com doutorado pela Unicamp, pesquisador do Cecon-IE/Unicamp e professor da Facamp

Texto original : CARTA MAIOR

sábado, 30 de agosto de 2014

A máscara negra de Marina Silva

No: Terra Brasilis – Postado originalmente em 26 de agosto de 2014

Na campanha presidencial de 2010, candidata pelo partido Verde, Marina Silva deixou passar a versão que era descendente das nações indígenas, e defensora da Amazônia, e viúva de Chico Mendes.



Candidata novamente, hospedeira do PSB, Marina diz que é de um partido inexistente, “repleto de palavras-senha da propaganda das organizações de Soros: “sociedade sustentável”, “sociedade do conhecimento” e “diversidade”.

Usa como slogan a frase final da última entrevista de Eduardo Campos: “Não vou desistir do Brasil”. Que Marina, no troca-troca de partidos, nunca teve ideias próprias.

No papel de viúva, estendeu sua rede entre os caixões de Chico Mendes e Eduardo Campos.


A novidade é que passou a proclamar que será a primeira presidente negra do Brasil, quando vários mestiços já exerceram o cargo. Inclusive dois ciganos – Washington Luiz e Juscelino -, uma minoria étnica entre as mais perseguidas no mundo, notadamente hoje na França, como aconteceu na Alemanha dos fornos de Hitler.

Atriz, Marina representa vários papéis: a doente de malária, a meiga, a santa, a deusa mãe terra Pachamama, a Indira Gandhi no jeito de se vestir, a Jacqueline Kennedy que não chorou no enterro do marido assassinado.









Em Marina, várias personas na busca de adaptação política. Começou no Partido Revolucionário Comunista de José Genoíno, depois de noviça em um convento. Deixou de ser católica e ingressou na Assembleia de Deus. Uma carreira que resultou no seguinte cartazete que circula na internet:

Para cada partido uma máscara nova (persona), em uma campanha que lembra velhos carnavais.

Tanto riso, oh quanta alegria
Mais de mil candidatos na eleição
A viúva está chorando
pelo amor de Chico Mendes
No meio da multidão

Foi bom te ver outra vez
Tá fazendo quatro anos
Foi no eleição que passou
Eu sou aquela candidata
Que te abraçou
Que te beijou, meu eleitor

Na mesma máscara negra
Que esconde o meu rosto
Eu quero matar a saudade
Vou beijar-te agora

Não me leve a mal
Eu era vice
Neste carnaval
virei viúva presidencial

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Por que Marina e Aécio querem a independência do Banco Central?

Não é mera coincidência que as candidaturas de Aécio e Marina incluam a proposta de independência do Banco Central como elemento de destaque.

Paulo Kliass (*)

Ao que tudo indica, ainda não foram suficientes todos os ensinamentos a serem retirados da profundidade da atual crise econômico-financeira internacional, que teve início nos próprios Estados Unidos. Assistimos à falência amplamente reconhecida dos principais fundamentos de natureza teórica e conceitual que dão sustentação ao regime do financismo contemporâneo. Pouco importa, pois o modelo que é considerado um paradigma a ser copiado pelos adeptos da perpetuação da desigualdade é o norte-americano. Não satisfeitos com a trombada da realidade objetiva, ainda assim eles insistem com a restauração da antiga ordem, com a reabilitação do antigo regime.

Ocorre que, para esse pessoal, a incapacidade revelada pela própria crise do mercado em encontrar soluções satisfatórias para os conflitos econômicos pouco importa. O Estado é sempre lento, ineficaz e incompetente. E ponto final! Esse pressuposto vale para os mais variados aspectos da vida social. Desde a oferta de serviços públicos básicos como saúde, educação e previdência. Até a operação de empresas como Petrobrás, Banco do Brasil ou BNDES. E passando por organismos de regulação, como as agências do tipo ANATEL, ANEEL e o Banco Central. É impressionante, mas vira e mexe esse tema volta à baila na agenda da política econômica.

Agora, à medida que avança o debate eleitoral, as candidaturas começam a estabelecer seus limites e revelar suas verdadeiras faces. A questão econômica ganha espaço em razão das dúvidas e incertezas a respeito do que fazer em 2015. E dentre os assuntos preferidos pelos defensores do financismo - sempre a postos! , diga-se de passagem - começa a despontar a tal da independência do Banco Central. Afinal se o “Federal Reserve” (conhecido por Fed, o BC dos Estados Unidos) é mesmo quase independente da Casa Branca, nada mais adequado do que importarmos esse sistema.

As concepções mais conservadoras do fenômeno econômico sempre tentaram emplacar esse tema. Na verdade, trata-se de sua preocupação em como tornar operacional o conceito de “autoridade monetária”. No modelo ideal de funcionamento da economia, algumas variáveis importantes devem ser submetidas a algum tipo de controle. É o caso, por exemplo, da quantidade ofertada de moeda na sociedade e do “preço” dessa mesma mercadoria muito especial - o dinheiro. E que vem a ser a própria taxa de juros, o chamado custo do dinheiro.

Por mais radical que seja o espírito liberal do interlocutor, a maior parte deles ainda aceita a idéia de que a moeda nacional seja um bem cuja responsabilidade é atribuição do Estado. Porém, o próprio sistema capitalista construiu um arcabouço financeiro de tal ordem, que a maior parte da oferta de “moeda” existente na sociedade é criada pelo próprio sistema bancário e demais instituições assemelhadas. O papel moeda tradicional é hoje em dia quase uma curiosidade, uma espécie em extinção. Assim, não basta mais sugerir apenas uma rígida supervisão das rotativas da Casa da Moeda. O controle efetivo sobre os meios de pagamento envolve uma ação mais incisiva da autoridade monetária sobre o universo financeiro.

Por outro lado, a definição da taxa oficial de juros (SELIC, no caso do Brasil de hoje) é também uma função do Banco Central. Ela é usada como referência mínima para a formação das taxas de juros praticadas pelos bancos em suas operações de depósito e de empréstimo. Além disso, é a taxa utilizada para remunerar a dívida pública. O BC pode atuar também no chamado “mercado cambial”, definindo a taxa de câmbio da moeda nacional em sua relação com as dos demais países. Caso deixe esse importante preço de referência ao livre sabor das forças de oferta e demanda, pode ocorrer o fenômeno que tem arrasado a realidade brasileira ao longo dos últimos anos: a sobrevalorização do real e a desindustrialização de nossa economia.

As regras institucionais também atribuem ao BC as funções de órgão regulador e fiscalizador do sistema financeiro. Cabe a ele a definição das condições de concessão de empréstimos e dos limites para a prática das taxas de juros nas operações de crédito. É mais do que sabido a enormidade dos spreads praticados em nossas terras, bem como o absurdo dos níveis das tarifas cobradas pelas instituições em suas relações com a clientela. O chamado “banco dos bancos” deve atuar como uma espécie de xerife do sistema financeiro, defendendo os interesses do conjunto da sociedade contra todo e qualquer tipo de abuso cometido pelos bancos

Pois bem, frente a esse significativo encargo de responsabilidades, nada mais recomendado que a nomeação dos dirigentes dessa instituição seja atribuída à Presidência da República. A indicação de nomes para ocupar essa função ainda passa pela sabatina efetuada pelo Senado Federal, em uma indicação de que o poder legislativo também possa alertar a respeito de algum exagero. No caso brasileiro mais recente, o ex-Presidente Lula contribuiu inclusive para ampliar ainda mais a autonomia existente, ao encaminhar uma Medida Provisória equiparando o cargo ocupado por Henrique Meirelles ao de Ministro da República.

Ocorre que para o financismo esse quadro é pouco; eles querem mais. Não basta a autonomia concedida a um ex-presidente internacional do Bank of Boston, que ficou exatamente 8 anos à frente do BC, atendendo a todos os interesses da banca privada. Um período em que a autoridade monetária governou mais para os bancos e menos para o conjunto da sociedade. Dois mandatos em que as taxas de juros estratosféricas eram definidas pela COPOM sem nenhuma prestação de contas, nem ao governo oe menos ainda à sociedade.

Com o argumento malandro de que o governo pode influenciar “politicamente” na definição da política monetária, o financismo agora pede um pacote completo: deseja a independência do BC. Voltam com a argumentação surrada e mal lavada de que é importante haver “técnicos” não suscetíveis de serem influenciados por quem estiver ocupando o Palácio do Planalto. Mas o presidente do BC deve ser independente de quem, cara pálida? O sonho de consumo da banca é um quadro de dirigentes no comando da autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda que não respondam a ninguém. Ou melhor, que atendam tão somente aos interesses das instituições que deveriam controlar.

Ora, todos sabemos que as decisões e as consequências relativas ao rumo da economia são de natureza absolutamente política. Daí que a responsabilidade por elas deve ser de que tem legitimidade para tanto – o Presidente da República. Não existe isenção ou neutralidade nas decisões de política econômica. Exatamente por sua natureza multidisciplinar, a economia é parte integrante das ciências sociais. Não existe apenas uma alternativa técnica e adequada para cada caminho a se trilhar.

Assim, um desenho institucional que confira independência política e administrativa a seus dirigentes é de uma irresponsabilidade inimaginável. As funções da autoridade monetária são políticas e os responsáveis por elas devem ser passíveis de remoção a qualquer instante. Conceder um mandato com prazo fixo para eles equivale a assinar um cheque em branco para atuarem da forma que bem entenderem. A tecnocracia não tem legitimidade para tanto: ela não foi eleita para nada. Cabe ao dirigente político efetuar a boa escolha de seus assessores de confiança a cada momento. E responder pelos equívocos cometidos.

Não é mera coincidência que as candidaturas de Aécio e Marina incluam este ponto como elemento de destaque. Afinal, os conselheiros econômicos de ambos foram os principais responsáveis pela condução da política econômica no auge do neoliberalismo, durante a gestão de FHC. Estiveram à frente do processo de privatização das empresas estatais, promoveram um importante desmonte do aparelho do Estado, desregulamentaram a economia concedendo todo tipo de facilidades ao chamado “mercado” e aprofundaram a hegemonia do capital financeiro em nosso sistema econômico e social. Agora, ao que tudo indica, pretendem continuar a obra inacabada. Como passaram os últimos 12 anos trabalhando diretamente no interior do financismo, propõem agora a efetivação da independência do BC. Algo como o roteiro de um filme que poderia ter como título

“A volta dos que não foram”.

(*) Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal, e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

Texto original: CARTA MAIOR

domingo, 24 de agosto de 2014

A falácia da terceira via

Com a possibilidade de ir ao segundo turno, Marina terá que se posicionar alinhada ao projeto de centro-direita da oposição ou ao projeto em curso.

José Augusto Valente

Num país como o Brasil, resultado de colonização predatória, arbítrio, violação dos direitos humanos básicos, profundas desigualdades sociais e regionais, não há como falar em terceira via, quando se trata de atacar todos os problemas remanescentes dessa herança histórica.

De um lado, temos os mantenedores do resultado acima mencionado, utilizando a política do “laissez-faire” ou neo-liberal. É o que chamamos de direita, embora eles mesmos se recusem esse rótulo. Afinal, não pega bem. Se consideram de centro. Então tá, centro-direita. São atualmente representados e liderados pelo PSDB.

Do outro lado, temos os que querem mudar o rumo da história, na direção de um país socialista, ou seja, que busque igualdade social e regional, garantia dos direitos humanos, democracia plena com participação social e respeito ao ambiente, com o estado atuando firmemente para garantir os projetos que interessam à maioria, contra os interesses privados da minoria. São representados por vários partidos e movimentos sociais de esquerda e liderados pelo PT.

Uma via, então, é a da manutenção e aprofundamento das desigualdades. A outra, é a de mudanças radicais e eliminação das desigualdades. Onde fica a terceira via neste jogo? Nem tanto ao mar, nem tanto à terra?

Como fundamentação de que é falaciosa essa terceira via, representada por Marina, basta constatar que todos os que hoje estão envolvidos com a sua campanha, inclusive ela mesma, foram do PT ou da base dos governos Lula e Dilma.

O que existe, de fato, é uma candidatura pessoal, que apregoa uma proposta de “terceira via” tentando se vender como dona de três temas: sustentabilidade; relação “republicana” com o Congresso Nacional; e rigidez no combate à corrupção.

Ocorre que pode-se falar tudo do governo Dilma, menos que não tenha atuado firmemente no aspecto “sustentabilidade” e na “rigidez no combate à corrupção”.

Nesse dois itens, será difícil a candidata Marina Silva mostrar que fará mais, pois tudo o que é necessário já está sendo feito e, num próximo artigo, poderei detalhar esse “tudo”. Os programas de rádio e TV de Dilma mostrarão isso com muita fundamentação.

Restou o discurso da relação “republicana” com o Congresso Nacional. Dilma entende que essa relação somente será plena quando o país fizer uma profunda reforma política. O PT inclusive já lançou proposta, que está no site do partido (clique aqui).

Enquanto isso, Marina Silva, em tom messiânico-moralista, diz que governará sem fazer negociações com o Congresso Nacional: ministérios, cargos, emendas, etc.

Discurso falacioso! Isso simplesmente só existe em ditaduras. Mesmo assim, na ditadura militar brasileira, havia negociação e muitas coisas o governo não conseguia impor ao Congresso.

Nos países democráticos, negociação existe o tempo todo. Faz parte do processo. Não é vergonhoso, como tenta vender Marina.

O que hoje não ocorre, e uma radical reforma política poderá prover, é maior representatividade da sociedade no Congresso, especialmente dos debaixo na pirâmide social. É isso e não a existência de uma figura messiânica que fará mudar a relação executivo-legislativo.

Para concluir, entendo que quanto maior for o questionamento às propostas de Marina, tanto no campo social como econômico – e mesmo no ambiental –, mais difícil será para ela mostrar que existe uma terceira via, que tudo o que Dilma está fazendo está errado ou é ineficaz e que fará tudo diferente.

Assim, confrontada, e com a possibilidade de ir ao segundo turno, Marina terá que se posicionar alinhada à primeira via, de centro-direita, ou à segunda via, de esquerda.

A tendência hoje é o alinhamento à primeira alternativa, na medida em que ela tem dado seguidas demonstrações de satisfação pelo apoio da elite econômica e da grande imprensa, que representam o projeto da centro-direita e da direita declarada.

Texto original: CARTA MAIOR

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Dilma aprovou mais leis favoráveis aos trabalhadores do que Lula, diz Diap

Política de aumento real para salário mínimo, lei que amplia aviso prévio para 90 dias e lei que cria certidão de débito trabalhista são alguns exemplos.

Najla Passos

Brasília - O governo da presidenta Dilma Rousseff aprovou mais leis e políticas públicas favoráveis aos interesses dos trabalhadores do que o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: foram pelo menos 14 proposições criando ou recuperando direitos, contra nove do seu antecessor. Quem afirma é o jornalista e analista político Antônio Augusto Queiroz, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o órgão que assessora mais de 900 entidades sindicais dos trabalhadores com o objetivo de transformar em normas legais as reivindicações predominantes, majoritárias e consensuais da classe.

Os dados, segundo ele, contrariam a visão predominante no movimento sindical, de que o governo Lula privilegiou mais os trabalhadores do que sua sucessora. “A percepção do movimento em relação ao governo da presidenta Dilma é um tanto quanto distorcida. Talvez pelo fato dela não ter dialogado diretamente com a mesma frequência que o Lula, deu a impressão de que deixava em segundo plano esses atores importantes”, avalia o diretor do Diap.

Para o analista político, Dilma designou integrantes da sua equipe, com poder de decisão, para dialogar com os trabalhadores e movimentos sociais, especialmente dentre os quadros do Ministério do Trabalho e da Secretaria Geral da Presidência da República. E isso resultou em avanços significativos para a classe. “Nós temos um conjunto de leis em favor dos trabalhadores, tanto quantitativa quanto qualitativamente, muito mais consistente do que no governo Lula, ainda que algumas tenham sido iniciadas no governo dele”, afirma.

Como exemplos concretos, ele cita a Lei 12.382/11, que institui a política de aumento real para o salário mínimo até 2015, e a Lei 12.506/11, que amplia o aviso prévio de 30 para 90 dias. E também a Lei 12.382/11, que cria a Certidão Negativa de Débito Trabalhista. “Essa lei exige que qualquer prestador de serviço ou qualquer empresa que venda produtos ao governo apresente uma certidão negativa de débitos trabalhistas, um salto fabuloso”, esclarece.

A aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 72, a PEC das Domésticas, é outra medida legislativa conquistada pelo governo Dilma que o analista político destaca. “A PEC das Domésticas fecha um ciclo do ponto de vista de corrigir distorções e injustiças da classe trabalhadora. Os trabalhadores do campo e da cidade já tinham os mesmos direitos, mas os domésticos estavam apartados desses direitos”, justifica.

Ele acrescenta, ainda, a PEC 81, que determina a desapropriação, sem qualquer indenização, de propriedades empresas urbanas ou rurais em que se constate a prática de trabalho escravo ou análogo. E comemora a criação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) que matriculou mais de 7,5 milhões em cursos técnicos e de qualificação em mais de 400 áreas do conhecimento. “A criação do Pronatec é um salto extraordinário do ponto de vista de dar condição de empregabilidade a um contingente expressivo de pessoas que, sem essa oportunidade, dificilmente ingressaria no mercado de trabalho”, argumenta.

Para o analista, foi este conjunto de leis aprovadas com empenho do governo da presidenta que permitiu que, mesmo em um quadro de crise econômica mundial, o Brasil conseguisse atingir a marca de 20 milhões de empregos com carteira assinada formalizados nos últimos 12 anos. “Isso significa dar cidadania a um número de trabalhadores que equivale à população do Chile. Não é algo que se possa subestimar”, destaca ele.

Créditos da foto: Agência Brasil

Texto original : CARTA MAIOR

domingo, 17 de agosto de 2014

Onde estão agora os EUA após o veto russo?

Putin move suas peças e impõe um veto às importações de bens perecíveis procedentes de mercados como o da União Eueopeia e dos Estados Unidos.

David Bollero/Público.es

Os Estados Unidos anseiam isolar a Rússia. Ficou muito distante aquela promessa de Bush (pai) a ao Gorvachov de não se mover nem um milímetro ao leste dos milites da OTAN. Clinton abriu uma brecha em 1997 ao fazer novos aliados como Hungria, Polônia ou a República Tcheca. Sete anos mais tarde, somaram-se a eles os antigos países satélites soviéticos (Lituânia, Letônia e Estônia) e, já em 2007, foram seguidos pela Croácia e pela Albânia. A continuação do muro russo da OTAN tem agora como alvo as antigas repúblicas soviéticas, e a Ucrânia exerce papel de protagonista nesta geoestratégia.
Como já é habitual, o papel da União Europeia nesta conjuntura é o de aplaudidor de Obama. Assim, a UE não hesitou, inclusive, em apoiar grupos neonazistas para derrocar o governo anterior ucraniano, que havia sido democraticamente eleito. Posteriormente, Bruxelas também não questionou ao apoiar as sanções econômicas à Rússia. E tudo o que for necessário para estar ao lado do amigo norte-americano.

Agora, Putin move suas peças e impõe um veto às importações de bens perecíveis procedentes de mercados como o da UE e dos EUA. Em Washington, qualificam o impacto de tal medida como “insignificante”. Uma insignificância que, para o mercado norte-americano, supõe uma perda de aproximadamente 813 milhões de euros. Eles têm razão: essa cifra é insignificante comparada aos mais de 5,7 bilhões de euros em perdas que esse veto supõe para a UE.

Onde estão agora os EUA? Por que não apoiam a UE diante deste panorama tão pessimista? E, o mais preocupante, por que os aplaudidores de Bruxelas continuam bajulando a Administração Obama, apesar de serem tratados como sócios de se usar e jogar fora? Com um descaramento grotesco, algumas vozes se atrevem a assegurar que o grande prejudicado com o veto de Putin é o próprio povo russo, que verá como a escassez de alimentos faz os preços subirem e gera problemas de desabastecimento. Um erro.

Não são apenas os produtores russos que verão seus lucros crescerem ao contribuírem em maior medida com o mercado interno. Na América do Sul, alguns já estão esfregando suas mãos com o relevante aumento que suas exportações terá. Estes países têm o ano todo para se fazerem com o mercado russo, ganhando sua confiança a ponto de, uma vez levantado o veto, quem voltará a precisar dos produtores da UE?

Para a Espanha, ainda que Rajoy acredite que o veto seja “uma espora”, para os produtores, representa um revés de 440 milhões de euros... 40 milhões a mais do que o instrumento de reserva da PAC (Política Agrária Comum) para aliviar a situação em toda a Europa. Em outras palavras, os fundos de reserva não alcançam nem 10% de todas as perdas da União, que volta a se mover em ritmo lendo, enquanto os produtores assistem ao estrago de suas colheitas. Talvez estejam preocupados demais contemplando as conquistas de Obama no Iraque...

E como diz o ditado, em águas tumultuadas é que os pescadores ganham... ou os urubus, porque as grandes cadeias de distribuição, supermercados que se colocam como exemplo de modelo empresarial, arrocham os produtores espanhóis um pouco mais o do que o habitual, comprando deles, por poucas moedas, o excedente com o qual se deparam após o veto russo. Em troca, vendem ao mesmo preço. Vamos, que estão fazendo seu agosto à custa de todos.

Lembrem-se da próxima vez que sentirem orgulho por esse empresariado espanhol que encheu os bairros de supermercados: da mesma forma que rouba os peixes dos saharauis, agora se aproveita da desgraça dos agricultores espanhois.

Tradução: Daniella Cambaúva


Texto original : CARTA MAIOR

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Prefeitura de Cláudio: incêndio não queimou documentos

Fogo atingiu galpão da administração da cidade no interior de Minas Gerais onde Aécio Neves construiu um aeroporto no terreno do seu tio avô

por Redação — publicado 14/08/2014 16:02, última modificação 14/08/2014 16:16

Cenas do incêndio na prefeitura de Cláudio- Mina Gerais
Um incêndio atingiu um galpão da prefeitura de Cláudio, interior de Minas Gerais, na segunda-feira 12. Segundo a prefeitura, o fogo começou em um lote vago ao lado de um galpão onde se encontram veículos da prefeitura.

“As chamas chegaram a um cômodo em uma área de 9m² e destruíram algumas sucatas, não mais utilizadas pela Prefeitura (computadores obsoletos e máquina de escrever)”, diz a nota da prefeitura. “Esclareça-se que nenhuma documentação do município sofreu qualquer tipo de dano já que a sala de arquivo faz parte do prédio da administração, a uma distância considerável do local onde o fogo atingiu.”

Na segunda-feira, o G1, site da Rede Globo, noticiou que “as chamas destruíram uma sala onde ficavam arquivos, computadores, materiais de escritório e tecidos.” No dia seguinte, a prefeitura disse que deveria se pronunciar por conta de “informações mentirosas veiculadas por alguns meios de comunicação.” Ainda segundo a prefeitura, o corpo de bombeiros esteve no local, mas o incêndio foi controlado mais cedo por funcionários da prefeitura.

A cidade ganhou atenção no noticiário recente por sediar umaeroporto construído no terreno de um tio avô de Aécio Neves (PSDB), quando este era governador do Estado. A pista foi utilizada várias vezes por Aécio, candidato tucano à Presidência, mesmo sem a autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) para que o local pudesse funcionar.

Aécio nega que tenha ocorrido qualquer irregularidade na construção do terreno. O tucano argumenta que seu tio avô não foi beneficiado, pois ele questiona na Justiça o valor oferecido pelo governo do Estado para desapropriar a terra.

Texto original em: CARTA CAPITAL

terça-feira, 12 de agosto de 2014

A Wikfarsa e a verdadeira ameaça à democracia

O que ameaça a democracia é a capacidade de um veículo de comunicação transformar algo irrelevante em um suposto escândalo nacional.

Vinicius Wu

O episódio da alteração dos perfis de Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardemberg na plataforma colaborativa Wikipédia tem tudo para entrar para a história do jornalismo brasileiro como uma das mais grosseiras e levianas tentativas de manipulação da informação e de criação de factóides, com evidente motivação político-eleitoral. Porém, o mais importante no caso é compreendermos que, ao contrário do que sustentam as supostas "vítimas", não é a edição de seus perfis o que ameaça a democracia, mas sim a capacidade de um veículo de comunicação transformar algo irrelevante em "escândalo" nacional.

A repercussão desproporcional do caso em alguns veículos de imprensa só pode ser explicada pelo contexto eleitoral, onde percebe-se, claramente, a dificuldade dos candidatos oposicionistas em viabilizarem-se, apesar de todo esforço empreendido pelos monopólios de comunicação e pelo setor financeiro. Trata-se de uma das mais inusitadas - e surpreendentes - tentativas de desgaste do atual governo já realizadas pelos grandes veículos de mídia. Seria risível, se não fosse preocupante.

Até o mundo mineral sabe que não há qualquer controle sobre as edições realizadas na Wikipédia e que é muito difícil rastrear toda a rede que serve ao Palácio do Planalto, portanto, é muito provável que o "responsável" pela edição dos perfis jamais seja encontrado. Logo, nunca saberemos o que, de fato, ocorreu.

Talvez isso explique a desfaçatez de Miriam Leitão ao afirmar, em artigo publicado em O Globo, que "alguém deu ordem para que isso fosse executado" e que isso faz parte de"uma política". Fazer afirmações dessa natureza é tão leviano quanto afirmar que a própria jornalista teria feito as alterações, apenas para ganhar notoriedade. Simplesmente não há como provar uma coisa nem outra.

Há muitas questões a serem levantadas no episódio. Por hora, pode-se afirmar qualquer coisa e levantar suspeitas sobre qualquer um! E, a propósito, cabe suscitar algumas questões: Por que tendo sido feita há meses, a edição só foi "denunciada" agora? E por que não supor que um jornalista qualquer, em visita ao Palácio, possa ter feito o "serviço"? Além disso, qual "crime" mesmo teria sido cometido? Alteração de uma plataforma aberta virou crime no Brasil? Afirmar que um jornalista "faz previsões desastrosas" é caluniar alguém? E por que O Globo dedica mais espaço a esse tema do que ao Aeroporto construído na Fazenda do Tio de Aecio? São apenas algumas dúvidas bem pertinentes sobre o caso. Poderíamos estender a lista.

Mas o que, realmente preocupa no caso, é a tentativa de transformar um episódio banal em um escândalo com proporções nacionais. Isso sim é uma ameaça à democracia. Pois, se um veículo de comunicação pode pôr em risco a credibilidade de nossas Instituições democráticas apenas por que um de seus funcionários teve seu perfil alterado numa plataforma que busca, exatamente, a interferência e a colaboração de seus usuários, então temos um risco evidente ao processo democrático. Se essa farsa for bem sucedida - e tiver algum tipo de influência sobre as eleições - não haverá mais limites à manipulação da informação no Brasil. É o retorno ao debate editado de 1989. E isso em plena Era da internet!

Não é razoável que pautas verdadeiramente relevantes para o país sejam ofuscadas por uma sórdida tentativa de manipulação e interferência no processo eleitoral de um grupo de mídia privado. Menos, ainda, é razoável que um veículo de comunicação pretenda impor a uma nação de mais de 190 milhões de cidadãos um debate inócuo sobre um "escândalo" que não passa de uma piada de mau gosto.

Por fim, fica a expectativa de que o episódio acabe como apenas mais uma anedota das disputas eleitorais no Brasil, a exemplo da bolinha de papel de José Serra em 2010. Caso contrário, é melhor estar preparado para a emergência de um Poder absoluto no país, sob a tutela dos monopólios da informação. E como qualquer poder absoluto, este também representará uma séria ameaça à democracia.

(*) Vinicius Wu é secretário-geral do governo do Rio Grande do Sul e coordenador do Gabinete Digital.

Texto original neste endereço: CARTA AMIOR

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A razão do protesto de líderes evangélicos contra Dilma e a favor de Israel

Postado em 07 ago 2014

por : Kiko Nogueira


Há dois motivos principais para a mobilização de lideranças evangélicas desgostosas com a condenação de Dilma à ação de Israel em Gaza. O primeiro: negócios. Em segundo lugar, mas não menos importante, os negócios.

Segundo conta a BBC, perto de oitenta pessoas estiveram no Ministério de Relações Exteriores para uma audiência. A articulação coube ao deputado federal Lincoln Portela, estrela da bancada evangélica.

Há uma aproximação clara entre as igrejas pentecostais e o judaísmo. Isso ficou evidente nas imagens da inauguração do Templo de Salomão. Além do monumento em si, inspirado na obra do filho de Davi, o bispo Edir Macedo tem se trajado com o xale sagrado usado por rabinos e, no cocuruto, está exibindo um solidéu. Sem contar a barba de profeta.

Não é, diga-se, um fenômeno exclusivamente nacional.

Agora, o grande receio destes líderes é que um ruído nas relações diplomáticas atrapalhe o turismo para a chamada Terra Santa.

É um nicho que movimento muito dinheiro. Muito. Todos os anos, denominações religiosas — diretamente ou através de operadoras — vendem pacotes para milhares de fieis que querem estar nos lugares onde Jesus Cristo, segundo a tradição, esteve. Dê um Google e comprove.

Para o governo israelense, é uma receita sempre bem vinda. Em 2013, 3,54 milhões de visitantes estiveram no país, oriundos, em sua maioria, dos EUA, Rússia, Itália, Alemanha, Reino Unido, França e Brasil.

Os cristãos são mais da metade do movimento. O circuito “Maravilhas de Israel” pode sair por 3 mil dólares numa agência.

A reverenda Jane Silva, uma voz ativa pró-israelense, organizadora do encontro no Itamaraty, preside a Associação Cristã de Homens e Mulheres de Negócios e a Comunidade Brasil-Israel.

Em seu site oficial, ficamos sabendo que ela, “ao longo de mais de dez anos, tem sido inexcedível no cumprimento do seu compromisso de servir a Deus, investindo-se na defesa da causa da nação de Israel e do povo judeu, e em divulgar e promover o conhecimento da Terra Santa, possibilitando a centenas de brasileiros todos os anos a realização do sonho de conhecer in loco as Terras Bíblicas”.

O objetivo de sua entidade é “incentivar o turismo em Israel, de modo a ampliar o conhecimento da Bíblia.”

Jane também está montando a terceira edição de um festival gospel por lá. Assíria Nascimento, ex de Pelé, e Cid Moreira estiveram no primeiro, assim como o velho e bom Marco Feliciano — que, aliás, comanda “caravanas” pelo pedaço.

Na falta de pedaços da cruz, os inscritos no festival ganharam um kit com água, terra e óleo.

Texto original neste endereço:
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-razao-do-protesto-de-lideres-evangelicos-contra-dilma-e-a-favor-de-israel/